“O que há de errado comigo? Eu sou tão insensível às vezes…”
Já ouviu isso? Essa é uma das perguntas que mais se repetem por aqui.
Vem cá que eu vou conversar com você, tela com tela, porque não dá para ser olho no olho… Nada está "errado" com você. O que existe e merece ser cuidado com carinho, são defesas que você criou para lidar com dores profundas. E muitas vezes, o que parece "insensibilidade" é, na verdade, uma armadura emocional que você aprendeu a vestir para sobreviver. Não é que você não sinta, você disfarça, finge não sentir, não quer olhar para ela, para essa dor, porque dói muito.
Às vezes, você se sente insensível… mas será que é? Eu acredito que não, não mesmo. Sabe por quê? Porque quem é de verdade, jamais se questionaria se é ou não é. Não estaria nem aí com isso. Você não é insensível, você só tem receio de mostrar que não é. Por medo de se magoar, sofrer, se enganar, ser machucado… se é que você, já não foi!
É mais fácil viver assim, do que se arrepender depois. Mas isso é vida? Você acha mesmo que se esconder, se camuflar, não se permitir sentir, ou não arriscar, ou fugir da vida, da dor, do amor… é vida? Com medo de mergulhar você nunca terá o prazer de conhecer as profundezas do mar…
Eu entendo perfeitamente o que se passa aí dentro, mas querer ser autossuficiente e evitar sofrer de todas as formas possíveis, chegar até a se autodestruir ou se sabotar, se controlar, não é uma forma saudável de viver. Na sua mente, você acha que está fugindo da dor, e o pior é que esse ciclo pode se repetir, você também acha que está fugindo dos outros, e na realidade é que quem vive assim, está fugindo de si mesmo. Dos sonhos, dos desejos, das realizações e da própria felicidade que quer para si ou sonhou!
Por isso, não tenha medo. Esse jogo não está perdido.
Às vezes, a mente e o coração entram num tipo de “congelamento emocional”por cansaço, estresse ou trauma não processado. É como se a nossa psique dissesse: “Eu não consigo mais... Eu preciso me proteger.”
Aqui vai uma verdade gentil: você não é insensível. Você está tentando não desabar. E isso, em si, já é uma forma de dor silenciosa. Você ainda sente. Você ainda ama. Só está cansada(o) de sentir tanto, de amar tanto, sem saber em quem se apoiar. A sua sensibilidade não desapareceu. Ela apenas se escondeu atrás das paredes que você mesmo construiu para se manter viva(o) e se proteger, sem sofrer tanto. E como quebrar esses muros que você mesmo construiu? Criando consciência, que você pode fazer algo para tornar-se mais feliz.
Responda essas perguntas e pense sobre elas:
Em que momentos eu me senti culpada(o) por não sentir “o bastante”?
Quem me ensinou que eu tinha que ser forte o tempo todo?
Quando foi que eu parei de me permitir sentir?
Há quanto tempo eu estou fugindo do “sentir” com verdade?
Em que momento me fechei ou me distanciei?
Há alguns tipos de apegos que aprendemos na infância que interferem nesses processos psíquicos e nos nossos relacionamentos até hoje.
Preciso falar sobre eles: Apego Seguro, Apego Ansioso, Apego Evitativo, Apego Desorganizado. Muitas vezes são eles que moldam os nossos relacionamentos, sem termos consciência disso...
Apego Seguro:
Consegue se vincular com intimidade e confiança. Sabe que pode contar com o outro, mas também consegue ficar sozinha(o). Consegue expressar emoções e ouvir as do outro sem entrar em conflitos. Teve cuidadores disponíveis, previsíveis e afetuosos. Aprendeu que o amor é confiável e que merece ser amada(o). No amor, seus relacionamentos são saudáveis, com liberdade e conexão. Aceita a presença e a ausência do outro sem desespero.
Apego Ansioso (ou Ambivalente):
Medo intenso de abandono. Busca constantemente por atenção, validação e proximidade. Vive em estado de alerta emocional: “Será que me ama mesmo?” Tiveram pais ou cuidadores inconsistentes: às vezes carinhosos, às vezes ausentes. A criança aprende que precisa “fazer algo” para merecer amor. E no relacionamento amoroso, apresenta: vínculos intensos, ciúmes, insegurança, medo de ficar sozinha(o). Pode sufocar o outro emocionalmente.
Apego Evitativo:
Evita intimidade profunda. Valoriza a autonomia acima de tudo. Reprime emoções e dificilmente expressa vulnerabilidade. Acha que "precisa resolver tudo sozinha(o)". Cuidadores frios, rígidos ou emocionalmente indisponíveis ou ausentes. A criança aprende: “Não posso contar com ninguém. Preciso me virar sozinha.” E no amor: distância emocional. Relações superficiais ou com medo do “grude”. Pode parecer frio, desapegado ou indiferente, mas é só uma fachada, uma armadura.
Apego Desorganizado:
Mistura de apego ansioso e evitativo. Quer proximidade, mas sente medo dela ao mesmo tempo. Pode ter explosões emocionais, se fechar completamente, ou viver entre extremos. Histórias de trauma, abuso ou negligência grave. Cuidadores que eram fonte de amor e medo ao mesmo tempo. No amor: relações caóticas, intensas, com rupturas e reconciliações constantes. Muito sofrimento emocional. Dificuldade em confiar e se entregar.
A consciência é o primeiro passo para a mudança. Desenvolva a sua empatia. Escute sem interromper. Tente pensar: “Como eu me sentiria se estivesse no lugar dele?” Valide os sentimentos da outra pessoa com frases como: “Entendo que isso te deixou mal.” “Faz sentido você se sentir assim.”
Comece com gestos simples. Elogie. Mostre cuidado. Seja gentil.
A insensibilidade é uma forma de autoproteção emocional que pode ser suavizada com prática, empatia e coragem para mudar. E o simples fato de você se importar com isso já é um ótimo sinal da sensibilidade querendo aflorar aí dentro de você. Se estiver difícil, procure terapia, ok?