domingo, 4 de dezembro de 2011

Anita Malfatti e algumas de suas obras...


Tropical
                                                                       
A Estudante Russa

A Boba
                                                 
                                                        
Filha do engenheiro italiano Samuel Malfatti e de mãe norte-americana Betty Krug, segunda filha do casal, nasceu com atrofia no braço e na mão direita. Aos três anos de idade foi levada pelos pais a Lucca, na Itália, na esperança de corrigir o defeito congênito. Os resultados do tratamento médico não foram animadores e Anita teve que carregar essa deficiência pelo resto da sua vida. Voltando ao Brasil, teve a sua disposição Miss Browne, uma governanta inglesa, que a ajudou no desenvolvimento do uso da mão esquerda e no aprendizado da arte e da escrita.

Anita Malfatti é considerada a primeira representante do modernismo no Brasil. Ela nasceu em São Paulo em 2 de dezembro de 1889 e faleceu aos 74 anos, em 6 de novembro de 1964. Aos 19 anos Anita formou-se professora pela Escola Normal e em 1910 mudou-se para Berlim onde, no ano seguinte, matriculou-se na Academia Real de Belas Artes. Em visita a uma exposição ela conheceria uma arte “rebelde” cujas regras não eram ditadas pelo academicismo da época. Foi com esta arte que ela se identificou.
Em 1914, após regressar ao Brasil Anita Malfatti viajaria para os Estados Unidos onde teve oportunidade de matricular-se na Art Students League, uma associação desvinculada do academicismo escolar. Ali, pôde dar “asas” à liberdade e sua criação eclodiu com força o que é representado em suas produções. Neste período a arte de Anita Malfatti assume um brilho singular.
Consagrada, Anita retorna ao Brasil e, segura de sua arte, realiza, em 1917, uma exposição individual. As concepções de arte de Anita Malfatti representavam algo novo para os padrões da época e o “novo”, de modo geral, assusta, portanto, assim se explica as críticas por ela enfrentadas. O que Anita entendia por arte em nada se assemelhava ao que a Academia denominava, então, como arte. Ao contrário, se contrapunha às regras e voltava-se para o expressionismo e não era isso que se esperava.
A maneira como ela percebia a arte veio “desarrumar” o que era aceito. Para ela, porém, não era somente o que era belo que existia. O feio fazia parte da realidade e era por ela retratado em sua arte. Era a expressão que se fazia presente porque era assim que Anita percebia a arte. Suas pinturas – modernas – tinham, portanto, motivos para causar desaprovação.
A exposição – considerada um escândalo por representantes da sociedade de então – traria consequências desastrosas para o futuro artístico de Anita Malfatti. Bombardeada pelas críticas vindas não dos inimigos, mas, justamente dos que acreditava serem aliados, Anita, tímida, caiu em depressão e recuou em sua produção artística. Sua obra foi duramente criticada principalmente pelo escritor Monteiro Lobato, então, crítico de arte. Por mais que ele enfatizasse o modernismo em suas críticas e fizesse elogios a Anita, foi a ela própria e não ao modernismo que ele atingiu uma vez que ela não poderia desvincular de sua arte.
Posteriormente Anita conheceu Tarsila do Amaral e tornaram-se grandes amigas. Anita Malfatti participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e, apesar de não ter abandonado a arte, os “estragos” causados pela exposição de 1917 se refletiriam ao longo de toda sua vida.

Leia parte do artigo denominado “Paranoia ou Mistificação?”, de autoria de Monteiro Lobato, sobre a Exposição de Anita Malfatti ( referindo-se a obra Nu cubista) :
“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas(..) A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (…) Embora eles se dêem como novos, precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação.(…) Essas considerações são provocadas pela exposição da senhora. Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia”.
A reação da elite paulistana foi imediata e devastadora : transformou a exposição em um escândalo. Muitos quadros foram devolvidos e a mostra é fechada antes do tempo.
Após a morte de sua mãe, Anita se afastou do meio artístico por algum tempo, no entanto, quando regressou oficialmente em uma exposição individual de 1955, a artista apresentou suas obras produzidas nesse período de reclusão. Seu novo tema, era exclusivamente a arte popular brasileira, opção esta, considerada por ela e por diversos profissionais sua melhor e mais pura fase.

Anita Malfatti faleceu em 6 de novembro de 1964.