Um garoto de 13 anos é acusado de assassinar uma colega de escola, levando a família, os terapeutas e o investigador do caso a se perguntarem: o que realmente aconteceu?
Essa série britânica, se apresenta como um retrato cru e sensível dos dilemas da juventude contemporânea, abordando com profundidade as relações familiares, o impacto das redes sociais e os desafios da educação no contexto de uma sociedade cada vez mais conectada e voltada para as redes sociais. O sucesso da produção pode ser atribuído, além de suas qualidades audiovisuais, à sua capacidade de dialogar com questões pertinentes e urgentes, com uma abordagem que tanto emociona quanto provoca reflexão.
Uma das coisas bem interessantes nessa série, é que não há cortes, todos os episódios são gravados numa sequência até o seu fim. A câmera é constante, podem reparar. Imagina a atenção redobrada de todos os atores! Se errarem uma cena, ou um movimento, terão que voltar para o início, porque não há nenhum corte do início ao fim de cada episódio.
A última cena do último episódio é muito comovente. Não quero falar mais nada para não dar spoiler, mas todo adolescente precisa ter uma liberdade assistida.
Pais fiquem sempre de olhos bem abertos, no que seus adolescentes andam fazendo nas redes sociais! O jeito que andam se comportando em casa, observem sempre, a maneira de agir e pensar e principalmente os seus posicionamentos sobre os diversos assuntos do cotidiano, além de seus objetivos, princípios e valores. A realidade mudou e nós como pais que somos, temos que mudar também. Precisamos em casa ter diálogos sobre misoginia, violência de gênero, sexismo e outros assuntos sérios, como um homem deve tratar uma mulher e vice-versa, falar também sobre bullying e cyberbullying e perguntar se os filhos já foram vítimas ou se são os próprios abusadores. Saber também sobre Incel e Redpill é importante, na série foi falado sobre eles, mas isso, já vem há anos, eles estão por aí em todos os âmbitos e profissões. E sim, todos deveriam saber sobre eles, para terem mais discernimento e senso crítico sobre seus comportamentos e suas falas nas redes sociais, pois eles estimulam ideologias bem distorcidas por aí, de como um homem deve se comportar perante uma mulher e uma minoria deles são Red pills. Então, questionar sempre é muito importante. Porém, como um adolescente que está em plena formação, poderá reagir a isso tudo? Se ele tiver um bom respaldo, uma boa estrutura familiar com diálogos, ele saberá ter discernimento, bom-senso, mas se não houver esses tipos de conversas em casa e na escola, provavelmente ele será influenciado por esses que adoram disseminar o ódio, o preconceito e a violência nas redes sociais. Eles precisam da família mais do que nunca, nessa fase da adolescência, para aprender sobre ética, princípios e valores morais, terem um apoio, um exemplo, um porto seguro; e com quem contar sempre, se precisarem, isso é fundamental.
Darei spoiler… se quiser, não leia.
A família dele era bem estruturada, o pai muito trabalhador, a mãe emotiva, a irmã dócil, mas talvez faltasse o diálogo no dia a dia, entre eles. Apenas isso. Perguntas sobre: “como foi o seu dia?” “Qual é a sua opinião acerca disso?” “O que você pensa sobre isso que andam falando nos jornais?” “Como você está se sentindo nessa escola? Quais são seus melhores amigos? O que vocês fazem juntos? O que você vê e pesquisa na internet?” Aqui, apenas alguns exemplos de aproximação. Ter esse olhar, e essas conversas, são importantes.
Gente, deixa eu abrir uma ressalva aqui… psicólogos de plantão! E a atuação daquela psicóloga na série? Aff, era para ela fazer as perguntas cabíveis, ajudá-lo em suas questões e ir embora. Ela não deu o suporte que ele necessitava. E quando ele pergunta para ela: “você gosta de mim?” E ela fica num silêncio absoluto! Ou seja, nessas horas ele se sente mais desvalorizado, incapaz, não aceito e invisível. Ela agiu de uma maneira muito injusta. Ela precisava ter conversado com ele sobre essas questões. Ela poderia sim ter dito: “eu gosto de você, eu entendo a sua dor, você sabe o que fez e o quanto machucou outras pessoas, você sabia das consequências e poderia ter evitado e pedido ajuda. Por que você não o fez?” E teríamos uma outra abordagem de terapia, mais dinâmica e ele poderia contar a sua história num ambiente mais seguro e se abrir completamente. Em nenhum momento, senti uma terapia humanizada da parte dela, ele era apenas um adolescente! Ela estava querendo confirmar suas hipóteses e em nenhum momento quis fazer o seu papel em ajudá-lo, dar um suporte emocional, apoio, ela nem sequer quis saber das suas motivações. Fazia umas perguntas sem sentido, criando suposições e insinuações sem nexo. Ela foi provocando o ódio dele, como todos “os outros” fizeram. E qual o sentido disso? Nenhum! Pois já sabíamos até que ponto ele poderia chegar com a sua raiva! Tinha um vídeo mostrando isso! Ele não apresentava nenhuma psicopatia, ele simplesmente não conseguiu suportar o insuportável, que foi o ódio da internet contra ele. Houve uma clivagem, uma ruptura, uma fragmentação, ele não conseguiu lidar com a dor dilacerante da rejeição e as pessoas zombando dele. A não ser, que surja uma outra temporada e venha à tona mais esclarecimentos sobre esse caso. Ficou bem claro, que a dor de não ser aceito, era maior do que ele. Ele era um menino lindo, mas ele se achava feio, pelas coisas que falavam dele na internet, o ódio destilado na internet pode acabar com qualquer pessoa. Também, achei aquela mãe tão ausente em alguns momentos… quando ela disse: “ele não saía do quarto, como podíamos imaginar que estivesse acontecendo algo com ele?” E infelizmente ninguém percebeu a sua dor. Nem os pais, nem os amigos, nem a escola. Não estou aqui justificando um crime, jamais! E nem julgando ou culpando os pais. Sempre fazemos o nosso melhor! Apenas estou elucidando o que aconteceu na série. Ele estava se sentindo sozinho, sem uma base familiar e sem saber o que fazer. Não podemos mais deixar que isso venha a acontecer com essas crianças e adolescentes. Essa fase é muito difícil para eles e os pais devem estar presentes e elogiá-los sempre que possível, com sinceridade é claro, dar amor e apoio para que eles, se tornem mais autoconfiantes, resilientes e saibam lidar com as críticas que vêm de fora, sem se autodestruírem tanto, internamente. Não é uma tarefa fácil, mas é necessário, para que eles tenham um domínio de si e um alicerce emocional, para aguentarem as dificuldades da vida.
E para finalizar, vamos desmistificar uma situação que foi disseminada pela internet erroneamente? Nem todo mundo que mata tem o Transtorno de Personalidade Antissocial, ou seja, é um “psicopata”. E não é todo “psicopata” que mata também. Precisamos repensar sobre isso! E para qualquer diagnóstico para um Transtorno de Personalidade, a pessoa teria que ter 18 anos ou mais, não cabendo esse diagnóstico aqui. Se tudo fosse tão simples assim, o DSM-V que é o Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais, não teria mais de 900 páginas. Portanto, nem tudo que parece, é de fato. Esse hábito de “patologizar” pessoas é tão desnecessário.
Meus amores, vou ficando por aqui.
Assistam, se puderem! Uma boa série para refletirmos.
Bjs e boa noite a todos!🌙😘