sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A festa de Babette...


Um dos meus prazeres é passear pela feira. Vou para comprar. Olhos compradores são olhos caçadores: vão em busca de caça, coisas específicas para o almoço e a janta. Procuram. O que deve ser comprado está na listinha. Olhos caçadores não param sobre o que não está escrito nela. Mas não vou só para comprar. Alterno o olhar caçador com o olhar vagabundo. O olhar vagabundo não procura nada. Ele vai passeando sobre as coisas. O olhar vagabundo tem prazer nas coisas que não vão ser compradas e não vão ser comidas. O olhar caçador está a serviço da boca. Olham para a boca comer. Mas o olhar vagabundo, é ele que come. A gente fala: comer com os olhos. é verdade. Os olhos vagabundos são aqueles que comem o que veem. E sentem prazer. A Adélia diz que Deus a castiga de vez em quando, tirando-lhe a poesia. Ela explica dizendo que fica sem poesia quando seus olhos, olhando para uma pedra, veem uma pedra. Na feira é possível ir com olhos poéticos e com olhos não poéticos. Os olhos não poéticos veem as coisas que serão comidas. Olham para as cebolas e pensam em molhos. Os olhos poéticos olham para as cebolas e pensam em outras coisas. Como o caso daquela paciente minha que, numa tarde igual a todas as outras, ao cortar uma cebola viu na cebola cortada coisas que nunca tinha visto. A cebola cortada lhe apareceu, repentinamente, como o vitral redondo de catedral. Pediu o meu auxílio. Pensou que estava ficando louca. Eu a tranquilizei dizendo que o que ela pensava ser loucura nada mais era que um surto de poesia. Para confirmar o meu diagnóstico lembrei-lhe o poema de Pablo Neruda "A Cebola", em que ele fala dela como "rosa d'água com escamas de cristal". Depois de ler o poema do Neruda uma cebola nunca será a mesma coisa. Ando assim pela feira poetizando, vendo nas coisas que estão expostas nas bancas realidades assombrosas, incompreensíveis, maravilhosas. Pessoas há que, para terem experiências místicas, fazem longas peregrinações para lugares onde, segundo relatos de outros, algum anjo ou ser do outro mundo apareceu. Quando quero ter experiências místicas eu vou à feira. Cebolas, tomates, pimentões, uvas, caquis e bananas me assombram mais que anjos azuis e espíritos luminosos. Entidades encantadas. Seres de um outro mundo. Interrompem a mesmice do meu cotidiano.

Pimentões, brilhantes, lisos, vermelhos, amarelos e verdes. Ainda hei de decorar uma árvore de Natal com pimentões. Nabos brancos, redondos, outros obscenamente compridos. Lembro-me de uma crônica da querida e inspirada Hilda Hilst que escandalizou os delicados: ela ia pela feira poetizando eroticamente sobre nabos e pepinos. Escandalizou porque ela disse o que todo mundo pensa mas não tem coragem de dizer. Roxas berinjelas, cenouras amarelas, tomates redondos e vermelhos, morangas gomosas, salsinhas repicadas a tesourinha, cebolinhas, canudos ocos, bananas compridas e amarelas, caquis redondos e carnudos (sobre eles o Heládio Brito escreveu um poema tão gostoso quanto eles mesmos), mamões, úteros grávidos por dentro, laranjas alaranjadas (um gomo de laranja é um assombro, o suco guardado em milhares de garrafinhas transparentes), cocos duros e sisudos, pêssegos, perfume de jasmim do imperador, cachos de uvas, delicadas obras de arte, morangos vermelhos, frutinhas que se comem à beira do abismo...Minha caminhada me leva dos vegetais às carnes: linguiças, costelas defumadas, carne de sol, galinhas, codornizes, bacalhau, peixes de todos os tipos, camarões, lagostas. Os vegetarianos estremecem. Compreendo, porque na alma eu também sou vegetariano. Fosse eu rei decretaria que no meu reino nenhum bicho seria morto para nosso prazer gastronômico. Mas rei não sou. Os bichos já foram mortos contra a minha vontade. Nada posso fazer para trazê-los de volta à vida. Assim, dou-lhes minha maior prova de amor: transformo-os em deleite culinário para que continuem a viver no meu corpo. De alguma maneira vivem em mim todas as coisas que comi. Sobre isso sabia muito bem o genial pintor Giuseppe Arcimboldo (1527-1593), que pintava os rostos das pessoas com os legumes, frutas e animais que se encontram nas bancas da feira. (Dê-se o prazer de ver as telas de Arcimboldo. Nas livrarias, coleção Taschen, mais ou menos quinze reais).

Meus pensamentos começam a teologar. Penso que Deus deve ter sido um artista brincalhão para inventar coisas tão incríveis para se comer. Penso mais: que ele foi gracioso. Deu-nos as coisas incompletas, cruas. Deixou-nos o prazer de inventar a culinária.

Comer é uma felicidade, se se tem fome. Todo mundo sabe disto. Até os ignorantes nenezinhos. Mas poucos são os que se dão conta de que felicidade maior que comer é cozinhar. Faz uns anos comecei a convidar alguns amigos para cozinharmos juntos, uma vez por semana. Eles chegavam lá pelas seis horas (acontecia na casa antiga onde hoje está o restaurante Dali). Cada noite um era o mestre cuca, escolhia o prato e dava as ordens. Os outros obedeciam alegremente. E aí começávamos a fazer as coisas comuns preliminares a cozinhar e comer: lavar, descascar, cortar — enquanto íamos ouvindo música, conversando, rindo, beliscando e bebericando. A comida ficava pronta lá pelas 11 da noite.

Ninguém tinha pressa. Não é por acaso que a palavra comer tenha sentido duplo. O prazer de comer, mesmo, não é muito demorado. Pode até ser muito rápido, como no McDonald's. O que é demorado são os prazeres preliminares, arrastados — quanto mais demora maior é a fome, maior a alegria no gozo final. Bom seria se cozinha e sala de comer fossem integradas — os arquitetos que cuidem disso — para que os que vão comer pudessem participar também dos prazeres do cozinhar. Sábios são os japoneses que descobriram um jeito de pôr a cozinha em cima da mesa onde se come, de modo que cozinhar e comer ficam sendo uma mesma coisa. Pois é precisamente isto que é o sukiyaki, que fica mais gostoso se se usa kimono de samurai.

Quem pensa que a comida só faz matar a fome está redondamente enganado. Comer é muito perigoso. Porque quem cozinha é parente próximo das bruxas e dos magos. Cozinhar é feitiçaria, alquimia. E comer é ser enfeitiçado. Sabia disso Babette, artista que conhecia os segredos de produzir alegria pela comida. Ela sabia que, depois de comer, as pessoas não permanecem as mesmas. Coisas mágicas acontecem. E desconfiavam disso os endurecidos moradores daquela aldeola, que tinham medo de comer do banquete que Babette lhes preparara. Achavam que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. No que eles estavam certos. Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles imaginavam. Achavam que Babette iria por suas almas a perder. Não iriam para o céu. De fato, a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos maravilhosos, o prazer amaciando os sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso, in vino veritas... Está tudo no filme A Festa de Babette. Terminado o banquete, já na rua, eles se dão as mãos numa grande roda e cantam como crianças...Perceberam, de repente, que o céu não se encontra depois que se morre. Ele acontece em raros momentos de magia e encantamento, quando a máscara-armadura que cobre o nosso rosto cai e nos tornamos crianças de novo. Bom seria se a magia da Festa de Babette pudesse ser repetida...

Rubem Alves

Um lindo final de semana a todos, cheio de momentos agradáveis!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Amor invoca amor e ódio invoca ódio... A escolha é sua...



"Amor invoca amor e ódio invoca ódio. Tudo aquilo que nós damos retorna para nós. Essa é uma lei eterna. Assim, tudo aquilo que você deseja receber, é aquilo que você deve dar ao mundo. Você não pode receber flores em retribuição a espinhos".


Osho

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Nós somos casas muito grandes...



"Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas."

António Lobo Antunes (Escritor e Psiquiatra português)

Temos muitos talentos, vocações, e áreas por explorar. Com o desenrolar da vida, temos tendência a acomodar-nos a um ou dois dos nossos quartos interiores, e deixarmos todo o resto por explorar. Claro que muitas vezes não há oportunidade. Mas não podemos deixar que essa desculpa nos impeça de tentar. Tentar sempre. Há muitas pérolas à nossa espera, e no sítio mais próximo: dentro de nós.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

No final do túnel existe uma janela...

                                                                        

 No final do túnel existe uma janela. Talvez você precise antes passar por uma sequência interminável de portas fechadas e treinar seus ouvidos para som da batida de cada uma delas, mas não deixe de caminhar.
Eu sei que não tem a menor graça andar no escuro, e por não saber nada sobre o caminho, algumas vezes você irá tropeçar. Mas lembre-se, que é justamente essa coragem de andar por um lugar desconhecido e adquirir habilidade para se curar de cada tombo, que fará você começar a enxergar aos poucos frestas de luz.
E pode não parecer, mas o som de cada porta se fechando um dia irá soar como música aos seus ouvidos. A canção de quem aprendeu a ler as esperas. De quem aceitou a partitura da fé e aprendeu a tocar as notas no momento adequado.



Fernanda Gaona

Esforçamo-nos mais por evitar o sofrimento do que procurar o prazer...

Privamo-nos para mantermos a nossa integridade, poupamos a nossa saúde, a nossa capacidade de gozar a vida, as nossas emoções, guardamo-nos para alguma coisa sem sequer sabermos o que essa coisa é. E este hábito de reprimirmos constantemente as nossas pulsões naturais é que faz de nós seres tão refinados. Porque é que não nos embriagamos? Porque a vergonha e os transtornos das dores de cabeça fazem nascer um desprazer mais importante que o prazer da embriaguez. Porque é que não nos apaixonamos todos os meses de novo? Porque, por altura de cada separação, uma parte dos nossos corações fica desfeita. Assim, esforçamo-nos mais por evitar o sofrimento do que na busca do prazer. 

Sigmund Freud, in 'Correspondência (1883)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Começando a semana com a fantástica Florbela Espanca...



Eu ...



Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!


 Florbela Espanca 

Uma semana de luz e paz a todos!

domingo, 26 de janeiro de 2014

"...Vá sempre que puder ver o pôr do sol...



''Nada é errado, quando o erro faz parte de uma procura ou de um processo de conhecimento. Gosto de olhar as pedras e os desenhos do vento na superfície da água, gosto de sentir as modificações da luz quando o sol está desaparecendo do outro lado do rio, gosto de sentir o dia se transformando em noite e em dia outra vez, gosto de olhar as crianças brincando no corredor de entrada e das palmeiras que existem no meio da minha rua...''

Caio Fernando Abreu – Carta para Vera Antoun 

Um lindo domingo e bom descanso! ♥ ♥ ♥

sábado, 25 de janeiro de 2014

Embora a gente esqueça, a vida é mágica...


Acredito é na gota de mel que essa coisa-deus-destino-orixá vezenquando derrama sobre nossa cabeça.

Caio Fernando Abreu – Um remédio que dá alegria

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Nesse fim de semana quero me ''encharcar'' de música, livro e filme...



''Eu me deixo encher de felicidade e admiração, quando gosto — música, livro, filme, principalmente pessoa. Chafurdo, chapinho, me encharco [...]. O que me deixa mais forte, ou no mínimo menos áspero...''

Caio Fernando Abreu – Um remédio que dá alegria

Um lindo final de semana a todos! ♥ ♥ ♥

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Respeite você, esse é o único meio de viver...



Respeite a Você Mais do que aos OutrosNão pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (...) Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. (...) Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, ou falta de caráter. (...) Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. (...) Uma amiga, um dia desses, encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou essa calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinquenta anos. (...) o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver. 

Clarice Lispector, in 'Carta a Tânia [irmã de Clarice] (1947)
Maravilhoso texto!

Uma grande verdade...



Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido.

Hermann Hesse 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Busque assertividade, valorize-se!



Que neste ano que se inaugura, transborde inspiração para a vida, criatividade para encontrar caminhos até então inexistentes, sabedoria para conduzir as coisas, um coração sossegado, uma alma livre, uma mente aberta, a sensibilidade aflorada, generosidade para estender a mão para o Outro, capacidade de perdoar a si e a todos, força para não se deixar ferir, disposição para ser produtivo com alegria. Esteja inteiro, liberte-se de qualquer coisa que amarre seus sonhos. Faça da felicidade um ofício. Viva com honestidade e transparência, contamine com o otimismo, não se deixe ser contagiado pelo pessimismo. Seduza apenas o que lhe interessar, não economize elogios, julgue a ação e não a pessoa inteira. Seja grato, reclame menos, perceba as conquistas diárias, valorize-se! Respeite, exija o mesmo. Busque assertividade e posicionamento sem agressividade. Aprenda a receber amor, a pedir ajuda, a doar sem doer. E seja tão feliz, tão amado, tão desapegado do sofrimento, tão inteligente a ponto de se dar mordomias emocionais quando estiver melancólico. Apaixone-se, seja boa companhia para si mesmo. Não celebre a vida só em datas comemorativas: ela é uma dádiva.
Desejo boas notícias.

Marla de Queiroz

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Conselhos de Thoreau... Aprendendo a Viver


Thoreau era um filósofo americano que, entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura de jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado. 

Thoreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas «melhore o momento presente», exclamava. E acrescentava: «Estamos vivos agora.» E comentava com desgosto: «Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar.» 

A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe. 

Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda. 
Ele queria que fizéssemos agora o que queremos fazer. A vida inteira Thoreau pregou e praticou a necessidade de fazer agora o que é mais importante para cada um de nós. 
Por exemplo: para os jovens que queriam tornar-se escritores mas que contemporizavam — ou esperando uma inspiração ou se dizendo que não tinham tempo por causa de estudos ou trabalhos — ele mandava ir agora para o quarto e começar a escrever. 
Impacientava-se também com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. «É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber.» 
E dizia esta coisa forte que nos enche de coragem: «Por que não deixamos penetrar a torrente, abrimos os portões e pomos em movimento toda a nossa engrenagem?» Só em pensar em seguir o seu conselho, sinto uma corrente de vitalidade percorrer-me o sangue. Agora, meus amigos, está sendo neste próprio instante. 

Thoreau achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes. E também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos. Dizia ele: «A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos.» É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente julgam-se tão mal que no fundo estão alarmadas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, pois «o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino». 

E, por mais inesperado que isso seja, ele dizia: tenha pena de si mesmo. Isso quando se levava uma vida de desespero passivo. Ele então aconselhava um pouco menos de dureza para com eles próprios. O medo faz, segundo ele, ter-se uma covardia desnecessária. Nesse caso devia-se abrandar o julgamento de si próprio. «Creio», escreveu, «que podemos confiar em nós mesmos muito mais do que confiamos. A natureza adapta-se tão bem à nossa fraqueza quanto à nossa força.» E repetia mil vezes aos que complicavam inutilmente as coisas — e quem de nós não faz isso? —, como eu ia dizendo, ele quase gritava com quem complicava as coisas: simplifique! simplifique! 

Clarice Lispector, in Crônicas no 'Jornal do Brasil (1968)

Outras vidas, outros eus...


Ao desejarmos realidades diferentes, questionamos - até sem perceber - o que nos que faz ansiar por um mundo idealizado...

Pense um instante. E se você não tivesse feito as opções que fez até hoje e, em consequência, vivido experiências diferentes? Ainda assim você seria como é, pensaria da mesma maneira, terias as mesmas faltas e nutriria os mesmo desejos que cultiva? Enfim: seria a mesma pessoa que neste instante está lendo este texto? Difícil dizer. Ainda assim, parece inevitável vez ou outra pensarmos o que teria sido de nós se tivéssemos aceito aquela proposta há alguns anos, dito “não” em vez de sim (ou vice-versa), marcado o “x” em outa coluna, escolhido outra companhia, outras palavras, outros caminhos. Citando apropriadamente o escritor Redwald Hugh Trevor-Roper (1914-2003), em History and imagination, o psicanalista britânico Adam Phillips escreve: “A história não é meramente o que aconteceu; é o que aconteceu no contexto daquilo que poderia ter acontecido”. Em seu livro mais recente, O que você é e o que você quer ser, o autor trata dessas “possíveis outras vidas” que nos acompanham, às vezes mais de perto, às vezes menos, evocando os riscos que não corremos e as oportunidades que não nos foram oferecidas (ou que simplesmente evitamos). 

Para o ensaísta, ex-diretor do serviço de psicoterapia do Hospital Charing Cross, em Londres, a vida mental “revela vidas que não estamos vivendo, que deixamos passar em branco, que poderíamos ter, mas que, por alguma razão, não temos”. E, a partir disso, fato é que sempre fantasiamos vivências, coisas e pessoas ausentes em nossas vidas – ainda que nem sempre saibamos exatamente quais sejam elas e muito de nossas projeções contornadas pela imaginação confiram coloridos diversos da realidade às situações. A todo o momento, o cinema e a literatura falam desse imaginário que ronda o ser humano. A ausência daquilo que precisamos (ou pensamos que precisamos) nos angustia.

Não raro, nos consultórios de psicólogos e psicanalistas aparece a inquietude traduzida em queixas de tristeza e irritação. Cabe ao par analítico desvendar pistas para compreender o que sustenta os sintomas e, assim, estabelecer conexões que façam surgir sentidos. Em seu livro, o autor fala do limite que se impõe nessa luta diária travada – com o outro e com o mundo – na tentativa de fazer com que desejos sobrevivam. Nessa faina constante, muitos se apegam ao “mito do potencial”, capaz de transformar a existência de uma pessoa num perpétuo “vir a ser” que não desabrocha e reproduz a sensação de incompletude. Não parece difícil identificar na maioria dos círculos sociais pessoas que aparentemente sabem ter (e talvez tenham) condições de realizar algo, mas se perdem em labirintos de promissoras promessas. Na prática, mantém a ilusão de que é possível resguardar-se de frustações imposta pela realidade nem sempre confortável, mas com papel tão fundamental no processo de amadurecimento psíquico.

Para tecer essas reflexões e falar da inexorável lacuna existente entre aquilo que queremos e o que de fato podemos ter, Adam Phillips recorre às ideias de princípio do prazer e princípio da realidade, apresentadas por Freud em 1911, no artigo “Formulações sobre os dois princípios de funcionamento mental”. “Esse suposto desajuste é a origem da nossa experiência de perda, bem como a origem da ação política engajada; como se acreditássemos na existência de um mundo em outro lugar, repleto daquilo que Freud chama de ‘satisfação completa’ e Camus chamaria de ‘um mundo mais justo’”.

Segundo o autor, qualquer ideal, qualquer mundo desejado, é uma forma de perguntar qual é o tipo de contexto em que estamos vivendo que faz o universo ideal uma solução. “Nossas utopias nos dizem mais sobre as vidas vividas e suas privações do que sobre nossas vidas sonhadas”, escreve. Afinal, são nossos desejos que estabelecem conexões entre o ser e o vir a ser. Para que esse processo se dê de maneira saudável é fundamental lidar com as perspectivas de frustração. Para Freud, é somente ao passarmos por estados de privação que podemos “alucinar” o que queremos – nos permitimos imaginar a realização do desejo, dando início à elaboração que se insere justamente como pré-condição para a elaboração. 

Mas antes de falar em satisfação, evocando personagens clássicos da tragédia, como Rei Lear, Otelo e Mccbeth, heróis que fizeram “ideia errada” do que almejavam, Phillips faz um alerta: se faz necessário recuperar a capacidade de nos frustrarmos: “É preciso lutar contra as tentativas de roubo dos nossos desejos antes mesmo que nós os percebamos”. A boa notícia é que sim, a satisfação é possível. Provavelmente não completa, não incondicional, não definitiva – e certamente não da forma como (arrogantemente) decidimos um dia que seria. Mas é possível; frágil, no entanto passível de cuidadosa e constante reconstrução.

Fonte: Mente&Cérebro

Que assim seja...



"Abençoadas sejam todas as voltas que a vida dá..." 

Ita Portugal

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Como você gasta seu tempo de vida?


A peça 700 mil horas reflete sobre o tempo que investimos em atividades improdutivas.

A expectativa de vida do brasileiro é 73 anos. Desse tempo, quanto em média é investido em atividades cotidianas geralmente improdutivas como engarrafamentos, filas e assistir televisão? 

Essa é a reflexão proposta pela companhia de teatro Luis Louis em 700 mil horas: em 60 minutos, os atores simulam os dias de uma pessoa de seu nascimento até a morte, enquanto são computados no “Placar da vida”, um quadro luminoso instalado no palco, horas e minutos gastos em cada tarefa, mesmos as mais necessárias, como tomar banho e cozinhar. Ao final, os dados são somados e é apresentado ao espectador o tempo que “sobra” para poder olhar para si, seus desejos e seus sonhos e tentar tirar um saldo positivo no jogo contra a efemeridade, inerente à condição humana. 

700 mil horas. Espaço Parlapatões. Praça Roosevelt, 158, Consolação, São Paulo. 
Quintas, às 21h. Informações: (11) 3258-4449. R$ 40. De 9 a 30 de janeiro.

Eu não quero nada além do que mereço...


"Eu não quero nada além do que mereço: caminhar serena dentro do meu poema, respeitar todo e quaisquer momentos, saber utilizar meus aprendizados, amar e ser amada quando for meu tempo. Sei que passam a saudade e a tristeza e o entusiasmo que vivem comigo. Por isso, faço do transitório meu amigo..."

Marla de Queiroz

Uma semana iluminada a todos, cheia de paz, amor e boas energias! ♥ ♥ ♥

domingo, 19 de janeiro de 2014

Os momentos especiais não tem preço...



"Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade. São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito. Felicidade não é o destino e sim a viagem."


Martha Medeiros

Bom domingo pessoal! ♥ ♥ ♥

Costa do Sauípe, um lindo lugar para descansar, relaxar e aproveitar...

 Caros leitores! Feliz 2014!


Começando o ano com boas energias na Costa do Sauípe... tudo de bom!

Os resorts consagraram a Costa do Sauípe como um grande destino turístico nacional. Localizada a cerca de 75 km ao norte de Salvador, na Costa dos Coqueiros, a região é privilegiada por uma bela orla com mar de águas verdes e uma vastidão de dunas e coqueirais. São cinco opções de hospedagem, todos com diária all-inclusive, além de outras pousadas temáticas -- boa dica para quem está a fim de economizar.

Boas atividades é o que não faltam por aqui. Parasail, pesca oceânica, mergulho e canoagem são alguns passeios disputados para os que gostam de aventura, enquanto que observação de baleias e de tartarugas-marinhas estão disponíveis em certos períodos do ano. Atividades esportivas mais comuns são igualmente bem cobertas. Enquanto que o destaque é o campo de golfe de 18 buracos, os hóspedes também podem utilizar as 15 quadras de tênis (6 de saibro e 9 de piso asfáltico), 2 quadras de squash e 4 quadras poliesportivas.
O centro "social" da Costa do Sauipe é a Vila Nova da Praia, como lojinhas de suvenires, moda e artesanatos, restaurantes variados e bares. Aqui também ficam um banco e farmácia.
Para as famílias com crianças, o Sauipe Kids oferece boas opções de lazer para aqueles que têm a partir dos quatro anos de idade. Aqui elas terão à disposição uma piscina infantil, brinquedoteca, atividades ao ar-livre e monitores. Também disponível é o serviço de baby-sitter, sob reserva.
Na hora de relaxar, o Sauípe Spa traz hidromassagem, tratamentos terapêuticos, massagem, fitness center, salão de beleza e sauna.
COMO CHEGAR
A partir de Salvador, o acesso é feito pela BA-099 (Linha Verde), na altura do km 74.
Para quem chega de avião, o transfer pode ser arranjado diretamente com o seu hotel.
ONDE FICAR
O complexo de resorts mais antigo do país vem, desde 2010, investindo em melhorias. Não bastasse as reformas básicas de manutenção, a Sauipe S.A. – empresa que administra o conjunto -- assumiu o antigo Breezes (hoje Sauipe Club) e inaugurou novos espaços destinados ao público infantil. Alguns detalhes, contudo, seguem iguais: a Vila Nova da Praia permanece repleta de lojinhas e casinhas cênicas, e a enorme estrutura de lazer (com quadras poliesportivas e centros náutico e equestre) continua disponível a todos os hóspedes. 
Sauipe Park, o maior de todos, é muito procurado por grandes grupos e é o mais tranquilo e arborizado de todos. Para quem quer agito, a recomendação é o Sauipe Fun, que fica junto à praia. O favorito das famílias é o Sauipe Club, por conta de suas piscinas e monitores bem animados. Já o público mais maduro tenderá a preferir o Sauipe Class, mais austero e reservado. O mais luxuoso de todos é o Premium, com restaurantes e piscinas exclusivos.
Veja mais detalhes em Costa do Sauípe no Facebook, Instagram ou no site: www.costadosauipe.com.br/

Veja algumas fotos que tiramos lá:
Ficamos no Sauípe Premium e isso nos deu o direito de circular por todos os outros resorts e consumir livremente...

















O que não falta na Costa do Sauípe é criança para brincar...
   

Sauípe Class...





Sauípe Náutica... lugar de aventura!


 


Na praia... em frente ao Sauípe Premium







Para quem aprecia um bom espumante... Na beira da piscina...
Um brinde à vida!




Fim de tarde no bar Stella Artois



Restaurante Tequila! Muchos tacos, quesadillas y burritos!!! Infelizmente não tirei fotos das entradas, apenas dos pratos principais!




Na Vila da Praia...

Amores... na Vila da Praia

Em frente uma das Pousadas...



Na Cantina Italiana da Vila







Foram dias incríveis. Até a próxima viagem pessoal, se Deus quiser! Beijos ♥