Todo esforço de transformação interior gera reações penosas no controle dos impulsos do automatismo. Renovar é uma operação mental de contrariar a rotina, o habitual, gerando incômodos e dores variadas. São as dores psíquicas, dores íntimas. Efeitos naturais da ação transformadora, constituindo verdadeira expiação, silenciosa expiação.
O vulcão é o fenômeno natural que melhor recorda esse estado de convulsões interiores na criatura em reforma espiritual. Um estado de agitação nas "lavas mentais incandescentes" que queimam as ervas daninhas do mal no calor das altas temperaturas do conflito e da dor.
A mudança interior significa o desapego de símbolos, mitos, costumes, ações e emoções. Essa ação leva a sentimentos de perda que se assemelham a verdadeiras "amputações psíquicas e afetivas", causando, inicialmente, muita insatisfação, insegurança e revolta. Naturalmente, no caso da transformação à luz das propostas espíritas, a criatura é convidada a uma "perda do homem velho" para fazer a "aquisição do homem novo", jamais permanecendo sem ideal, sem vida. Essa mudança, aliás, tem como único propósito nossa adesão consciente e espontânea à verdadeira fonte de vida e felicidade: a harmonia com o Pai que nos criou.
Certamente alguns quadros mentais, incluindo doenças, podem conjugar-se aos efeitos do processo de reforma íntima, agravando ainda mais os episódios de sofrimento daquele que optou por tomar conta de seu patrimônio espiritual. Entre esses quadros vamos encontrar as questões traumáticas da infância, o estresse, as depressões, as influências espirituais, as recordações do passado em forma de tendências e idéias. Todavia, independentemente da natureza patológica da dor, chamemos de "pressões psíquicas" essas dores aparentemente inexplicáveis e catalogadas por muitos psiquiatras humanos como desajustamento ou fragmentação da personalidade.
Particularmente, os portadores de sensibilidade mediúnica percebem mais facilmente tais fenômenos da vida mental, sofrendo com maior intensidade esse doloroso "expurgo vibratório" sob intenso "estado de pressão", conquanto sua aptidão também permita exonerar níveis mais volumosos dessa "matéria deletéria" de seu cosmo orgânico e perispiritual.
Destaquemos alguns sintomas típicos desse mecanismo sutil do mundo mental que ocasiona a dor-evolução:
- Estado íntimo de desconforto e desassossego quase permanente.
- Sensação de perda de controle sobre a existência.
- Preocupação inútil sem causas justificáveis.
- Desordem nos raciocínios.
- Conflitos afetivos sem participação da vontade.
- Tendências acentuadas para a culpa.
- Processos físicos de drenagem de energias.
- Ansiedade de origem desconhecida.
- Medos incontroláveis de situações irreais.
- Irritações sem motivos claros.
- Angústia perante o porvir com aflição e sofrimento por antecipação.
- Excesso de imaginação ante fatos corriqueiros da vida.
- Barreiras emocionais na relação interpessoal.
- Perda do controle de si, causando um desespero silencioso.
A reforma íntima é um período de transição em que deixamos de ser "donos" daquilo que não nos convém para aprendermos a nos apropriar daquilo que sempre foi nosso, mas nunca optamos por tomar conta. Nessa transição, o ser sente-se ostensivamente inseguro e infeliz.
É um sofrimento muito sutil, que dificulta para a maioria das criaturas uma identificação plena do que ocorre consigo mesmo. Somente as incursões constantes e perseverantes na auto-análise ensejarão, pouco a pouco, o discernimento e a constatação de semelhante prova da vida íntima. É tão sutil que muitos corações "acostumam-se" com os traços expiatórios descritos, supondo serem imperfeições integrantes da sua personalidade, quando, em verdade, são reflexos e efeitos que podem perfeitamente ser educados e extirpados no tempo utilizando-se adequadamente as forças íntimas que dormitam à espera da vontade ativa e consciente.
A intensidade dessa expiação tomará graus diversos, conforme os compromissos e qualidades de cada individualidade, nunca ultrapassando o limite das forças de resistência e de sua capacidade de superar. Para uns será um período curto e inesquecível. Para outros terá um prolongamento em razão de sua rebeldia em aceitar os convites de renovação a que é chamado. Outros tantos, mesmo aceitando os alvitres da reforma, necessitam de um esticamento face ao volume de "matéria mental mórbida", acumulada em milênios de repetição no erro, que vai escoando lentamente de seu psiquismo.
Passada a etapa de maior conflito, vem a calmaria, a condição mental de paz e tranquilidade para mais amplos voos de ascensão. Lavrada a terra mental é hora da semeadura produtiva. Passada a dor é tempo de maiores responsabilidades no trabalho. Essa exoneração é apenas o começo de uma longa caminhada, e sem ela o homem não se habilita aos requisitos para assumir com proveito as oportunidades na marcha do progresso, ante a coletividade na qual está inserido. Primeiro cuida de si, mesmo estando servindo ao próximo, posteriormente terá mais êxito e experiência para penetrar no desconhecido mundo do outro e auxiliar-lhe com o consolo e o roteiro, fazendo da caridade um ato de libertação e amor. Transformar o lixo em adubo fertilizante, essa é a tarefa.
Deus não faltará com o indispensável para esse projeto de ser feliz, beneficiando-nos sempre com o que merecemos ou precisamos.
Do livro: Mereça Ser Feliz, de Wanderley S. de Oliveira, ditado pelo espírito de Ermance Dufaux
Para alcançarmos a Luz, antes precisamos desvendar com coragem os caminhos tortuosos da nossa própria escuridão e superar as nossas ilusões.