Depressão é uma intimação das Leis da Vida convocando a alma a mudanças inadiáveis. É a “doença‐prisão” que caça a liberdade da criatura, rebelde, viciada em ter seus caprichos atendidos. Vício sedimentado em milênios de orgulho e rebeldia por não aceitar as frustrações do ato de viver. Em tese, depressão é a reação da alma que não aceitou sua realidade pessoal como ela é, estabelecendo um desajuste interior que a incapacita para viver plenamente.
Desde as crises ocasionais da depressão reativa até os quadros mais severos que avançam aos sombrios labirintos da psicose, encontramos no cerne da enfermidade o Espírito, recusando os alvitres da vida. Através das reações demonstra sua insatisfação em concordar com a Vontade Divina, acerca de Seus Desígnios, em flagrante desajuste.
Rebela‐se ante a morte e a perda, a mudança e o desgosto, a decepção e os desafios do caminho, criando um litígio com Deus, lançando a si mesmo nos leitos amargos da inconformação e da revolta, do ódio e da insanidade, da apatia e do sofrimento moral.
Neste momento de transição em que os avanços científicos a classificam dentro de limites e códigos, é necessário ampliar a lente das investigações para analisá‐la como estado interior de inadequação com a vida, que limita o Espírito para plenificar‐se, existir, ser em plenitude. Seu traço psíquico predominante é a diminuição ou ausência de prazer em quaisquer níveis que se manifeste. Portanto, dilatando as classificações dos respeitáveis códigos humanos, vamos conceituá‐la como sendo o sofrimento moral capaz de reduzir ou retirar a alegria de viver.
Sob enfoque espiritual, estar deprimido é um estado de insatisfação crônica, não necessariamente incapacitante. As mais graves psicoses nasceram através de “filetes de loucura controlada” que roubam do ser humano a alegria de continuar sua marcha, de cultivar sonhos e lutas pelos ideais de sobrevivência básica. Nessa ótica, tomemos alguns exemplos para ilustrar nosso enfoque de depressão à luz do Espírito imortal.
Condutas rotineiras:
- O desânimo no cumprimento do dever.
- A insegurança obsessiva.
- A ansiedade inexplicável.
- A solidão em grupo.
- A impotência perante o convite das escolhas.
- A angústia da melhora.
- A aterrorizante sensação de abandono.
- Sentir‐se inútil.
- Baixa tolerância às frustrações.
- O desencanto com os amigos.
- Medo da vulnerabilidade.
- A descrença no ato de viver.
- O hábito sistemático da queixa improdutiva.
- A revolta com normas coletivas para o bem de todos.
- A indisposição de conviver com os diferentes.
- A relação de insatisfação com o corpo.
- O apego aos fatos passados.
- O sentimento de menos‐valia perante o mundo.
- O descaso com os conflitos, a negação dos sentimentos.
- A inveja do sucesso alheio.
- A desistência de ser feliz.
- A decisão de não perdoar.
- A inconformação perante as perdas.
- Fixação obstinada nos pontos de vista.
- O desamor aos que nos prejudicam.
- O cultivo do personalismo – a exacerbada importância pessoal.
- O gerenciamento ineficaz da culpa.
- As aflições‐fantasma com o futuro.
- A tormenta de ser rejeitado.
- As agruras perante as críticas.
- Rigidez nas atitudes e nos objetivos.
- Conduta perfeccionista.
- Sinergia com o pessimismo.
- Impulso para desistir dos compromissos.
- Pulsão para controlar a vida.
- Irritabilidade sem causas conhecidas.
Todas essas ações ou sentimentos são sinais de depressão na alma, porque criam ou refletem um desajuste da criatura com a existência, levando‐a, paulatinamente, a roubar de si mesma a energia da vida. São rejeições à Sábia e Justa Vontade Divina — excelsa expressão do bem em nosso favor nas ocorrências de cada dia.
Bilhões e bilhões de homens, na vida física e extrafísica, estão deprimidos ou constroem “estufas psíquicas” para futuras depressões reconhecidas pela ótica clínica.
Arrastam‐se entre a animalidade e o mundo racional. Lutam para se livrar da pesada crisálida magnética dos instintos e assumir sua gloriosa condição de filhos de Deus e cocriadores na Obra Paternal. Vivem, mas não sabem existir. Perambulam, quase sempre, na alegria de possuir e raramente alcançam o prazer de ser. Ora escravos das lembranças do passado, ora atormentados pelo medo do futuro. Jornadeiam sob os grilhões do ego recusando os apelos do self.
Esse conceito maleável da doença explica o lamentável estado de inquietude interior que assola a humanidade. É a “algazarra do ego” criando mecanismos para continuar seu reinado de ilusões, obstruindo os clarões de serenidade e saúde imanentes do self — a vontade lúcida do Espírito em busca da liberdade.
Devido aos programas coletivos de saneamento psíquico da Terra orientados pelo Mais Alto, vivendo o momento histórico. Nunca foram alcançados índices tão significativos de resgate e socorro nos atoleiros morais da erraticidade.
Consequentemente, eleva‐se o número de corações que regressam ao corpo carnal sob custódia do remorso. Esse estado psíquico responde pelo crescimento dos episódios depressivos. Seria trágico esse fenômeno social se deixássemos de considerá‐lo como indício de mudança nos refolhos da alma.
Conquanto não signifiquem libertação e paz, coloca a criatura a caminho dos primeiros lampejos de consciência lúcida.
O planeta em todas as latitudes experimentará uma longa noite de dores psicológicas, em cujo bojo despontará um homem novo e melhorado em busca dos Tesouros Sublimes, ainda desconhecidos em sua intimidade.
Ao formularmos esse foco para a depressão, nossa intenção é estimular a medicina preventiva centrada no Espírito imortal e na educação. É assustador o índice de deprimidos segundo a sintomatologia oficial, no entanto, infinitamente maior é o número daqueles que cultivam, em regime de cultura mental, os embriões de futuros episódios psiquiátricos depressivos. A solução vem da própria mente. A terapêutica está no imo da criatura.
Aprender a ouvir os ditames da consciência: eis o que pouco fazem quando se encontram sob sansão da depressão. Esse é o estado denominado “consciência tranquila”, ou seja, quando o self supera as tormentas da culpa e do medo, da ansiedade e do instinto de posse. Aprendendo a arte de ouvir esse guia infalível, a criatura caminha para o sossego íntimo, a serenidade, a plenitude, a alegria.
A saúde decorre de uma relação sinérgica com o self. Dele partem as forças capazes de estabelecer o clima da alegria de ser. Do self procede a energia da vida, o tônus que permite a criatura ampliar seu raio de interação com a natureza — outra fonte de vida —, expressão celeste de Deus no universo. A depressão é ausência dessa energia de base, dessa força de vitalidade e saúde, ensejando a defasagem, o esgotamento. A ausência de contato com o amor — Lei universal de vida e saúde integral — responde pelos reflexos da “morte interior”. Nos apelos da consciência encontraremos o receituário para a liberdade e a paz, o equilíbrio e o progresso. A ingestão dessa medicação amarga será a batalha sem tréguas, porque aderir aos ditames conscienciais significa, antes de tudo, deixar de desejar o que se quer para fazer que se deve. Nessa escola de novas aprendizagens, alma fará cursos intensivos de novos costumes emoções através do aprendizado de olhar para si.
A ausência de uma percepção muito nítida das nossas reais necessidades interiores leva‐nos à busca do prazer estereotipado, aquele que a maioria procura para preencher o “vazio”, e não viver criativamente em paz. Depois vem a culpa e outras manifestações de dor.
O prazer real é somente aquele que nos equilibra e preenche sem sofrimentos posteriores. Somente estando identificados com os “recados do self”, construiremos uma vida criativa, adequada ao caminho individual. Jung chamou esse processo de individuação.
Descobrir nossa singularidade, saber vivê‐la sem afronta ao meio e colocá‐la a serviço do bem, essas as etapas do crescimento sistêmico, integrado com o próximo, a vida e a natureza. Individuação só será possível acolhendo a sombra do inconsciente através dos “braços do ego”, entregando‐a à “inteligência espiritual” do self, para transformá‐la em luz e erguimento conforme as aspirações do Espírito.
Depressão — condição mental da alma que começa a resgatar o encontro com a verdade sobre si mesma depois de milênios nos labirintos da ilusão.
“A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?”
“Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro”.
Consciência tranquila e prazer de viver, a maior conquista das pessoas livres e felizes.
Do Livro: Escutando Sentimentos, de Wanderley S. de Oliveira (por Ermance Dufaux)