O câncer é uma das principais causas de morte no mundo. Além dos graves sintomas e efeitos colaterais do tratamento (como dor, fadiga e náuseas), os pacientes costumam enfrentar ansiedade, insegurança, desânimo, medo e estresse – que provocam impacto substancial na qualidade de vida. O diagnóstico associado ao desafio psicológico é caracterizado por muitos desafios. A pessoa precisa dar conta de vários ajustes em sua rotina, já que há interrupção da atual situação de vida, sendo necessário reavaliar as direções e decisões a serem tomadas e ter tolerância para suportar constantes incertezas dessa fase. Muitos pacientes passam a apresentar sintomas de depressão – o que, para alguns especialistas, é considerado uma resposta normal à ameaça existencial, e não um processo psicopatológico. Há casos, porém, em que esse estado surge de forma mais severa e duradoura.
Nesse sentido, técnicas que favoreçam o fortalecimento emocional e imunológico podem ser importantes não só para a melhoria da qualidade de vida do paciente, mas também para a eficácia da terapêutica. É o caso da yoga, antiga disciplina oriental e uma das mais utilizadas intervenções dentro das chamadas terapias mente-corpo (mind-body interventions) que tem por base a prática de posturas físicas específicas, respiração, relaxamento e meditação. Essas técnicas vêm sendo investigadas há anos devido à sua eficácia no tratamento dos transtornos mentais associados ao câncer (estresse, depressão, ansiedade etc.) e como determinantes no controle de sintomas da doença, uma vez que favorecem o fortalecimento do sistema imunológico dos pacientes.
Recentemente, pesquisadores notaram que a meditação é capaz de reforçar o sistema imunológico tanto de pessoas saudáveis quanto de doentes. Quando trazemos à mente algo ruim, o pensamento gerado no córtex pré-frontal (área responsável pelo planejamento de ações e pela tomada de decisões, uma espécie de maestro do nosso cérebro) rapidamente se projeta para o sistema límbico, envolvido no processamento das emoções. O hipotálamo é então ativado pelo chamado eixo hipotalâmico--pituitário-adrenal (HPA) e o cortisol (hormônio do estresse) é sintetizado. Se essa situação for recorrente – como nas ocasiões em que enfrentamos situações difíceis –, o sistema imune acaba se enfraquecendo.
Mas, se com a prática de técnicas contemplativas específicas esses estados mentais forem substituídos por bons pensamentos, o impacto positivo no sistema imune muitas vezes se torna evidente. Durante a contemplação, o cérebro parece desencadear uma cascata de reações benéficas que acabam produzindo um efeito ansiolítico poderoso, capaz de alterar o funcionamento do sistema imunológico e toda a dinâmica emocional do paciente. Entre as modificações neuroquímicas estão, por um lado, o aumento da atividade parassimpática, gabaérgica e serotonérgica, dos níveis de endorfina e a diminuição da síntese de norepinefrina; e, por outro, a diminuição dos níveis de cortisol. Essas mudanças experimentadas durante a ioga podem se transformar em traços, levando – a longo prazo – à consolidação da prática e aumentando as chances de prevenção de futuros episódios de ansiedade, depressão, estresse e doenças psicossomáticas – algo que parece determinante no tratamento de indivíduos com câncer.
Fonte: Mente&Cérebro