Há pouco tempo, ficou absolutamente comprovado que as mesmas substâncias neuroquímicas influenciam todo o conjunto corpo-mente. Ao nível dos neuropeptídios tudo é interligado; portanto, ao separar essas áreas, estamos simplesmente fazendo o mau uso da ciência. Um corpo que pode “pensar” é muito diferente daquele que a medicina considera atualmente. Digamos que, ao menos, ele sabe o que lhe acontece não apenas no cérebro, mas em todos os pontos receptores das moléculas mensageiras, o que significa cada célula. Isso explica, em grande parte, os efeitos colaterais das drogas até então desconhecidos. Algumas delas têm um número incrível desses efeitos. Se eu consultar meu Physician’s Desk Reference, o índice médico de todos os remédios que podemos receitar, vou encontrar páginas e páginas sobre corticosteróides.
O Dr. Pert se refere a todo o sistema mente-corpo como uma “rede de informações”, e dá menor ênfase ao nível grosseiro da matéria e maior ao nível sutil do conhecimento.
Na realidade, existe algum motivo para se manter a mente e o corpo afastados? Pert, ao escrever, prefere englobá-lo em uma palavra — bodymind (corpo-mente). Se esse termo for adotado, isso indicará claramente que um muro caiu. Ele ainda não recebeu apoio da ciência médica, mas isso pode mudar muito rapidamente. A cada dia fica mais claro que o corpo e a mente são espantosamente semelhantes. Já se sabe que a insulina, um hormônio sempre identificado ao pâncreas, também é produzida pelo cérebro, enquanto substâncias químicas cerebrais como o transferon e o CCK são produzidas pelo estômago. Isso mostra que nossa divisão organizada do corpo em sistemas nervoso, endócrino, digestivo e assim por diante é apenas parcialmente certa e, em breve, poderá ser ultrapassada.
Se não conhecêssemos a existência dos pontos receptores, os esteróides pareceriam muito estranhos. O corticosteróide (ou apenas esteróide) mais comum é a cortisona, mas todo o grupo é muito receitado no tratamento de queimaduras, alergias, artrite, inflamações pós-operatórias e dúzias de outros males.
Digamos que eu receite esteróides a uma mulher que sofre de um caso difícil de artrite. Eles acabariam com as inflamações das juntas de um modo dramático, pois uma série de coisas estranhas poderia ocorrer. Ela começaria a se queixar de cansaço e depressão; depósitos anormais de gordura surgiriam sob a pele; e os vasos sanguíneos ficariam tão frágeis que começariam a surgir grandes manchas, difíceis de desaparecer. O que pode ligar sintomas tão diferentes?
Digamos que eu receite esteróides a uma mulher que sofre de um caso difícil de artrite. Eles acabariam com as inflamações das juntas de um modo dramático, pois uma série de coisas estranhas poderia ocorrer. Ela começaria a se queixar de cansaço e depressão; depósitos anormais de gordura surgiriam sob a pele; e os vasos sanguíneos ficariam tão frágeis que começariam a surgir grandes manchas, difíceis de desaparecer. O que pode ligar sintomas tão diferentes?
A resposta está ao nível dos receptores. Os corticosteróides repõem certas secreções do córtex das supra-renais, uma camada fofa e amarelada que se deposita sobre elas. Ao mesmo tempo, eles suprimem outros hormônios das supra-renais, como as secreções da glândula pituitária, que se localiza no cérebro. Logo ao ser ministrado, o esteróide percorre o corpo e inunda todos os receptores que estão “ouvindo” certa mensagem. Quando um deles é ocupado, o que vem a seguir não é uma ação simples. A célula pode interpretar a mensagem de várias formas, dependendo do tempo que esses pontos continuem repletos. Nesse caso, o receptor fica ocupado indefinidamente. (O fato de outras mensagens não serem recebidas é importante, assim como a perda de inúmeras ligações com outras glândulas endócrinas.) A célula pode apresentar reações agudas ao preencher um receptor. Por analogia, basta observar uma mariposa pousada no beiral do telhado numa noite de verão. No inseto macho, as antenas peludas da cabeça são, na realidade, pontos receptores que se desenvolveram para fora do corpo. Quando o sol se põe, a mariposa espera um sinal emitido por uma fêmea na vizinhança, através de uma molécula chamada feromônio. Como são criaturas pequenas, o número de feromônios que enviam pelo ar é infinitesimal, se comparado ao volume total do ar e sua imensa carga de pólen, poeira, água e outros feromônios secretados por animais de todas as espécies, inclusive o homem. É difícil imaginar que duas mariposas possam se comunicar a longa distância. Mas, quando uma única molécula de feromônio toca a antena do macho, seu comportamento se transforma. Ele persegue a fêmea e inicia um complicado ritual de conquista pelo ar, que precede a cobertura.
Biologicamente falando, o que causa esse comportamento tão complexo é uma única molécula. O corticosteróide (ou apenas esteróide) mais comum é a cortisona, mas todo o grupo é muito receitado no tratamento de queimaduras, alergias, artrite, inflamações pós-operatórias e dúzias de outros males. Eles podem ser a causa imediata ou apenas a primeira peça do jogo — a diferença não importa à paciente. Para ela, não há diferença entre a osteoporose causada por esteróides ou “o mal em si”. O mesmo se aplica à depressão, à diabete ou à morte. Um único mensageiro causou todas elas. Na verdade, não existe esse único mensageiro — cada qual é um fio na rede de inteligência do corpo. Tocando um deles, toda a rede estremece.
Biologicamente falando, o que causa esse comportamento tão complexo é uma única molécula. O corticosteróide (ou apenas esteróide) mais comum é a cortisona, mas todo o grupo é muito receitado no tratamento de queimaduras, alergias, artrite, inflamações pós-operatórias e dúzias de outros males. Eles podem ser a causa imediata ou apenas a primeira peça do jogo — a diferença não importa à paciente. Para ela, não há diferença entre a osteoporose causada por esteróides ou “o mal em si”. O mesmo se aplica à depressão, à diabete ou à morte. Um único mensageiro causou todas elas. Na verdade, não existe esse único mensageiro — cada qual é um fio na rede de inteligência do corpo. Tocando um deles, toda a rede estremece.
Quando receito esteróides a uma paciente que sofre de artrite, trilhões de moléculas e pontos receptores estão envolvidos nisso. Assim, os vasos sanguíneos, a pele, o cérebro, as células de gordura etc. apresentam diferentes reações. Em meu guia médico, as consequências do uso de esteróides por longo prazo incluem diabete, osteoporose, supressão do sistema imunológico (a pessoa fica mais suscetível às infecções e ao câncer), úlceras pépticas, hemorragia interna, elevação do colesterol e muito mais. Até a morte pode ser incluída entre os efeitos colaterais, porque o uso de esteróides por muito tempo força o córtex das supra-renais a se contrair (exemplo de como um órgão pode se atrofiar por falta de uso). Se o esteróide for retirado muito rapidamente, as glândulas supra-renais não têm tempo de se regenerar.
A paciente fica sem uma defesa adequada ao estresse, que os hormônios fornecidos pelas supra-renais ajudam a debelar. Ela pode ir ao dentista para extrair um dente do siso — uma tensão geralmente dentro dos limites normais —, mas, sem os hormônios ad-renais, pode entrar em estado de choque. Uma extração de dente pode até matá-la.
Reunindo todos esses sintomas, podemos perceber que os esteróides são capazes de causar, literalmente, qualquer reação.
Compreendo que isso faz com que as drogas pareçam muito mais perigosas do que pensávamos, mesmo em uma época obcecada em catalogar desastres médicos. Estamos habituados a uma ideia mais limitada do que são os efeitos colaterais — um toque amargo aliado à doçura, como o espinho na rosa ou a ressaca após uma garrafa de vinho. Em vez disso, um efeito colateral se expande e se transforma em alguma coisa que o corpo pode pensar. Estamos geralmente protegidos de danos mais sérios, porque o corpo reage obedecendo a certas regras estreitas. Um paciente que toma aspirina pode provocar uma hemorragia da parede do estômago, mas não um ataque cardíaco. No entanto, cada célula do corpo tem uma ampla área de ação — é um ser consciente, que percebe o mundo a sua volta. Os efeitos colaterais descritos por meu guia médico são apenas os observados até agora.
Li recentemente a história de um médico, membro de uma equipe hospitalar, que ficou aflito quando um de seus pacientes, homem de 70 e tantos anos, subitamente passou a agir de modo paranóico. Obcecado pela ideia de que sua casa ia ser assaltada por ladrões, comprou uma arma para guardar sob o travesseiro. Certa noite, aterrorizou a esposa ao saltar da cama e correr escada abaixo com a pistola, começando a procurar furiosamente os assaltantes atrás das poltronas. Sabendo que a alucinação do marido era perigosa, a mulher o levou imediatamente ao médico. O paciente não tinha nenhum antecedente de doença mental nem estava tomando nenhum remédio além do digitálico para estabilizar o ritmo de seu coração. Considerando sua idade, o médico concluiu que seu diagnóstico era o mal de Alzheimer.
No entanto, ele encaminhou o paciente a um neurologista para fazer uma tomografia que não acusou nada de anormal. — Aposto que esse homem está tendo alucinações por causa do uso do digitálico — comentou o neurologista.
O médico, também professor de medicina em Nova York, nunca vira esse efeito colateral em seus trinta anos de prática, embora se lembrasse de algum comentário vago sobre o assunto. Ele reduziu a dosagem do digitálico e, dez dias depois, o paciente voltou ao normal.
Do livro: A Cura Quântica, de Deepak Chopra