tela Claude Monet: Parasole
As pessoas amam muito mais a expectativa do amor possível que o amor propriamente dito. Daí a intensidade dos impulsos bloqueados, impedidos de expansão e movimento na direção do objeto amado.
Os ‘‘grandes amores’’ da literatura são grandes não por serem amores, mas por serem impossíveis.
Os grandes amores da vida real só quem sente é que sabe. A impossibilidade de dimensionar um impulso afetivo carrega de energia a fantasia. E essa se encarrega de dar dimensão ao que o exercício da relação talvez tirasse.
Na paixão impossível só estão as projeções do que idealizamos, pretendemos ou não conseguimos viver em nosso cotidiano. Daí ser fácil entender sua força, sua obsessiva presença na cabeça dos enamorados. É por isso, aliás, que só é musa quem é inatingível.
Case-se com a sua musa e acordará com uma jararaca... Case-se com quem ama e será feliz.
Quer se ver livre de uma paixão colossal? Vá viver com a pessoa objeto da paixão (observem, por favor, que não estou usando a palavra amor). Aliás já está nos clássicos e mesmo antes deles, nos antigos, quando diziam que ‘‘A conquista enobrece e a posse avilta’’.
Ou como dizia Goethe: ‘‘Nas batalhas da paixão ganha aquele que foge’’.
Quantas vezes as relações humanas terminam ou se interrompem sem terem esgotado o potencial de possibilidades adivinhadas, intuídas, sentidas? Aí, o que não se esgotou clama por vir à tona e muitas vezes ameaça ocupar (e às vezes ocupa, efetivamente) todo o ‘ego’.
Não é por outra razão que o apaixonado é o maior dos egoístas. Ao dedicar tudo ao objeto da paixão, está é alimentando a própria necessidade seja de sofrimento, de idealização, de felicidade ou de fantasia.
Entupido de impossibilidade, ele clama. E a isso muitos chamam de amor.
Mas amor é coisa muito diversa.
Amor não clama nem reclama: amor dá.
Arthur da Távola
Arthur da Távola