Quando eu penso em tudo que eu sonhei e abandonei. Em tudo que eu pensava ser capaz e desacreditei. Quando eu penso em tudo que eu achava que poderia fazer e nem tentei. Em tudo que eu merecia e nem arrisquei. Quando eu penso em quem eu era, sinto que estou fazendo falta. Não para os outros, mas para mim. Me dá vontade de rodar o relógio ao contrário e ir pegando os pedaços das minhas pretensões que fui abandonando pelo caminho. Dá vontade de sentar na calçada e abraçar as duas pernas encostando o queixo nos joelhos como sinal de protesto por tudo que eu quis e “desquis”-- assim mesmo, inventando palavras novas para justificar o que não tem justificativa. Quando eu era criança eu queria o mundo, depois passei a querer um país, me contentei com um estado e hoje uma cidade parece servir. Mas não serve. E o tamanho aqui nem é medido pelos olhos dos outros, mas pela fita métrica dos meus olhos. A questão também não é sobre o que se pode ter, mas o que se pode ser. E deveria ser proibido se desfazer dos sonhos.
Fernanda Gaona
Fernanda Gaona