sexta-feira, 29 de junho de 2012

Que lindo esse poema...♥



Amo-te Por Todas as Razões e Mais Uma...

 Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar.
Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras.
Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões.
Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu.

Joaquim Pessoa, do livro 'Ano Comum'

É preciso...


O que é preciso é entender a solidão!
O que é preciso é aceitar, mesmo, a onda amarga
que leva os mortos.

O que é preciso é esperar pela estrela
que ainda não está completa.

O que é preciso é que os olhos sejam cristal sem névoa,
e os lábios de ouro puro.

O que é preciso é que a alma vá e venha;
e ouça a notícia do tempo,
e entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diáfanas asas,
isenta por igual.
de desejo e de desespero.

Cecília Meireles

Belo poema! Um lindo final de semana a todos, divirtam-se!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Afinidades eternas...


Não é possível cortar para sempre com tudo o que nos liga a pessoas que pensam verdadeiramente como nós. Acabamos sempre por voltar a estar de acordo nalgum ponto. Com os que pensam de maneira deveras contrária à nossa é baldado o esforço para manter algum acordo, porque acaba sempre por se desfazer.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Máximas e Reflexões"

Que não nos faltem bons sentimentos...


Que não nos faltem bons sentimentos. Que nos falte egoísmo. Que nos sobre paciência. Que sejamos capazes de enxergar algo de bom em cada momento ruim que nos acontecer. Que não nos falte esperança. Que novos amigos cheguem. Que antigos sejam reencontrados. Que cada caminho escolhido nos reserve boas surpresas. Que cada sorriso que uma criança der nos faça ter um bom dia e enxergar uma nova esperança. Que cada um de nós saiba ouvir cada conselho dado por uma pessoa mais velha. Que não nos falte vontade de sorrir. Que sejamos leves. Que sejamos livres de preconceitos. Que nenhum de nós se esqueça da força que possui. Que não nos falte fé e amor.
 
 Caio Fernando Abreu

As Realidades da Alma...


É certo que o homem fala a si mesmo; não há um único ser racional que o não tenha experimentado. Pode-se até dizer que o mistério do Verbo nunca é mais magnífico do que quando, no interior do homem, vai do pensamento à consciência, e volta da consciência ao pensamento. (...) Diz, fala, exclama cada um consigo mesmo, sem que seja quebrado o silêncio exterior. Há um grande tumulto; tudo fala em nós, exceto a boca. As realidades da alma, por não serem visíveis e palpáveis, nem por isso deixam de ser também realidades.

Victor Hugo

terça-feira, 26 de junho de 2012

A arte de Alphonse Mucha...







Um pouquinho das obras desse artista genial da Arte Nouveau!

Alphonse ou Alfons Maria Mucha (Ivancice, 24 de julho de 1860 — Praga, 14 de julho de 1939) foi um pintor e artista decorativo,  mais conhecido por seu estilo distinto.  Ele produziu muitas pinturas, ilustrações, anúncios, cartões postais. Designer gráfico checo e um dos principais expoentes do movimento Art Nouveau. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão os cartazes para os espetáculos de Sarah Bernhardt realizados na França de 1894 a 1900 e uma série chamada Épicos Eslavos entre 1912 e 1930.

Veja mais aqui: www.muchafoundation.org/

Não disperdices o teu tempo...


O teu tempo é limitado, por isso não o desperdices a viver a vida de outra pessoa. Não te deixes armadilhar pelos dogmas - que é a mesma coisa que viver pelos resultados do que outras pessoas pensaram. Não deixes que o ruído das opiniões dos outros saia da tua própria voz interior. E, mais importante ainda, tem a coragem de seguir o teu coração e a tua intuição. Estes já sabem, de alguma forma, aquilo em que tu verdadeiramente te vais tornar. Tudo o resto é secundário.

Steve Jobs

O essencial é saber ver...


O essencial é saber ver,
mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida,
isso exige um estudo profundo,
aprendizagem de desaprender.
Eu procuro despir-me do que aprendi,
eu procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
desembrulhar-me
e ser eu.

Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa

A ingenuidade ignorante e a ingenuidade sábia...


Há duas espécies de ingenuidade: uma que ainda não percebeu todos os problemas e ainda não bateu a todas as portas do conhecimento; e outra, de uma espécie mais elevada, que resulta da filosofia que, tendo olhado dentro de todos os problemas e procurado orientação em todas as esferas do conhecimento, chegou à conclusão de que não podemos explicar nada, mas temos de seguir as convicções cujo valor inerente nos fala de maneira irresístivel.

Albert Schweitzer, 'O Cristianismo e as Religiões do Mundo'

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Amar é sine qua non...


"A maior parte das pessoas vê no problema do amor, em primeiro lugar, o problema de ser amado, e não o problema da própria capacidade de amar."

Erich Fromm

Uma bela prece para começarmos a semana vindoura...

"Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também sou incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém."

Clarice Lispector

Uma semana abençoada a todos, cheia de paz e prosperidade!

domingo, 24 de junho de 2012

A felicidade muda...


"A felicidade muda de significado várias vezes durante o percurso de uma vida."

       Martha Medeiros


Bom domingo!




sábado, 23 de junho de 2012

Ah Clarice, que lindo! Vamos com ela?



"Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma ideia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou.
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou.
Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? Eu vos espero. E para lá que eu vou.
Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra "tertúlia" e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? Ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.
Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.
É para o meu pobre nome que vou.
E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? A do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? Que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? Está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós".

Clarice Lispector

Aproveite este dia lindo de inverno!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Para relembrar...A palavra de Maria Bethânia


Um vídeo cheio de poesia e encanto! Para relembrarmos do DVD Tempo, Tempo, Tempo, Tempo de Maria Bethânia...maravilhoso!

Um lindo final de semana a todos, cheio de bons momentos e diversão!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Carta de Amor - Maria Bethânia



Essa letra é um louvor, encantamento, uma bênção, uma afirmação de proteção... É perfeita! Do novo álbum  dela, que foi lançado em março ou abril deste ano.
Ontem à noite, a Maria Bethânia cantou um trecho dessa música no programa Fé (GNT) numa entrevista com  a Cissa Guimarães e fiquei encantada com a letra, por isso resolvi compartilhar com vocês essa linda canção que é uma verdadeira oração.

''...O veneno do mal não acha passagem... Em meu coração Maria acende a sua Luz e me aponta o caminho...'' linda essa frase!

Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?


Os maiores acontecimentos e os maiores pensamentos – mas os maiores pensamentos são os maiores acontecimentos – são os que mais tarde se compreendem: as gerações que lhes são contemporâneas não vivem esses acontecimentos, - passam por eles. Acontece aqui algo de análogo ao que se observa no domínio dos astros. A luz das estrelas mais distantes chega mais tarde aos homens; e antes da sua chegada, os homens negam que ali – existam estrelas. “Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?” – aí está também uma medida, um meio de criar uma hierarquia e uma etiqueta necessárias: para o espírito e para a estrela

Friedrich Nietzsche 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O acaso vai me proteger...


Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração...
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído...
 
Titãs

Cumpre-te Hoje, não Esperando...


Não queiras, Lídia, edificar no spaço
Que figuras futuro, ou prometer-te
Amanhã. Cumpre-te hoje, não 'sperando.
Tu mesma és tua vida.

Não te destines, que não és futura.
Quem sabe se, entre a taça que esvazias,
E ela de novo enchida, não te a sorte
Interpõe o abismo?

Ricardo Reis, in Odes
Heterônimo de Fernando Pessoa

Carpe Diem!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Tenho muitas almas...


Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.

Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterônimo de Fernando Pessoa

Ah, Fernando Pessoa, esse gênio da poesia!
Sem dúvida somos muitos!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ter fé é enfrentar nossos abismos internos...




"Ter fé é dançar na beira do abismo".

Friedrich Nietzsche



domingo, 17 de junho de 2012

Em defesa das flores... grande Rubem...

"Quero lhe fazer um pedido", disse a voz feminina do outro lado da linha. Era uma voz agradável, musical, firme - de uma mulher ainda jovem. "Sim?" - eu perguntei de forma Iacônico-psicanalítica, não sem uma pitada de medo. Muitos pedidos estranhos me são feitos. "Eu queria que o senhor escrevesse uma crônica em defesa das flores ..." - Sorri feliz. As flores fazem parte da minha felicidade. Do outro lado da linha estava uma pessoa que amava as flores como eu. Na minha imaginação apareceram campos floridos: tulipas, girassóis, margaridas, trevos (sim, essa praga!).

Versinho da Emily Dickinson:

Para se fazer uma campina

É preciso um trevo! uma abelha, um trevo, uma abelha e fantasia... Masfaliando abelhas

Basta a fantasia... Sim, com trevos se fazem campinas floridas! - qualquer tipo de flor vale a pena...

Aí ela se explicou: "Tenho dó das flores nas coroas funerárias. Eu queria que algo fosse feito para protegê-las, para impedir que aquele horror se fizesse a elas." Minha imaginação passou das flores livres dos campos para as flores torturadas dos velórios.

Concordei com a Carolina (esse era o nome da mulher -jovem de oitenta anos). Não conheço nada de maior mau gosto que os velórios. Ali tudo é feio. Tudo é grosseiro. As urnas funerárias - falta a elas a simplicidade de linhas. Parecem-se com essas mulheres que se cobrem ele bijuterias - pensando que assim ficam bonitas. Os suportes metálicos, então, são horrendos. O saguão elo velório do Cemitério da Saudade, até a Última vez que fui lá, estava cheio de frases graves e amedrontadoras do tipo: "Eterno e silencioso é o descanso dos mortos." Que coisa horrível!

Pior que as piores visões do inferno! No inferno pelo menos há movimento. Mas no tal descanso eterno tudo é silencioso. A música e os risos estão proibidos. Eu ficaria louco na hora, teria impulsos suicidas. Mas a desgraça é que, estando eu já morto, me seria impossível dar cabo de minha vida.

Aos múltiplos horrores estéticos junta-se o horror das coroas de flores. Comparem a beleza de uma flor, uma única flor, um trevo azul de simetria pentagonal, com o horror de uma coroa. Olhando para a florinha do trevo meus pensamentos ficam leves, flutuam. Olhando para uma coroa meus pensamentos ficam pesados e feios. Numa coroa todas as flores deixam de ser flores.

Elas não mais dizem o que diziam. Não mais são o que eram. Amarradas, contra a vontade, num anel artificial, do qual pendem fitas roxas com palavras douradas. São, as coroas, de uma vulgaridade espantosa. Ali as não-flores só servem de enchimento para os nomes.

Eu tenho uma teoria para explicar o horror estético dos velórios. Quem me instruiu foi a Adélia Prado. Diz ela: No cemitério é bom de passear. A vida perde a estridência, o mau gosto ampara-nos das dilacerações.

E eu que nunca havia pensado nisso, na função terapêutica do mau gosto! Nem Freud pensou. A gente vai lá, com a alma doída, coração dilacerado de saudade, e o mau gosto nos dá um soco. A saudade foge, horrorizada, por precisar da beleza para existir - e o que fica no seu lugar é o espanto. Pronto! Estamos curados! O mau gosto exorcizou a dilaceração. Foi precisamente isto que aconteceu com uma amiga minha. Foi ao velório de uma pessoa querida para chorar. Aí o oficiante (se foi padre ou pastor não vou dizer) começou a falar. E as coisas que ele disse foram de tão horrível mau gosto que sua alma foi se enchendo de raiva por ele, e a dor pela amiga morta se foi.

Os velórios são ofensas estéticas que se fazem aos mortos.

Velórios deveriam ser belos. Camus, no seu estudo sobre o suicídio, diz que o suicida prepara o seu suicídio como uma obra de arte. Não sei se isso é verdade. Mas sei que cada um deveria preparar o seu velório como uma obra de arte.

“Beber o morto” - essa é a expressão que se usa em algumas regiões do Brasil para designar o ato de beber um gole de pinga em homenagem ao falecido.

Costume certamente inspirado na eucaristia, que é o ritual no qual se bebe um copo de vinho em homenagem a Jesus Cristo. Acho que um velório deveria ser assim, uma refeição antropofágica em que se servem aquelas coisas que o morto mais amava.

Poderíamos, assim, definir um velório como um ritual no qual se serve a beleza que o morto gostaria de servir.

Os vivos, amigos, têm de garantir que a sua vontade seja realizada.

Um conhecido, nos Estados Unidos, doou o seu corpo para a escola de medicina. Então, não haveria nem velório nem enterro. Ele - malandro - deixou uma soma de dinheiro para um jantar oferecido aos seus amigos. Eles se reuniram, comeram, beberam, conversaram, riram e choraram pela vida do amigo querido. Outro, também nos Estados Unidos, morreu no outono. No outono as folhas das árvores ficam vermelhas e amarelas, antes de caírem das árvores, mortas. O outono anuncia o velório do ano com uma beleza que não pode ser descrita. Pois ele pediu que seu ataúde fosse simples, rústico, tábuas nados as de pinheiro, que a sua esposa cobriu com um lençol branco em que folhas de outono, vermelhas e amarelas, haviam sido costuradas.

Um velório deveria ter a beleza do outono, toda a beleza do último adeus. Os oficiantes teriam de ser os melhores amigos. Que sabem os profissionais da religião da beleza que morava naquele corpo? Quanto a mim, não desejo ser enterrado em ataúde. Sofro de claustrofobia. A ideia de ficar trancado numa caixa me causa arrepios. Acho a cremação um lindo ritual.

Neruda declarou que os poetas são feitos de fogo e fumaça. As cinzas, soltas ao vento, lançadas sobre o mar, colocadas ao pé de uma árvore, são símbolos da leveza, da liberdade e da vida. Teria de haver música,do canto gregoriano ao Milton. E poesia. Nada de poesia fúnebre. Cecília Meireles para dar tristeza. Fernando Pessoa para dar sabedoria. Vinicius de Moraes para falar de amor. Adélia Prado para fazer rir.

E Walt Whitman para dar alegria. E comida. De aperitivo, Jack Daniel's. Ainda vou contar a estória do Jack - estória de amizade. Comida de Minas. De entrada, sopa de fubá com alho, minha especialidade.

Depois, frango com quiabo, angu e pimenta, a mais não poder. E, de sobremesa, minhas frutas favoritas, se sua estação for: caqui, manga, jabuticaba, banana-prata bem madura.

Coroas de flores mortas, nem pensar! Pedirei aos que me amam que semeiem flores em algum lugar - um vaso, um canteiro, a beira de um caminho. Se não for possível, que distribuam pacotinhos de sementes entre as crianças de alguma escola, entre os velhos de algum asilo. E, se for possível, uma árvore. Ah! Que linda prova de amor é plantar uma árvore para que alguém amado, ausente, possa se assentar à sua sombra.

Se você for primeiro do que eu, Carolina, prometo: não mandarei coroa. Mas plantarei uma flor. 

Rubem Alves

Repara...


"Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza".

Friedrich Nietzsche




sábado, 16 de junho de 2012

Adoro Nietzsche...


"Amamos a vida não porque estamos acostumados à vida, mas a amar. Há sempre alguma loucura no amor, mas há sempre também alguma razão na loucura."

Friedrich Nietzsche




Mudanças...



"Não raras vezes, a insatisfação e o desejo de mudança acordam, também, o eco distante de um sonho antigo."

Ana Vieira de Castro, in `Xis Público´

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Queiramos ou não...


"Queiramos ou não, a vida transforma-nos. Corremos o risco de mudar para pior, se nos fechamos na rigidez das nossas convicções. Mudamos para melhor, quando aceitamos tentar compreender quem somos."

Ana Vieira de Castro in  `Xis Público´


Um lindo fim de semana a todos, cheio de bons momentos, paz e muita diversão! Bjs

Ver a beleza das coisas...

 Obra de Renoir
                                                    
"As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor.
Aprendemos palavras para melhorar os olhos."

"Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem...
O ato de ver não é coisa natural.
Precisa ser aprendido!"

Rubem Alves

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Engolir um sapinho às vezes, faz um bem...


Queixas-te porque não encontras nada a teu gosto?
São então sempre os teus velhos caprichos
Ouço-te praguejar, gritar e escarrar...
Estou esgotado, o meu coração despedaça-se.
Ouve, meu caro, decide-te livremente.
A engolir um sapinho bem gordinho,
De uma só vez e sem olhar.
É remédio soberano para a dispepsia.

Friedrich Nietzsche, "A Gaia Ciência"


É fundamental aprender a engolir uns sapinhos por dia, senão a vida se tornaria insuportável.

Lucidez...


"O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios."

Marguerite de Crayencour

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Abençoadas árvores que nos fazem refletir...



..."Agora, depois da chuva, as tipuanas e outras árvores estão cobertas de brotos novos. Os brotos novos são seus pensamentos alegres, pensamentos que as árvores devem ter, quando a primavera se aproxima. Os ipês têm outros pensamentos. Eles não são iguais às tipuanas. Estão floridos. Faz duas semanas, eram os ipês-amarelos. Agora, os ipês-rosas e os ipês-brancos. Floriram não por felicidade mas por medo. Floriram por causa da seca. Floriram por medo de morrer e trataram de ejacular sementes para que, no evento de sua morte, suas sementes estivessem espalhadas pelo mundo. Os ciprestes italianos têm fantasias teológicas: afinam-se e querem tocar os céus.
Os chapéus-de-sol - que alguns chamam de amendoeiras -, ao contrário, são seres desse mundo.
Estendem seus galhos na horizontal. Os paus-ferro, livres de cascas velhas enrugadas, exibem uma pele lisa e branca onde pessoas malvadas gravam, a canivete, seus nomes. Passo neles a minha mão porque é gostoso sentir sua lisura.
As árvores jovens têm a sua beleza. Mas, sendo jovens, não têm estórias para contar. Não se pode assentar à sua sombra, suas copas oferecem pouco lugar para os pássaros e seus galhos não são fortes o bastante para que neles se amarrem balanços.

"Olhe estas velhas árvores. Quanto mais velhas mais amigas..." - dizia Bilac. Isso, isso mesmo. As árvores são amigas. Estão sempre fielmente no mesmo lugar, à espera. E se não comparecermos, elas continuarão lá, do mesmo jeito. E sem nada dizer. E jamais se vingam. É só olharmos para elas com a cabeça vazia de pensamentos para sermos possuídos por uma imensa tranquilidade.
As árvores sabem que a única razão da sua vida é viver. Vivem para viver. Viver é bom. Raízes mergulhadas na terra, não fazem planos de viagem. Estão felizes onde estão. Enfrentam seca e chuva, noite e dia, chuva e calor, com silenciosa tranquilidade, sem acusar, sem lamentar. E morrem também tranquilas, sem medo.
Ah! Como as pessoas seriam mais belas e felizes se fossem como as árvores. É possível que os estóicos e Spinoza tenham se tornado filósofos tomando lições com as árvores. Olhando para as árvores, tive por um momento a ideia de que Deus é uma árvore em cuja sombra nós, crianças, brincamos e descansamos. Pura generosidade sem memória.
Acho que o verdadeiro, sobre São Francisco, não é que ele tenha pregado aos peixes e pássaros. A verdade é que ele ouviu o sermão das árvores. Por isso ficou tão manso, tão tranquilo. Ele tinha a beleza das árvores. Estava reconciliado com a vida. Então os pássaros fizeram ninhos nos seus galhos e os peixes comeram dos seus frutos que caíam na água...

Sejamos simples e calmos
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...
(Alberto Caeiro)

Do livro: "O Amor que Acende a Lua'', de Rubem Alves



Sábias palavras de Nietzsche...


''Até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens''.

Friedrich Nietzsche

terça-feira, 12 de junho de 2012

Filme: As 7 Regras do Amor... Feliz Dia dos Namorados! ♥


Um lindo filme para o Dia dos Namorados!
Adorei... e recomendo a todos que gostam de um bom romance.

"Sempre existe no mundo uma pessoa que espera a outra. E quando essas pessoas se encontram e seus olhos se cruzam, todo passado e todo futuro perde qualquer importância e só existe aquele momento."
 Paulo Coelho


''Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba. Não ame por admiração, pois um dia você se decepciona. Ame apenas, pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação.'' (Madre Teresa de Calcutá)

Feliz Dia dos Namorados! Aproveite ao lado do seu amor!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A estrada que não tomei...


Duas estradas num bosque amarelo divergiam;
Triste por não poder seguir as duas
Sendo um só viajante, muito tempo parei
Olhando uma delas, até onde podia alcançar,
Pois, atrás das moitas, ela dobrava.
Então tomei a outra que me pareceu de igual beleza,
Uma vantagem talvez oferecendo
Por ser cheia de grama, querendo ser pisada;
Embora neste ponto o estado fosse o mesmo
E uma, como a outra, tivesse sido usada.
E naquela manhã todas as duas tinham
Folhas ainda não escurecidas pelos passos
Ora! Guardei a primeira para um outro dia!
Mas sabendo como uma estrada leva a outra,
Duvidei poder um dia voltar!
Contarei esta estória suspirando
Daqui a séculos e séculos em algum outro lugar:
Duas estradas, num bosque, divergiam; e eu
Tomei a que era menos frequentada;
E foi isso a razão de toda a diferença!

Robert Frost

Uma semana cheia de boas energias para todos nós!

domingo, 10 de junho de 2012

A percepção da solidão...


Uma mulher entra no cinema, sozinha. Acomoda-se na última fila. Desliga o celular e espera o início do filme. Enquanto isso, outra mulher entra na mesma sala e se acomoda na quinta fila, sozinha também. O filme começa.

Charada: qual das duas está mais sozinha?

Só uma delas está realmente sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida de afetos. Já a outra foi ao cinema sozinha, mas não está só, mesmo numa situação idêntica a da outra mulher. Ela tem uma família, ela tem alguém, ela tem um álibi.

Muitas mulheres já viveram isso - e homens também. Você viaja sozinha, almoça sozinha em restaurantes, mas não se sente só porque é apenas uma contingência do momento - há alguém a sua espera em casa. Esta retaguarda alivia a sensação de solidão. Você está sozinha, não é sozinha.

Então de repente você perde seu amor e sua sensação de solidão muda completamente. Você pode continuar fazendo tudo o que fazia antes - sozinha - mas agora a solidão pesará como nunca pesou. Agora ela não é mais uma opção, é um fardo.

Isso não é nenhuma raridade, acontece às pencas. Nossa percepção de solidão infelizmente ainda depende do nosso status social. Se você tem alguém, você encara a vida sem preconceitos, você expõe-se sem se preocupar com o que pensam os outros, você lida com sua solidão com maturidade e bom humor. No entanto, se você carrega o estigma de solitária, sua solidão triplicará de tamanho, ela não será algo fácil de levar, como uma bolsa. Ela será uma cruz de chumbo. É como se todos pudessem enxergar as ausências que você carrega, como se todos apontassem em sua direção: ela está sozinha no cinema por falta de companhia! Por que ninguém aponta para a outra, que está igualmente sozinha?

Porque ninguém está, de fato, apontando para nenhuma das duas. Quem aponta somos nós mesmos, para nosso próprio umbigo. Somos nós que nos cobramos, somos nós que nos julgamos. Ninguém está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das convenções, e quando estamos sós, nossa solidão parece piscar uma luz vermelha chamando a atenção de todos. Relaxe. A solidão é invisível. Só é percebida por dentro.

Martha Medeiros



A riqueza do homem é sua incompletude...


''A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso renovar o homem usando borboletas..."

Manoel de Barros

Um domingo cheio de paz e alegria para vocês!

sábado, 9 de junho de 2012

Encantamento...


"Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas.
 E me encantei.'' 
''Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc.
Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.''

Manoel de Barros

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Livro: ''A minha palavra favorita''...


Queridos leitores, esse livro  é uma gracinha. Cheio de contos, palavras, sonhos... com inúmeros autores (a maioria, autores portugueses), inventando e fazendo poemas com as suas palavras favoritas, uma delícia de ler. No livro há muitas como: amor, amar, amanhã, árvore, bosque, beleza, antes, porto, tempo, vento, água, música, palavra, infância, mar, Cristo, mulher, violeta, casa, rio, eternidade, morte, silêncio, sabedoria, claridade, povo, sintonia, rosto, voz... e muitas outras. E você, já sabe qual é a sua palavra favorita?

Livro: A Minha Palavra Favorita,  edição Jorge Reis-Sá/ Centro Atântico.pt

Por enquanto, o conto que mais gostei, foi Cântaro, a dor da escolha, de Rosa Lobato de Faria, onde ela escolhe muitas palavras ao mesmo tempo e vai incentivando o leitor com sua criatividade poética.

Ainda não li todos os contos, estou lendo aos poucos. Um livro encantador, a minha alma agradece.

Temos que acreditar... Cada dia uma metamorfose...


Cada dia é sempre diferente dos outros, mesmo quando se faz aquilo que já se fez. Porque nós somos sempre diferentes todos os dias, estamos sempre a crescer e a saber cada vez mais, mesmo quando percebemos que aquilo em que acreditávamos não era certo e nos parece que voltamos atrás. Nunca voltamos atrás. Não se pode voltar atrás, não se pode deixar de crescer sempre, não se pode não aprender. Somos obrigados a isso todos os dias. Mesmo que, às vezes, esqueçamos muito daquilo que aprendemos antes. Mas, ainda assim, quando percebemos que esquecemos, lembramo-nos e, por isso, nunca é exatamente igual.
— Porquê, pai?
— Porque a memória não deixa que seja igual, mesmo que seja uma memória muito vaga, mesmo que seja só assim uma espécie de sensação muito vaga. É que a memória não é sempre aquilo que gostaríamos que fosse. Grande parte dos nossos problemas estão na memória volúvel que possuímos. Aquilo que é hoje uma verdade absoluta, amanhã pode não ter nenhum valor. Porque nos esquecemos, filho. Esquecemos muito daquilo que aprendemos. E cansamo-nos. E quando estamos cansados, deixamos de aprender. Queremos não aprender por vontade. Essa é a nossa maneira de resistir, mais ou menos, àquilo que nos custa entender. E aquilo que nos custa entender pode ter muitas formas, pode chegar de muitos lugares.
— Porquê, pai?
— Porque nos parece que é assim. Mas talvez não seja assim. Aquilo que nos custa entender é sempre uma surpresa que nos contradiz. Então, procuramos convencer-nos das mais diversas maneiras, encontramos as respostas mais elaboradas e incríveis para as perguntas mais simples. E acreditamos mesmo nelas, queremos mesmo acreditar nelas e somos capazes. Somos mesmo capazes. Não imaginas aquilo em que somos capazes de acreditar.
— Porquê, pai?
— Porque temos de sobreviver. Porque, à noite, a esta hora, temos de encontrar força para conseguirmos dormir, descansar, e temos de acreditar que no dia seguinte poderemos acordar na vida que quisermos, que desejamos. Temos de acreditar que poderemos acordar na vida que conseguimos construir e que essa vida tem valor, vale a pena. Muito mais difícil do que esse esforço é considerarmos que fomos incapazes, que não conseguimos melhor, que a culpa foi nossa, toda e exclusiva.

Do livro "Abraço", de José Luís Peixoto

Um ótimo feriado para você, divirta-se! Bjs

Tudo se expressa na eloquência do silencio...


Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"