quarta-feira, 21 de setembro de 2022

''Vim ao mundo para questionar. Para me entender. Para ser feliz. Por isso, escrevo. Palavras são minha terapia. Meu remédio. Meu ponto de fuga e encontro. Na arte, eu me busco. É lá que eu sempre estou. Procurando o verbo, indagando a letra, consolando a frase que chegou ao fim. Quer me conhecer? Me encontre naquele romance antigo, segundo parágrafo, mostrando que a solidão não deve se atravessar a sós. Talvez eu possa – e isso é quase certo – me mudar pros tons daquela bela música e por lá ficar: feita de luz mais que de vento...'' (Fernanda Mello)

São livros (mas podem ser canções, filmes, quadros, peças e, antigamente, até pessoas) que você ama tanto que quer ficar morando dentro dele, dela. Quer ver toda hora. Absorve o jeito do outro, e esse jeito absorvido da coisa pela qual você está apaixonado, você fica aplicando no cotidiano, feito você fosse aquela própria coisa apaixonante. Que nos tira de nós, alarga (...) Você lê e sofre. Você lê e ri. Você lê e engasga. Você lê e tem arrepios. Você lê, e a sua vida vai-se misturando no que está sendo lido (...) Tudo isso só me prova que minhas paixões são semelhantes. Amo tudo que afunda a cara na lama da vida crua e consegue arrancar o belo desse mergulho (...) Depois abro Adélia Prado e leio: “a vida é tão bonita/ basta um beijo/ e a delicada engrenagem movimenta-se/ uma necessidade cósmica nos protege”. Depois durmo, certo de que ainda há muitas histórias para serem lidas, para serem escritas, para serem lembradas. Até para serem vividas, quem sabe?

Caio Fernando Abreu