Então, de onde vem a capacidade de fazer os neurotransmissores? Talvez devêssemos procurar a contribuição vinda da mente. Afinal, não é realmente a molécula de adrenalina que leva a mãe a entrar em um prédio em chamas para salvar o filho, ou uma molécula de endorfina que a protege de sentir as labaredas? O amor a impulsiona, a determinação cega protege-a da dor. O que acontece, apenas, é que esses atributos de sua mente encontraram um caminho químico que o cérebro pode seguir para falar com o corpo. Agora chegamos ao âmago da questão. A mente, em qualquer definição, é imaterial, mas desenvolveu uma forma de trabalhar em parceria com essas complicadas moléculas comunicadoras. São tão
intimamente associadas que, como vimos, a mente não pode ser projetada no corpo sem tais substâncias químicas. Mas essas substâncias não são a mente. Ou são?
Toda essa situação paradoxal foi resumida de modo inteligente há vários anos pelo eminente fisiologista australiano Sir John Eccles, ganhador de um Prêmio Nobel, durante uma conferência aos parapsicólogos que debatiam assuntos rotineiros da PES (Percepção Extra-Sensorial), como telecinésia — a capacidade de mover objetos físicos com a mente.
— Se vocês querem ver um caso real de telecinésia — disse ele à audiência —, considerem as proezas da mente sobre a matéria realizadas pelo cérebro. É espantoso que, a cada pensamento, a mente consiga mover átomos de hidrogênio, carbono, oxigênio e outras partículas das células cerebrais. Aparentemente, nada estaria mais distante do pensamento insubstancial do que a sólida matéria cinzenta do cérebro. Toda essa façanha é realizada sem nenhuma ligação evidente. O mistério do domínio da mente sobre o corpo ainda não foi bem explicado pela biologia, que prefere continuar estudando estruturas químicas sempre mais complexas, operando em níveis mais refinados da fisiologia. Mas permanece evidente que ninguém encontrará uma partícula, por menor que seja, intitulada “inteligência”. Tal evidência se acentua quando compreendemos que toda matéria de nossos corpos, pequena ou grande, foi dotada de inteligência ao ser modelada. O próprio DNA, apesar de reconhecido como o dirigente mental-químico do corpo, é essencialmente formado pelos mesmos blocos básicos de construção que os neurotransmissores que ele fabrica e controla. O DNA é como uma fábrica feita de tijolos que também os fabrica. (O grande matemático austríaco Erich Von Neumann, além de ser um dos inventores-descobridores do moderno computador, também se interessava por todos os tipos de robôs. Uma vez inventou, no papel, uma máquina verdadeiramente engenhosa, um robô capaz de fabricar robôs iguais a ele — em outras palavras, uma máquina autoreprodutora. Nosso DNA conseguiu a mesma coisa em grande escala, já que o corpo humano nada mais é que variantes de DNA fabricados pelo DNA.)
Pode parecer fácil pensar no DNA, com seus bilhões de bits genéticos, como uma molécula inteligente; sem dúvida, ele é bem mais esperto que uma molécula simples como a de açúcar. Que esperteza o açúcar pode ter? Mas o DNA, na verdade, não passa de fios de açúcar, aminos e outros componentes simples. Se eles não são “espertos” a princípio, o DNA não poderia vir a sê-lo apenas por reuni-los. Seguindo essa linha de raciocínio, por que o átomo de carbono ou de hidrogênio no açúcar também não é esperto? Talvez seja. Como vimos, se a inteligência está presente no corpo, deve vir de algum lugar e esse lugar pode estar em qualquer canto.
Pode parecer fácil pensar no DNA, com seus bilhões de bits genéticos, como uma molécula inteligente; sem dúvida, ele é bem mais esperto que uma molécula simples como a de açúcar. Que esperteza o açúcar pode ter? Mas o DNA, na verdade, não passa de fios de açúcar, aminos e outros componentes simples. Se eles não são “espertos” a princípio, o DNA não poderia vir a sê-lo apenas por reuni-los. Seguindo essa linha de raciocínio, por que o átomo de carbono ou de hidrogênio no açúcar também não é esperto? Talvez seja. Como vimos, se a inteligência está presente no corpo, deve vir de algum lugar e esse lugar pode estar em qualquer canto.
Lembranças, sonhos e todas as atividades diárias da mente permanecem um profundo mistério no que diz respeito a seu mecanismo físico. Mas agora sabemos que a mente e o corpo são como universos paralelos. Tudo o que acontece no universo mental necessariamente deixa sinais no físico.
Recentemente, os pesquisadores do cérebro conseguiram uma forma de fotografar o percurso dos pensamentos em 3D, como um holograma. O processo, conhecido como PET (tomografia por emissão de
pósitron), consiste em injetar-se na corrente sanguínea glicose, cujas moléculas de carbono foram marcadas com radioisótopos. A glicose é o único alimento do cérebro que a utiliza muito mais depressa que os tecidos comuns. Consequentemente, quando a glicose injetada atinge o cérebro, as moléculas marcadas de carbono são detectadas, enquanto ele as utiliza, e registradas em três dimensões pelo monitor, mais ou menos como ocorre numa tomografia. Observando essas moléculas girarem enquanto o cérebro pensa, os cientistas viram que cada acontecimento distinto no universo da mente — como a sensação de dor ou de uma intensa lembrança — desencadeia novo modelo químico do cérebro, não apenas em um ponto, mas em muitos. A imagem se modifica a cada pensamento e, se fosse possível ampliar a imagem para o corpo todo, não restaria dúvida: ele também se modifica ao mesmo tempo, graças às cascatas de neurotransmissores e moléculas mensageiras afins.
Como se pode ver agora, nosso corpo é a imagem física, em 3D, do que estamos pensando.
Do livro: A Cura Quântica, de Deepak Chopra