Quando alguém se envolve repetidamente com pessoas inadequadas, isso não é azar romântico, nem dedo podre, como alguns gostam de comentar, nem maldição e também, ninguém jogou pedra na cruz… rsrs É um movimento psicológico profundo, quase subterrâneo, em que partes da mente tomam decisões antes que a consciência possa interferir. O comportamento visível é só a superfície; o que importa está nas correntes internas. Ou seja, é uma dança de forças internas que, sem serem percebidas, guiam e movem escolhas afetivas.
Aqui estão os principais motores desse padrão:
Vínculos aprendidos, pois a mente humana não escolhe o que é bom; escolhe o que é familiar. Se o primeiro mapa afetivo da pessoa foi marcado por amor instável, imprevisível ou ambíguo, o corpo inteiro passa a reconhecer esse padrão como “o normal”.
O que deveria soar como alerta acaba soando como lar.
A escolha do “errado” é, muitas vezes, a escolha do conhecido. E na família, acontece a mesma coisa, se foi criada num ambiente disfuncional, onde brigas, desrespeito e discussões eram constantes, esse tumulto todo passa a ser natural e bem familiar. Então, tudo isso pode influenciar nos relacionamentos. Os padrões familiares podem se repetir, sem a pessoa perceber que está inserida nesse ciclo desregulado.
Há um mecanismo chamado compulsão à repetição: a pessoa volta ao mesmo tipo de vínculo tentando, inconscientemente, recriar a antiga dor para enfim resolvê-la.
É como se dissesse silenciosamente:
“Desta vez alguém parecido com quem me feriu vai me tratar bem, e aí eu curo aquilo que ficou preso lá atrás.”
Mas a psique escolhe justamente quem não pode cumprir essa promessa, perpetuando o comportamento.
Baixa autoestima, a percepção de valor próprio não nasce de frases positivas, mas de experiências sensoriais, como: ser acolhido, ser visto, ser respeitado, ser emocionalmente nutrido. Sem isso, a pessoa passa a acreditar que amor é algo que se conquista à força, que pouco é o bastante, que ser maltratado faz parte do pacote. Assim, tolera migalhas achando que são banquetes.
Quando o sistema de apego é ansioso ou desorganizado, relações tranquilas parecem insípidas e nonsense. O corpo se acostumou com adrenalina emocional, portanto, associa sinais ambíguos e medo de perda, a uma espécie de “prova de paixão”.
A pessoa confunde intensidade com profundidade e acaba buscando parceiros emocionalmente indisponíveis ou instáveis, porque eles ativam o drama ao qual ela já se habituou.
Alguns aprendem que só terão lugar no mundo se forem: o cuidador, o consertador, a salvadora, o que aguenta tudo. Há uma percepção distorcida.
Esse papel se cristaliza e atua como um filtro: só passam pessoas que se encaixam nessa dinâmica. E então, o “errado” às vezes é o único que permite que esse velho script continue rodando. Para que a pessoa se sinta bem, confortável e útil, pois só nessa condição, se sente “reconhecida, vista e importante”.
O medo da intimidade verdadeira, pois, algumas pessoas emocionalmente indisponíveis funcionam como barreira protetora.
Quem teme ser visto por inteiro, teme depender, teme entregar vulnerabilidade, teme vínculos profundos, então, pode “escolher” alguém que nunca estará totalmente presente e disponível.
Dessa forma, a relação nunca aprofunda o suficiente para não ameaçar essa defesa.
Em resumo, repetir ciclos com pessoas inadequadas é um reflexo de estruturas internas que ainda não foram reorganizadas.
Não aponta para falta de inteligência, e sim para uma história emocional acumulada que molda escolhas silenciosamente.
Quando a pessoa começa a enxergar esses mecanismos, ela pode recalibrar o próprio radar afetivo.
A repetição perde a força.
E o que antes parecia destino começa a virar escolha.
Será que você se identificou com alguma delas?
Em termos psicológicos, envolver-se repetidamente com pessoas inadequadas é um sintoma, não uma identidade. Com clareza emocional, terapia, novas experiências de vínculos, mudanças de crenças, autonomia emocional, amor-próprio e autoconfiança, a bússola interna pode reajustar-se e apontar para encontros mais gentis, equilibrados e saudáveis. É como trocar um mapa antigo por um que, enfim, leva a territórios onde o coração possa respirar em paz.
É claro que esse assunto é bem vasto e complexo, aqui só falei de algumas questões, mas há outras e para descobrirmos a fundo, é preciso uma terapia para mergulharmos nessas “águas internas” que são as nossas emoções e alguns padrões de comportamentos que se repetem, para enxergar com clareza o que está por trás de todo esse enredo psíquico.
Bjs, vou ficando por aqui! 🫶🏻