Não podíamos prever o futuro, mas, pensando bem, quem é que pode? Agora não vivo como esperava. E o que eu esperava? A aposentadoria, visitas dos netos, talvez viajar mais. Ela sempre adorou viajar. Eu achava que pudesse iniciar um passatempo novo... mas não sou uma pessoa amarga.
A nossa vida não pode ser medida pelos nossos anos finais, disso eu estou certo, e acho que já devia ter antevisto o que nos aguardava... Às vezes ela escrevia o ano errado quando preenchia um cheque, mas eu descartava esse tipo de equívoco como um simples erro que uma pessoa comete quando está pensando em outra coisa. Foi só quando os eventos mais óbvios começaram a ocorrer que passei a suspeitar do pior.
Um ferro de passar guardado dentro da geladeira, livros no forno. Outras coisas também. Mas no dia que a encontrei no carro, a três quarteirões da nossa rua, chorando sobre o volante, porque não conseguia encontrar o caminho de casa, foi quando fiquei realmente assustado. Ela também estava apavorada, porque, quando bati na janela do carro ela se virou para mim e disse, ''Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Por favor, me ajude". Senti um nó no estômago, mas não ousei pensar o pior. Seis dias depois fomos ver o médico, que deu início a uma série de exames...
Um ferro de passar guardado dentro da geladeira, livros no forno. Outras coisas também. Mas no dia que a encontrei no carro, a três quarteirões da nossa rua, chorando sobre o volante, porque não conseguia encontrar o caminho de casa, foi quando fiquei realmente assustado. Ela também estava apavorada, porque, quando bati na janela do carro ela se virou para mim e disse, ''Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Por favor, me ajude". Senti um nó no estômago, mas não ousei pensar o pior. Seis dias depois fomos ver o médico, que deu início a uma série de exames...
_ Lamento muito ter de dizer isto a vocês, começou o Dr. Barnwell _, mas aparentemente você está nos primeiros estágios do mal de Alzheimer...
Meu mundo rodava em círculos, e eu senti que o braço dela agora apertava com mais força o meu. Ela sussurrou, quase para si mesma: ''Oh, Noah... Noah''.
É uma doença estéril, vazia e sem vida como um deserto. É um ladrão de corações, almas e lembranças... É uma desordem degenerativa do cérebro que afeta a memória e a personalidade... não existe cura nem há tratamento... Não há como saber a que velocidade ela evolui... Varia de pessoa para pessoa... Eu gostaria de saber mais... Alguns dias serão melhores que outros... Piora com a passagem do tempo...
Já faz quatro anos agora, dos nossos cinco filhos, quatro estão vivos, e, embora para eles seja difícil e trabalhoso virem nos visitar, aparecem aqui muitas vezes e eu sou grato por isso...
_ Eu não quero ferir seus sentimentos, porque você tem sido tão bom para mim, mas...
Eu espero. As palavras dela me machucam. Vão arrancar um pedaço do meu coração e deixar uma cicatriz.
_ Quem é você?
Do livro: Diário de uma Paixão, de Nicholas Sparks