Meus filhos têm muito medo da morte.
Alguns que se dizem mais sábios têm falado que a morte não existe. Mas ela existe sim. A morte que vocês temem não é aquela que existe, pois o que se teme é a passagem para o lado de cá da vida, a forma como a morte pode acontecer, mas dessa morte não há que se ter medo, não. Ela é só uma passagem, uma travessia, como se fosse uma ponte ligando dois lados de uma mesma vida.
Afinal de contas vocês ensaiam todos os dias para a morte. Deitam, dormem e acordam sem se darem conta de que esse é um ensaio da vida para a grande viagem da morte.
A própria natureza ensaia constantemente para mostrar ao homem a realidade da vida. O sol nasce e se põe, renasce no outro dia, mostrando a lição da morte e da vida. Desde as plantas aos animais, morrendo cada dia, tudo demonstra que sempre há um recomeço, uma continuidade e que o que vocês chamam de morte é apenas uma passagem para a verdadeira vida. Mas a morte que vocês devem evitar é de Outro tipo: a morte da consciência. Quando o homem deixa morrer a sua consciência, deixa de amar e passa para o ódio, a vingança, a paixão desenfreada, ou qualquer outra degradação da alma, aí sim, ele está morto. É um cadáver que sai pelo mundo perambulando, um “sem vida”, que passa pelo mundo mas não vive, porque não ama. Dessa morte é que vocês têm de fugir, essa morte é que meus filhos têm que evitar. O contrário, a outra morte que é aparente, é pura ressurreição.
Morrer, todo mundo morre um dia, mas desencarnar é deixar os apegos da matéria e tudo o que isso representa. Aí é que pai velho diz que desencarnar é para poucos. Porque poucos são os que sabem desapegar-se e exercitar a espiritualidade dentro de si.
Então, por que ter medo de morrer? Para quem tem a consciência tranquila, morte é vida, recomeço que representa novas oportunidades de realização.
Pai João de Aruanda in Sabedoria de Preto Velho, de Robson Pinheiro