quinta-feira, 29 de abril de 2010

Para reflexão...



O encontro do pequeno príncipe com o rei solitário

Dialogando o pequeno príncipe solicita ao rei.
- Eu desejava ver um pôr do sol... Fazei-me esse favor. Ordenai ao sol que se ponha.
- Se eu ordenasse ao meu general voar de uma flor a outra como uma borboleta, ou escrever uma tragédia, ou transformar-se em gaivota, e o general não executasse a ordem recebida - ele ou eu estaria errado?
- Vós, respodeu com firmeza o principezinho.
- Exato. É preciso exigir da cada um o que cada um pode dar. A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares ao teu povo que se lance ao mar farão todos uma revolução. Eu tenho direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis. Este mesmo rei queria fazer do princezinho seu súdito, dizendo:- Não partas, eu te faço ministro.
- Ministro de quê?
- Da... da justiça!
- Mas não há ninguém a julgar!
- Tu julgarás a ti mesmo, respondeu o rei. É o mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.

Antoine Saint-Exupéry

"Viver é um rasgar-se e remendar-se..."
Guimarães Rosa

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pessoas


"Existem pessoas como a cana, que mesmo postas na moenda, reduzidas ao bagaço, só sabem dar doçura."

Caio Fernando Abreu

Cândido Portinari










Cândido Torquato Portinari (1903 - 1962)
Cândido Portinari nasceu no dia 29 de dezembro de 1903, numa fazenda de café em Brodósqui, no Estado de São Paulo. Filho de imigrantes italianos, de origem humilde, recebeu apenas a instrução primária e desde criança manifestou sua vocação artística.
Estudou pintura na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 1928 ganhou um prêmio de viagem e partiu para a Europa, renovando sua pintura com o que viu. Em 1935 recebeu premiação pela tela "Café" na mostra anual do Carnegie Institute de Pittsburgh. A partir de então dedicou-se cada vez mais à criação de murais - na sua maioria encomendados pelo governo brasileiro. A produção de Portinari foi muitas vezes comparada a dos muralistas mexicanos, não só quanto ao suporte, mas também pela temática - o interesse pela questão social, a narração eloquente e a monumentalidade. Em suas obras, os retirantes nordestinos, os trabalhadores rurais de membros deformados, os tons de marrom e os de roxo dos campos cultivados, expressam a força da terra. A partir de 1944 passou a abordar também temas de sua infância no interior paulista. Em 1948 sofreu influências abstratas e, na década de 50, pintou a série dos cangaceiros, de cores mais intensas. A viagem que realizou em 1956 a Israel transformou sua pintura. Usou seu traçado firme para concretizar formas mais compactas e agressivas.

É o único artista brasileiro a participar da exposição 50 ANOS DE ARTE MODERNA, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas, em 1958. Como convidado de honra, expõe 39 obras em sala especial na I Bienal de Artes Plásticas da Cidade do México, em 1958. No mesmo ano ainda, expõe em Buenos Aires. Em 1959 expõe na Galeria Wildenstein de Nova York e, juntamente com outros grandes artistas americanos como Tamayo, Cuevas, Matta, Orozco, Rivera, participa da exposição COLEÇÃO DE ARTE INTERAMERICANA, do Museo de Bellas Artes de Caracas.

Em 1954 Portinari apresentou uma grave intoxicação pelo chumbo presente nas tintas que usava. Desobedecendo a ordens médicas, Portinari continua pintando e viajando com frequência para exposições nos EUA, Europa e Israel. No começo de 1962 a prefeitura de Milão convida Portinari para uma grande exposição com 200 telas. Trabalhando freneticamente, o envenenamento de Portinari começa a tomar proporções fatais. No dia seis de fevereiro do mesmo ano, Cândido Portinari morre envenenado pelas tintas que o consagraram.
Portinari pintou quase cinco mil obras, de pequenos esboços a gigantescos murais. Foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.

Um pintor brasileiro talentoso, que retratou em suas telas a nossa cultura.

Violinos velhos tocam música

Um dos meus textos favoritos se chama Desiderata. “Desiderata“ quer dizer “conjunto de coisas que se desejam.“Pois lá está dito, como um desejo: “Aceite com elegância o conselho dos anos, deixando graciosamente para trás os prazeres da juventude.“ O sentido não está explícito. O que eu tirei foi o seguinte: sendo os prazeres sexuais prazeres que o senso comum toma como prazeres da juventude, é preciso que os velhos aceitem com elegância as limitações da velhice, para não se tornarem ridículos: na velhice os prazeres do sexo vão também envelhecendo. Que ridículo Davi, indiferente, nos braços de uma linda jovem...

De fato, os prazeres da velhice não são iguais aos prazeres da juventude. Escrevi, faz muito tempo, sobre um casal de velhos que havia esperado mais de 50 anos para se casar. Morta a mulher do homem, morto o marido da mulher, os viúvos se encontraram para viver, no pouco tempo que lhes restava, o amor que ficara estrangulado. O velho, 79 anos, ressuscitou. A primeira mulher odiava violino. Ele amava violino. Resultado: para evitar ruídos vocais, ele deixou seu violino sobre o guarda-roupas, por mais de cinquenta anos. Largado, as cordas do violino arrebentaram e arrebentadas ficaram... Ah! Que triste metáfora para a alma daquele homem, violino impedido de fazer música... Tomado pelo novo-velhíssimo amor, as cordas da alma se afinaram, o violinista ressuscitou do ataúde em que se encontrava preso, e tratou de reformar o violino que estava em cima do guarda-roupa. (Por vezes um violino é mais potente, sexualmente, que o corpo de uma donzela...) E o violino velho, esquecido dos prazeres da juventude, começou a tocar de novo. Essa metáfora me faz rir de alegria. Será isso? O corpo será um violino e a alma será uma música? Há, nos anais da psicanálise, o relato de uma pessoa que sonhava tocar violino em público – e o sentido do sonho era “masturbar-se em público“. Estou meio esquecido. Se não foi bem assim, peço que meus colegas me corrijam, para benefício dos leitores. O que nos interessa é essa deliciosa relação metafórica entre o instrumento musical e os instrumentos sexuais. Afinal de contas, fazer amor é sempre tocar um dueto. É preciso que os dois toquem para que o dueto soe como deve. E o amor foi enorme, no curto espaço em que durou. O violino não aguentou a intensidade da sonata: despedaçou-se antes que ela chegasse ao fim. O velhinho morreu aos 80 anos. Escrevi uma crônica sobre o acontecido. Pois algum tempo depois, recebo um telefonema de uma mulher desconhecida. Era ela! Por quarenta minutos me relatou com detalhes a alegria do amor que ela e o seu amado haviam vivido. E, ao término da conversa, me disse essa coisa linda que, toda vez que conto, choro de emoção: “Pois é, professor. Na idade da gente não se mexe muito (por favor! Observem o muito!) com as coisas do sexo. A gente vivia de ternura!“

Rubem Alves
O texto citado por Rubem Alves Desiderata é este:
Vá calmamente, entre o barulho e a pressa, e lembre-se da paz que somente existe no silêncio.
Na medida do possível, e sem se atraiçoar, tenha boas relações com todas as pessoas.
Diga a sua verdade quieta e claramente.
Ouça os outros, mesmo os obtusos e ignorantes. Eles também tem uma estória a contar.
Evite as pessoas ruidosas e agressivas. Elas são tormentos para o espírito.
Se você se comparar aos outros você se tornará ora vaidoso, ora amargo, pois há sempre pessoas que lhe são inferiores ou superiores. Goze tanto as suas realizações quanto os seus sonhos.
Mantenha-se interessado naquilo que você faz, por humilde que seja. Aquilo que você faz é algo que você realmente possui, num tempo em que tudo muda sem parar.
Pratique a prudência nos seus assuntos comerciais, pois o mundo está cheio de trapaças. Mas não deixe que isto o faça cego para as virtudes que existem. Muitas pessoas se esforçam por ideais altos. Por toda parte a vida está cheia de heroísmo. Seja você mesmo. Não finja afeição. E nem seja cínico acerca do amor. A despeito da aridez e do desencanto, ele renasce tão teimosamente quanto a tiririca. Aceite com elegância o conselho dos anos, deixando graciosamente para trás os prazeres da juventude. Crie força de espírito para proteger-se na desgraça repentina. Não se aflija, porém, com coisas imaginadas. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.
Tenha uma disciplina saudável, mas seja gentil para consigo mesmo. Você é um filho do universo, tanto quanto as árvores e as estrelas. Você tem o direito de estar aqui. E, quer você saiba disto ou não, o fato é que o universo caminha como deve. Por isto, esteja em paz com Deus, não importa como você pensa que ele é.A despeito da barulhenta confusão da vida, mantenha-se em paz com a sua alma. Com todos os seus enganos, labutas e sonhos não realizados, este continua a ser um belo mundo. Cuide-se. Esforce-se por ser feliz...
(Correio Popular, Caderno C)

Mulher despida


Talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher se despir de verdade - emocionalmente. Nudez pode ter um significado diferente. Muito mais intenso é assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas dores, sua história. É erótico ver uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente. Uma mulher que diz o que pensa, o que sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos defeitos - aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanas, e não bonecas de porcelana. Arrebatador é assistir ao desnudamento de uma mulher em quem sempre se poderá confiar, mesmo que vire ex, mesmo que saiba demais.
Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de jornal, mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior. Mas é o que devemos continuar fazendo. Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos e o que trazemos por dentro.
Não conheço strip-tease mais sedutor.

Martha Medeiros

terça-feira, 27 de abril de 2010

Viva a Diferença



Li ontem este artigo na revista Veja (de 2007), gostei tanto que coloquei aqui no blog. Confira!
A terapeuta de casais diz que o mito de que marido e mulher são metades que se completam só atrapalha o casamento.Terapeuta de casais há mais de trinta anos, a psicóloga paulista Lidia Rosenberg Aratangy, 66 anos, não tem uma receita para o casamento duradouro e feliz. "Adoraria ter", diz, ironizando a altíssima improbabilidade desse conceito. Mas, apoiada em sua vasta experiência de testemunha direta dos labirintos conjugais, amealhou conselhos, opiniões e observações muito práticos e diretos, agora reunidos no livro O Anel que Tu Me Deste – O Casamento no Divã, uma espécie de manual para a preservação do matrimônio duradouro, essa instituição em extinção. Sua experiência, aliás, não é só profissional: Lidia é casada há 44 anos com o engenheiro Paulo Aratangy, 68, com quem tem quatro filhos. "Aprendemos a festejar as nossas diferenças, mesmo as maiores, como o fato de eu ser corintiana e ele torcedor do São Paulo", brinca. Psicóloga, pesquisadora e professora com mais de trinta livros publicados, que, para se desligar dos problemas próprios e alheios, faz balé clássico (uma hora e meia todo dia) e borda – hábito adquirido durante um tratamento de câncer, quinze anos atrás –, Lidia falou a VEJA sobre os desafios da vida em comum.

Veja – A senhora está casada há mais de quarenta anos com a mesma pessoa. Isso ajuda a entender de casamento e relacionamento amoroso?
Lidia – Eu não estou casada com a mesma pessoa e também não sou a mesma pessoa. Tanto eu como ele passamos por mudanças, evoluções e involuções. Em algumas coisas, eu era muito melhor há dez anos. Em outras, sou melhor hoje. Cada mudança traz um risco, mas o congelamento do vínculo é um risco maior. Aquela história de "ela é a outra metade da minha laranja" e "ele é minha cara-metade" não convence, porque duas meias caras podem fazer uma bela cara, duas meias laranjas podem fazer uma bela laranjada, mas duas meias pessoas não fazem um casal. Um casal precisa ter duas pessoas inteiras e diferentes uma da outra. Todo começo de relação amorosa carrega o mito do "fomos feitos um para o outro", e os dois ficam procurando as afinidades e negando as diferenças. Mas para continuar junto o casal precisa ultrapassar essa etapa e começar a reconhecer as diferenças. No meu consultório, quando uma parte do casal diz que a outra está diferente, sempre pergunto se isso é uma queixa ou um elogio. Deveria ser elogio, porque a pessoa está viva e não ficou imobilizada no que era antes.

Veja – Mas como se garante que isso vai acontecer? Não dá para combinar antes.
Lidia – Pois é, se combinasse seria mais fácil. Acaba sendo o não dito. O interdito, o que é proibido dizer e aparece nas entrelinhas. Você espera saber a opinião do outro para saber o que deve achar também. Esse é um dos riscos de uma relação longa. Cada um já sabe exatamente do que o outro gosta, os dois ficam viciados nas mesmas escolhas, nos mesmos restaurantes, nas mesmas conversas, e deixam as coisas no piloto automático. De repente, a relação se flagra repetitiva e enfadonha.

Veja – É possível, no casamento duradouro, marido e mulher não virarem pessoas chatas um para o outro?
Lidia – É, desde que cada um mantenha a própria vida. Ninguém deve abrir mão de todas as coisas de que gostava antes de se casar, para ficar só na estreita faixa dos interesses comuns. As mulheres, em geral, estão mais dispostas a abdicar do que gostam e terminam virando reflexo do marido. No princípio, ele pode até gostar, mas com o tempo vai olhar para o lado e ver a própria imagem. Aí ela vira uma paspalha, sem as qualidades que ele admirava.

Veja – Mas uma certa renúncia não é inevitável?
Lidia – É. Mas a melhor forma de não amargar a vida é: se resolver apostar em algo, aposte com toda a determinação. É muito difícil fazer escolhas como a de acompanhar o marido durante dois anos na Europa, com quatro filhos pequenos, e abrir mão do doutorado. Eu fiz isso e não me arrependi. Mas é preciso investir na escolha feita. Nós, mulheres, ainda temos a mania de valorizar sofrimento e dificuldade. Já vi mulher se queixando porque o marido comprou o presente que ela escolheu. Queria que ele fizesse um esforço maior para surpreendê-la.

Veja – É saudável discutir a relação?
Lidia – Dificilmente. O homem não fica à vontade, porque aprendeu desde pequeno que falar sobre sentimentos é coisa de mulher. Não podemos esquecer que os homens foram educados por mulheres. Aliás, me espanta que eles não usem isso em sua defesa com mais frequência. O filhote humano é mergulhado num caldo de progesterona desde que nasce até pelo menos a adolescência, com mãe, avó, tia, babá, professora. Só tem mulher em volta, e todas falam mais do que deveriam. Enquanto perdurar esse esquema, vamos ter homens com dificuldade de falar sobre sentimentos e mulheres se sentindo vitimizadas, sacrificadas. Depois da briga, ela quer conversar. Ele quer abraçar e transar. Na visão dele, conversar com o "inimigo" vai dar mais briga. Por isso, fazer as pazes, ouvir que a mulher gosta dele, para depois conversar, pode funcionar. Mas discutir a relação, na maioria das vezes, é um monólogo do tipo: "Senta aí que eu preciso te falar umas verdades". Eles correm disso. E fazem muito bem.

Veja – Quem mais procura ajuda no consultório, o homem ou a mulher?
Lidia – Quase sempre é a mulher, e a queixa mais comum é que "ele não fala". Outra queixa muito comum é falta de sexo. Quando o casal chega ao consultório, cada um espera que eu vá dizer que o outro é maluco e precisa de tratamento. Mas, na terapia de casal, o meu papel é o de tradutora e intérprete. Algumas vezes, a terapia serve para que o casal consiga ter uma separação digna.

Veja – Normalmente, o que se ouve no fim de um casamento é que a culpa, no fundo, é dos dois. Não existe culpa de um só?
Lidia – Para começo de conversa: alguém tem de ter culpa? A culpa não é de ninguém. No consultório, desmonto logo isso. Além de quererem que eu diga que o parceiro é louco, os casais que me procuram querem que eu diga de quem é a culpa. Culpa é coisa para onipotente, que tem o poder de fazer a coisa certa e não faz. Para nós, reles mortais, não existe isso. Há responsabilidades, isso sim, e conseguir separar uma coisa da outra é essencial.

Veja – Faz sentido tentar salvar o casamento por causa de filhos?
Lidia – Faz. Se você tem filho, não pode ver o casamento como algo descartável. O casal com filhos cria um vínculo permanente, casado ou não. Se houver uma separação, que ela aconteça com dignidade e cuidado. Agora, dizer que "nós só estamos juntos por causa dos filhos" é desculpa. Se o casal está junto, é porque tem mais coisa, além dos filhos.

Veja – Com todas as transformações do mundo e das sociedades, por que as pessoas continuam se casando?
Lidia – Para romper o véu da solidão. É para isso que a gente quer se casar. A relação amorosa aparece como a possibilidade de fugir do sentimento de solidão. Quando o casamento foi inventado, seu papel era decidir sobre questões de patrimônio e herança. Só a partir de meados do século XX as pessoas começaram a se casar por amor, com a livre escolha dos parceiros. Hoje, a gente se casa para ser feliz. Pena que a expectativa seja atrapalhada por mitos como o do par perfeito, o do diálogo permanente, o da transparência absoluta.

Veja – Transparência não é uma coisa positiva em qualquer tipo de relacionamento?
Lidia – Nós não somos transparentes nem para nós mesmos, como vamos ser para os outros? Ao contar tudo ao parceiro, a pessoa pode ser de uma crueldade absurda. Precisamos reformular o conceito de felicidade. É fundamental lembrar que frustração é parte da bagagem humana, não um desvio de rota. A gente tem de aprender a tolerar frustrações como parte inerente das nossas escolhas. Tem de aprender a tolerar imperfeições. Ser feliz não significa ficar o tempo todo em estado de graça, e sim ter um balanço favorável do momento e enxergar uma possibilidade de futuro.

Veja – Mas dá para resistir à tentação de saber tudo sobre o passado do cônjuge?
Lidia – Se cair nessa tentação, você precisa estar bem preparado para o que vai encontrar. E ainda pode não encontrar nada e deixar o outro mortalmente ferido por sua desconfiança. Só se deve perguntar quando se tem algo a fazer com a resposta. A relação tem de ser avaliada pela forma como a pessoa se sente nela, não pelas caixinhas fechadas.

Veja – Quando a paixão acaba, como fazer para que a relação continue?
Lidia – A paixão não acaba, e ponto final. Ela acaba e volta. É preciso estar atento, porque a paixão depende da surpresa. Por exemplo: há pouco tempo, vi a disposição e a felicidade do meu marido em ajudar a neta de 14 anos a entender matemática e me apaixonei de novo por ele. Casamento não é para preguiçoso nem para covarde. É preciso ter coragem de enfrentar mudanças e diferenças.

Veja – Por que, quase sempre, é preciso que surja uma terceira pessoa para a separação acontecer?
Lidia – Essa pessoa serve de catalisador. Se você está num relacionamento desgastado e difícil, nada mais renovador do que um amor novinho em folha. Às vezes, de fato, a outra pessoa reativa algo que estava mesmo morto e traz a coragem para dar o passo. Dificilmente, porém, essa terceira pessoa vai ser a parceira da nova relação, porque o novo vínculo está contaminado pelo anterior, que continua a servir de base.

Veja – Brigar de vez em quando faz bem?
Lidia – Ninguém precisa procurar briga, mas também não precisa fugir dela. Não se deve ter medo da divergência. Se o casamento for sólido, o casal tolera uma palavra atravessada de vez em quando. É falta, não é cartão amarelo. Da mesma forma, uma certa rotina é bem-vinda, porque permite que você não tenha de fazer escolhas o tempo todo.

Veja – A nova família de pai, mãe, mulher do pai, marido da mãe, quatro avós, quatro avôs, meios-irmãos para todo lado está sendo bem absorvida ou anda dando nó nas cabeças?
Lidia – Dá mais nó nos mais velhos, claro, que ainda estão presos a padrões e expectativas antigos. A nova família está sendo absorvida, mas atente para o gerúndio: ela reflete o fato de que a absorção ainda está em processo, lento e gradual. Com alguns percalços inevitáveis, as famílias estão aprendendo a lidar com as novas condições, já que elas são inevitáveis. Continua dando nós, mas estamos ficando bons em desfazê-los.

Veja – Quais são alguns dos mais extremos graus de infelicidade no casamento que passaram pelo seu consultório?
Lidia – Uma das situações mais marcantes, que aconteceu mais de uma vez, é a do casal que potencializava e iluminava o que o outro tinha de melhor e de pior, oscilando o tempo todo entre momentos de extrema paixão e outros de intensa agressão, tanto verbal quanto quebrando tudo em casa. Os dois viviam ou no paraíso ou no inferno. Só não conseguiam viver na Terra. Mas o caso mais extremo de infelicidade a que atendi foi o de um casal, junto havia quarenta anos, em que ela tinha câncer terminal. A morte ia separá-los e eu tive de acompanhar essa despedida. Ele sofria absurdamente. Foi quando eu constatei que "felizes para sempre" quer dizer fim. Entendi melhor por que as pessoas têm tanto medo da entrega amorosa. Quando dá certo, um vai ter de viver esse processo de perda.

Veja – A mágoa da infidelidade pode ser superada? A marca fica para sempre ou some com o tempo?
Lidia – Depende de como é o pacto do casal. Para alguns, é uma marca que nunca vai sumir. Aliás, medo da infidelidade a gente tem sempre, independentemente de ter acontecido algo ou não. É um fantasma. Ninguém tem garantia numa relação amorosa.

Veja – Ciúme atrapalha muito?
Lidia – Bom, ciúme é inevitável, uma emoção primária, humana. Quem tem umbigo tem ciúme, e isso não tem nada a ver com posse. Ciúme está relacionado àquele momento em que você, criança, está do lado de fora do quarto de seus pais e a porta está fechada. Tem a ver com esse sentimento de exclusão. Agora, no relacionamento amoroso, o ciúme é problema do ciumento e ele não pode jogar para cima do outro.

Veja – Por que a mulher tende a perdoar mais? Como costuma ser a reação de cada um?
Lidia – A mulher percebe a relação como sendo de borracha, maleável, que pode ser esticada ou encolhida. Já para o homem, em geral, é irreparável. A primeira reação dele é querer se separar, como se o casamento fosse um cristal que, ao quebrar, não tem mais conserto. No momento seguinte, porém, os dois podem mudar de ideia.

Veja – Quando é que se percebe que um casamento acabou?
Lidia – O casamento só acaba quando o ressentimento é mais forte que a esperança de ser feliz. A pessoa tem de parar e refletir se a mágoa é realmente grande. O amor tem muitos canais pelos quais o afeto pode se expressar. O sexo é, sem dúvida, um deles, mas existem vários outros, como ternura, cumplicidade, lealdade. Não é preciso usar calcinha vermelha nem mandar o marido se vestir de marinheiro.

O amor...

"O amor começa quando uma pessoa
se sente só e termina quando uma
pessoa deseja estar só."

Leon Tolstoi

A Dança

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te diretamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

Do Livro: Cem Sonetos de Amor, de Pablo Neruda

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lição de Vida…


Uma senhora idosa, elegante, bem vestida e penteada, estava de mudança para uma casa de repouso pois o marido com quem vivera 70 anos, havia morrido e ela ficara só...
Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando uma atendente veio dizer que seu quarto estava pronto.
A caminho de sua nova morada, a atendente ia descrevendo o minúsculo quartinho, inclusive as cortinas de chintz florido que enfeitavam a janela.

- Ah, eu adoro essas cortinas - disse ela com o entusiasmo de uma garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho.

- Mas a senhora ainda nem viu seu quarto...

- Nem preciso ver - respondeu ela. - Felicidade é algo que você decide por princípio. E eu já decidi que vou adorar! É uma decisão que tomo todo dia quando acordo. Sabe, eu tenho duas escolhas:

Posso passar o dia inteiro na cama contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem... ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem.
Cada dia é um presente.
E enquanto meus olhos abrirem, vou focalizá-los no novo dia e também nas boas lembranças que eu guardei para esta época da vida.
A velhice é como uma conta bancária: Você só retira daquilo que você guardou.
Portanto, lhe aconselho depositar um monte de alegria e felicidade na sua Conta de Lembranças.
E como você vê, eu ainda continuo depositando.
Agora, se me permite, gostaria de lhe dar uma receita.

1.Jogue fora todos os números não essenciais para sua sobrevivência.
2.Continue aprendendo. Aprenda mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa. Não deixe seu cérebro desocupado.
3. Curta coisas simples.
4. Ria sempre, muito e alto. Ria até perder o fôlego.
5. Lágrimas acontecem. Aguente, sofra e siga em frente. A única pessoa que acompanha você a vida toda é VOCÊ mesmo. Esteja VIVO, enquanto você viver.
6. Esteja sempre rodeado daquilo que você gosta: pode ser família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for. Seu lar é o seu refúgio.
7. Aproveite sua saúde. Se for boa, preserve-a. Se está instável, melhore-a. Se está abaixo desse nível, peça ajuda.
8. Diga a quem você ama, que você realmente o ama, em todas as oportunidades.

E LEMBRE-SE SEMPRE QUE:

A vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você perdeu o fôlego...

de tanto rir...
de surpresa...
de êxtase...
de felicidade!

Autor desconhecido

Coloque-se no lugar de seu filho...


Vocês são pais excelentes, claro, mas já parou para pensar se você realmente entende o seu filho? Já imaginou uma nova forma de ouvir e conversar? Essa é a proposta da psicóloga Dina Azrak, em seu novo livro A linguagem da empatia.

Após um dia cheio de tarefas, estresse e trânsito, você chega atrasada para buscar sua filha na escola. A professora, com cara de poucos amigos, pergunta se você esqueceu a criança. Para completar, você percebe que sua filha está chateada com o atraso. No carro, pelo retrovisor, dá para perceber que ela não quer papo. Mas você tenta:

-Poxa, filha, não vai dar nem um sorrisinho para a mamãe?
A menina cruza os braços, enfezada.
-Então, você acha que a mamãe se atrasou de propósito, né? Deveria se sentir grata por eu vir buscá-la depois desse dia tão difícil.

Se você se identificou com essa situação, vai adorar os conselhos da psicóloga Dina Azrak, autora do livro recém-lançado A linguagem da empatia (Ed. Summus). Nesse livro, a especialista ensina um novo " idioma " que promete melhorar o relacionamento entre filhos e pais – o ''criancês''. Essa linguagem baseia apenas em se comunicar com as crianças de maneira atenciosa, protegendo seus sentimentos, evitando as avaliações e os julgamentos tão automáticos que fazemos o tempo todo. “No começo, vai parecer artificial, mas não desanime”, diz a autora.

O livro dá sugestões práticas de como os pais poderiam agir. No "criancês", a situação acima poderia se desenrolar de forma diferente.

-Puxa, estou vendo uma menina bem zangada no banco de trás. (Com essa frase, a mãe muda o foco da discussão e capta os sentimentos da filha. Abre-se um canal de sintonia afetiva entre elas).
-Estou muito, muito brava!
-Hummm... (Essa interjeição reconhece o sentimento da criança em vez de negá-lo.
-Você demorou! Fiquei com medo que você não viesse me buscar mais.
-Eu garanto que você não iria dormir na escola.

Veja algumas dicas para testar essa linguagem no seu dia a dia:

• Ouça seu filho com toda a atenção. Falar para um pai desatento é desencorajador. Muitas vezes, a criança só precisa de um silêncio acolhedor.
• Compreenda os sentimentos do seu filho. Em vez de fazer perguntas e oferecer conselhos que julgam, reconheça o que ele está sentindo com uma palavra. Pode ser um “Oh”, “Hum”, “Sei”.
• Dê nome aos sentimentos da criança. É confortante para ela saber que alguém reconheceu o que está vivenciando: “Isso deve deixar você com raiva mesmo”.
• Realize os desejos da criança brincando com a fantasia. Se não puder atender aos desejos do seu filho, não explique com tanta lógica: “Qual super-herói você gostaria de ser para nos tirar desse trânsito?”
• Não ameace seu filho, explique, acrescente uma informação. Ao surpreender o filho de 4 anos escrevendo na parede, diga com voz firme: “As paredes não forma feitas para escrever. O papel, sim!”. Se você tivesse o ameaçado, a criança entenderia como um desafio, ficaria mais ansiosa e faria novamente.
• Ponha-se no lugar do seu filho. Quando você inverte os papéis, consegue entender a reação da criança e fica mais fácil, conversar e resolver.
• Use a criatividade para resolver as confusões do dia a dia com seus filhos. Uma boa dica é escrever um bilhete. Essa ideia serviu direitinho para um casal que gostaria de dormir um pouco mais aos domingos, mas era impossível porque as crianças corriam para o quarto assim que acordavam. Uma manhã, eles encontraram um cartaz na porta: FAROL VERMELHO – PAPAI E MAMÃE DORMINDO. As crianças atenderam ao pedido e voltaram mais tarde. O cartaz, então, dizia: FAROL VERDE – QUEREMOS BEIJINHOS DE BOM DIA!

Fonte: Revista Crescer

Li um dia, não sei onde...



"Li um dia, não sei onde,
Que em todos os namorados
Uns amam muito, e os outros
Contentam-se em ser amados.

Fico a cismar pensativa
Neste mistério encantado…
Digo pra mim: de nós dois
Quem ama e quem é amado?

Florbela Espanca

domingo, 25 de abril de 2010



"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre..."

Do livro Viagem a Portugal, de José Saramago

Felicidade


“Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão…

Ver girar essas pequenas almas leves, loucas, graciosas e que se movem é o que,
de mim, arrancam lágrimas e canções.
Eu só poderia acreditar em um Deus que soubesse dançar.
E quando vi meu demônio, pareceu-me sério, grave, profundo, solene.
Era o espírito da gravidade, ele é que faz cair todas as coisas.
Não é com ira, mas com riso que se mata. Coragem!
Vamos matar o espírito da gravidade!
Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim a correr.
Eu aprendi a voar. Desde então, não quero que me empurrem para mudar de lugar.
Agora sou leve, agora vôo, agora vejo por baixo de mim mesmo,
agora um Deus dança em mim!”

Friedrich Nietzsche

sábado, 24 de abril de 2010

As Quatro Estações

Um homem tinha quatro filhos.
Ele queria que seus filhos aprendessem a não ter pressa quando fizessem seus julgamentos.
Por isso, convidou cada um deles para fazer uma viagem e observar uma pereira plantada num local distante.

O primeiro filho chegou lá no INVERNO,
o segundo na PRIMAVERA,
o terceiro, no VERÃO
e o quarto, o caçula, no OUTONO.

Quando eles retornaram, o pai os reuniu e pediu que contassem o que tinham visto.

O primeiro chegou lá no INVERNO.
Disse que a árvore era feia e acrescentou:
“- Além de feia, ela é seca e retorcida!”

O segundo chegou lá na PRIMAVERA.
Disse que aquilo não era verdade.
Contou que encontrou uma árvore cheia de botões, e carregada de promessas.

O terceiro chegou no VERÃO.
graciosa que ele jamais tinha visto.

O último filho chegou no OUTONO.
Ele disse que a árvore estava carregada e arqueada cheia de frutas, vida e promessas…

O pai então explicou a seus filhos que todos eles estavam certos, porque eles haviam visto apenas
uma estação da vida da árvore…

Ele disse que não se pode julgar uma árvore, ou uma pessoa, por apenas uma estação.

A essência do que se é, (como o prazer, a alegria e o amor que vem da vida) só pode ser constatada no final de tudo, exatamente como no momento em que todas as estações do ano se completam!

Se alguém desistir no INVERNO, perderá as promessas da PRIMAVERA, a beleza do VERÃO e a expectativa do OUTONO.

Não permita que a dor de uma estação destrua a alegria de todas as outras.
Não julgue a vida apenas por uma estação difícil.
Persevere através dos caminhos difíceis e melhores tempos certamente virão, de uma hora para a outra!

Autor desconhecido

Navegue...


Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.
As lágrimas?
Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama?
Guarde dentro de um porta-jóias, tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda, se o século vira, se o milênio é outro,
se a idade aumenta;
conserve a vontade de viver, não se chega à parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho.
Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.
Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
Caso sinta-se só, olhe para as estrelas: eu sempre estarei nelas.
Não estão ao seu alcance, mas estarão eternamente
brilhando para você!

Silvana Duboc

O Paradoxo de nosso tempo...

Hoje temos edifícios mais altos, mas pavios mais curtos. Auto-estradas mais largas, mas pontos de vista mais estreitos. Gastamos mais, mas temos menos. Nós compramos mais, mas desfrutamos menos. Temos casas maiores e famílias menores. Mais conveniências, mas menos tempo. Temos mais graus acadêmicos, mas menos senso. Mais conhecimento e menos poder de julgamento. Mais proficiência, porém mais problemas. Mais medicina, mas menos saúde.

Bebemos demais, fumamos demais, gastamos de forma perdulária, rimos de menos, dirigimos rápido demais, nos irritamos muito facilmente, ficamos acordados até tarde, acordamos cansados demais, raramente paramos para ler um livro, ficamos tempo demais diante da TV e raramente oramos. Multiplicamos nossas posses, mas reduzimos nossos valores. Falamos demais, amamos raramente e odiamos com muita frequência.

Aprendemos como ganhar a vida, mas não vivemos essa vida. Conquistamos o espaço exterior, mas não nosso espaço interior. Fizemos coisas maiores, mas não coisas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma. Dividimos o átomo, mas não nossos preconceitos. Escrevemos mais e aprendemos menos. Planejamos mais e conseguimos menos. Aprendemos a correr, mas não a esperar. Construímos cada vez mais computadores, para armazenar mais informações e produzir mais cópias, mas nos comunicamos cada vez menos.

Estes são os tempos do "fast food" e da digestão lenta. De homens grandes, com personalidades mesquinhas. De lucros enormes e relacionamentos pequenos. Estes são os dias de dois empregos e mais divórcios. Casas mais bonitas e lares desfeitos. Estes são os dias de viagens rápidas, fraldas descartáveis, moralidade abandonada, encontros por uma noite, obesidade disseminada e pílulas para tudo, da alegria à calma e até à morte. É um tempo onde há muito nas vitrines e pouco na dispensa. Um tempo onde a tecnologia permite que você leia isto e escolha o que fazer: Dividir este sentimento ou apenas clicar em DELETE.

Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão por aqui para sempre.

Lembre-se de dizer uma palavra gentil a alguém que te admira com fascinação, pois essa pequena pessoa logo irá crescer e abandonar sua companhia.

Lembre-se de dar um abraço carinhoso a quem está do seu lado, pois esse é o único tesouro que você pode dar com seu coração, e não custa um centavo sequer.

Lembre-se de dizer "eu te amo" a sua companheira(o) e às pessoas que ama, mas em primeiro lugar, ame. Um beijo e um abraço curam a dor quando vêm de lá de dentro.

Lembre-se de segurar a mão e enaltecer o momento, sabendo que um dia aquela pessoa não estará mais aqui.

Conceda-se tempo para amar, conceda-se tempo para falar, conceda-se tempo para compartilhar os seus preciosos momentos.

Lembre-se, abrace com carinho quem estiver ao seu lado, porque este é o único tesouro que você pode oferecer, sem lhe custar nada.

Texto escrito pelo Dr. Bob Moorehead, ex-pastor de uma igreja de Seattle. O título original deste ensaio é "The Paradox of Our Age" e apareceu em Words Aptly Spoken, que é uma coleção, datada de 1995, de orações, homilias e monólogos que ele fez em rádios. Apesar disso, muitos disseminam o texto acima em blogues e pps como de autoria do ator e comediante George Carlin. Mas Carlin era ateu ativo e desmentiu a falsa autoria antes de morrer.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Renovar...

Não podemos permitir que outras pessoas impeçam nosso crescimento.
Quando escolhermos ir por um caminho, que sentimos ser o melhor para nós, podemos usar a ousadia e a coragem de renovar.
As mudanças são necessárias, pois o Universo está em constante renovação.
É a flor que doa sua semente ao solo, é a semente que se transforma em broto, é o broto que vira árvore, é a árvore que dá frutos.
Na natureza, tudo é novo a cada instante.
O princípio da renovação é uma lei natural.
Situações novas surgem a todo momento. Para estas novas situações, são necessárias novas respostas.
O Universo está sempre disposto a nos ajudar. Ele traz o que é preciso, seja através de um livro, de um amigo. O importante é estarmos abertos e sintonizados com a possibilidade de crescer.
Pessoas resistentes às mudanças estão contra as leis da natureza.
Num mundo em constante evolução, ficar parado significa retroceder.
As pessoas que escolhem a estagnação são como uma imensa pedra lançada ao mar. Ela ficará parada no fundo do oceano devido ao seu próprio peso, enquanto o mar, em seu constante movimento, fará com que ela afunde cada vez mais.
Renovar é dizer adeus ao velho e dar boas vindas ao novo.
Renovar é saber que podemos mudar para melhor. Sempre.

Texto extraído do Livro: Liberdade de Ser, de Eliane de Araujoh

Jardins e sonhos

''Faz de contas que a sua alma é um útero. Ela está grávida. Dentro dela há um feto que quer nascer. Esse feto que quer nascer é o seu sonho. Quem engravidou a sua alma eu não sei. Acho que foi um ser de um outro mundo...Imagino que o tal de “Big-Bang“ a que se referem os astrônomos, foi Deus ejaculando seu grande sonho e soltando pelo vazio milhões, bilhões, trilhões de sementes. Em cada uma delas estava o sonho fundamental de Deus: um jardim, um Paraíso...Assim, sua alma está grávida com o sonho fundamental de Deus...

Mas toda semente quer brotar, todo feto quer nascer, todo sonho quer se realizar. Sementes que não nascem, fetos que são abortados, sonhos que não são realizados, se transformam em demônios dentro da alma. E ficam a nos atormentar. Aquelas tristezas, aquelas depressões, aquelas irritações - vez por outra elas tomam conta de você – aposto que são o sonho de jardim que está dentro e não consegue nascer. Deus não tem muita paciência com pessoas que não gostam de jardins..."

Rubem Alves

Salar de Uyuni - Bolívia

Vi essas fotos na web e fiquei encantada com este lugar incomum...





Essa foto acima, me lembra aquela foto de uma capa de disco...
Ao sudeste da Bolivia, a mais de 3.600 metros de altura e com uma extensão de mais de 12 mil quilômetros quadrados, se encontra o único ponto brilhante que pode ser visto do espaço: o Incomparável Salar de Uyuni.
O Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, ocupa o primeiro lugar das 25 novas maravilhas e atrações naturais históricas do mundo.

Por questão magnética, se perde toda a comunicação com o exterior e o visitante se encontra imerso em uma paisagem semi desértica com gêiseres, formações rochosas e poços vulcânicos.
Perto do limite com o Chile, este mar de sal interminável tem 3 espelhos, os lagos de cor vermelha, verde e azul.
Também tem uma paisagem diversa, mas o mais especial se forma quando o céu esta turvo. Neste espelho as nuvens se refletem de modo que a linha do horizonte quase desaparece, e fica quase impossível diferenciar a Terra do Céu, um efeito chamado “Whitheout”.

Cheiros

Existem cheiros inesquecíveis. Cada pessoa tem seus prediletos. E basta uma mínima lembrança para que tudo volte: a temperatura do momento, a felicidade ou a tristeza que se sentia, as imagens de quem estava perto, tudo. Tudo. Cheiros podem ser alegres ou tristes. Era muito bom quando se entrava em casa depois do colégio, logo antes do almoço, e se sentia o cheiro do refogado – alho, cebola e tomate – para fazer o picadinho ou o bife de panela enrolado no bacon e preso por um palitinho. Quantos segundos você leva para atravessar o tempo e voltar aos seus 11 anos?

Lembra quando há muitos, muitos anos, você ia passar as férias na fazenda? Ah, uma fazenda tem aromas absolutamente inesquecíveis: o do capim, o da terra depois da chuva, o do estábulo onde se ia de manhã bem cedo tomar o leite tirado da vaca, ainda morno, numa canequinha de alumínio. E o cheiro da tangerina? Aliás, tangerina não, mexerica; aquela pobrinha, modesta, de casca fina, que deixava a mão cheirando durante três dias. Esse é um cheiro muito alegre. O cheiro do bolo saindo do forno é para sempre – bolo de tabuleiro, cortado em losangos, com cobertura de açúcar com limão, e um detalhe precioso: naquele tempo, por mais que se comesse não se engordava, e em cima da mesa havia sempre um vidro de fortificante para abrir o apetite. Que felicidade ter tido uma infância no interior! Mas existem outros aromas não ligados ao paladar e também inesquecíveis. O cheiro do mar quando se chega em Salvador – uma licença poética, com licença. E você já teve uma tia-avó que morava numa casa bem arrumada, cujo assoalho era encerado toda semana? O brilho era dado a mão, com uma escova de cabo alto como uma vassoura, e era chegar e ouvir: “Cuidado para não escorregar”. Que cheiro limpo, honesto, que cheiro de gente direita. Será que isso ainda existe?

Mas há também os cheiros angustiantes: os de hospital, de sala de cirurgia. Muito cheiro de flor você sabe o que lembra – melhor não falar disso. E existem os perfumes ricos: de carro novo, de um bom fumo de cachimbo. E vamos combinar: cheiro de alho é bom na cozinha, de sexo no quarto, e é proibido misturar. Por falar nisso, o cheiro do homem que se ama, depois do amor, é melhor nem lembrar para não desmaiar de saudade.

As cidades também têm seu cheiro, cada uma muito particular: se você for levada, de olhos vendados, para o Bloomingdale’s, sabe na hora que está em Nova York. E se respirar um aroma de cominho misturado a curry e a canela vai saber que está no souk de Marrakesh.

Mas existe um cheiro que só as mulheres conhecem. É o que elas sentem quando estão enxugando seus bebês depois do banho. É preciso que não haja uma só pessoa por perto num raio de 200 metros para não haver interferência de qualquer ordem. Sem nenhuma presença estranha – nem mesmo a do pai –, mãe e filho poderão dizer bobagens e rir de coisas que só eles vão entender. Depois do talco, a mãe vai botar o nariz no pescoço de sua cria e cheirar com todos os seus cinco sentidos. No princípio timidamente, mas cada vez mais forte, até quase arrebentar os pulmões de tanto amor. Na hora a gente não sabe, mas um dia vai saber: não existe nada igual a esse cheiro nem a esse momento, e nunca vai haver um melhor. Porque esse é o cheiro da vida.

Danuza Leão

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O coração tem razões...

Você se lembra daquela tocante história do Livro O Pequeno Príncipe? Bom, existe uma história mais tocante ainda que aconteceu de fato com o criador do Pequeno Príncipe, o escritor francês Antoine de St. Exupéry. Poucas pessoas sabem que ele lutou na Guerra Civil Espanhola, quando foi capturado pelo inimigo e levado ao cárcere para ser executado no dia seguinte. Nervoso, ele procurou em sua bolsa um cigarro, e achou um, mas suas mãos estavam tremendo tanto que ele não podia nem mesmo levá-lo à boca. Procurou fósforos, mas não tinha, porque os soldados haviam tirado todos os fósforos de sua bolsa. Ele olhou então para o carcereiro e disse: "Por favor, usted tiene fósforo?". O carcereiro olhou para ele e chegou perto para acender seu cigarro. Naquela fração de segundo, seus olhos se encontraram, e St. Exupéry sorriu.

Depois ele disse que não sabia por que sorriu, mas pode ser que quando se chega perto de outro ser humano seja difícil não sorrir. Naquele instante, uma chama pulou no espaço entre o coração dos dois homens e gerou um sorriso no rosto do carcereiro também. Ele acendeu o cigarro de St. Exupéry e ficou perto, olhando diretamente em seus olhos, e continuou sorrindo. St. Exupéry também continuou sorrindo para ele, vendo-o agora como pessoa, e não como carcereiro.

Parece que o carcereiro também começou a olhar St. Exupéry como pessoa, porque lhe perguntou: "Você tem filhos?". "Sim", St. Exupéry respondeu, e tirou da bolsa fotos de seus filhos. O carcereiro mostrou fotos de seus filhos também, e contou todos os seus planos e esperanças para o futuro deles. Os olhos de St. Exupéry se encheram de lágrimas quando disse que não tinha mais planos, porque ele jamais os veria de novo. Os olhos do carcereiro se encheram de lágrimas também. E de repente, sem nenhuma palavra, ele abriu a cela e guiou St. Exupéry para fora do cárcere, através das sinuosas ruas, para fora da cidade, e o libertou. Sem nenhuma palavra, o carcereiro deu meia-volta e retornou por onde veio. St. Exupéry disse: "Minha vida foi salva por um sorriso do coração".

O que foi aquela "chama" que pulou entre o coração desses dois homens? Isso tem sido tema de intensa pesquisa atualmente, na medida em que os cientistas estão se dando conta de que o coração não é meramente uma bomba mecânica, mas um sofisticado sistema para receber e processar informações. De fato, o coração envia mais mensagens ao cérebro que o cérebro envia ao coração! Como disse o filósofo francês Blaise Pascal: "O coração tem razões que a própria razão desconhece".

Estados emocionais negativos, como raiva ou frustração, geram ondas eletromagnéticas totalmente caóticas do coração, como se estivéssemos pisando no acelerador e no breque simultaneamente. Esse estado de batimentos desordenados é chamado de "incoerência cardíaca" e está ligado a doença cardíaca, envelhecimento precoce, câncer e morte prematura.

Em estados de amor ou gratidão, nosso batimento cardíaco torna-se "coerente". Isso diminui a secreção dos hormônios do estresse, reduz a depressão, hipertensão e insônia, melhora o sistema imune e aumenta a clareza mental. Essa é uma das razões pelas quais tem sido provado que as emoções positivas estão associadas à boa saúde física e mental - e à longevidade. Essa irradiação coerente do coração - essa "chama" de genuína afeição - pode afetar pessoas a uma distância de até 5 metros! Logo, na próxima vez em que você estiver numa situação difícil, respire profundamente, lembre-se de St. Exupéry e do Pequeno Príncipe e irradie a energia de seu coração. Como o Pequeno Príncipe nos lembrou, "somente com o coração podemos ver com clareza".

Fonte: Revista Época (Susan Andrews)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cores

“As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas, para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e entonações, a cada momento que passa. Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes. Amarelos céros, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas.
Por isso, faço questão de notá-los.”

- Markus Zusak - em “A menina que roubava Livros”

A Menina Que Roubava Livros


A Menina Que Roubava Livros de MarKus Zuzak.
A história é narrada o tempo todo pela sra. "Morte", através de um ponto de vista que acaba por te fazer rever alguns conceitos. A Morte conta a história de uma menina, Liesel Meminger, que vive na época da Segunda Guerra Mundial, num subúrbio da sangrenta Alemanha, e que graças ao afeto que recebe do pai adotivo, encontra nos livros o seu refúgio e também sua salvação.
Cada livro que Liesel rouba tem uma peculiaridade, quando ela roubou o seu primeiro livro "O Manual do Coveiro" a questão era que o livro não tinha importância, tinha apenas um significado... O mais importante é que ele significava a última vez que ela vira o irmão e a mãe, o livro representava a lembrança deles e a saudade.
Um breve resumo do livro:
Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em 'A menina que roubava livros'. Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido de sua existência. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona-de-casa rabugenta. Ao entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, 'O manual do Coveiro'. Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair na neve. Foi o primeiro dos vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes. E foram esses livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de roubá-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam mais tarde aplicadas ao contexto da sua própria vida, sempre com a assistência de Hans, acordeonista amador e amável, e Max Vanderburg, o judeu do porão, o amigo quase invisível de quem ela prometera jamais falar. Há outros personagens fundamentais na história de Liesel, como Rudy Steiner, seu melhor amigo e o namorado que ela nunca teve, ou a mulher do prefeito, sua melhor amiga que ela demorou a perceber como tal. Mas só quem está ao seu lado sempre e testemunha a dor e a poesia da época em que Liesel Meminger teve sua vida salva diariamente pelas palavras, é à nossa narradora. Um dia, todos irão conhecê-la. Mas ter a sua história contada por ela é para poucos.

“...Existem crimes piores que queimar livros, um deles é não lê-los”.
Se você tiver um tempinho, leia este livro fascinante, estou ainda na metade, são 478 páginas, mas já posso dizer que vale a pena lê-lo!
Um best-seller que ficou mais de um ano na lista dos mais vendidos do New York Times.



Todos um dia terão um encontro marcado com a narradora desse livro, mas apenas Liesel Meminger tem o privilégio de ter sua história narrada por ela. Mas também não é qualquer um que sobrevive a uma guerra como esta, vendo tudo e todos desabarem à sua volta, não é qualquer uma que amadurece e permanece viva ao encontrar um propósito maior para sua vida, justamente nas páginas de um livro, ou posteriormente, de um diário. Sim, parece que a Morte, ao contrário de todos os prognósticos, tem coração, e o revela ao escolher a trajetória de Liesel para transmitir ao leitor. Aliás, há muitas passagens em que esta narradora revela seu lirismo, sua ternura, seus cuidados com almas exaustas e envenenadas pela dor e pela crueldade da Guerra, até mesmo sua indignação e revolta com os extremos da desumanidade que atingem os requintes nazistas.

"O único dom que me salva é a distração. Ela preserva minha sanidade."