Freud decifrou o código da ousadia, da capacidade intuitiva, do olhar multifocal, da sensibilidade do raciocínio esquemático, do processo de observação detalhado, por isso foi o grande produtor do conhecimento. Mas não decifrou plenamente o código da tolerância, do altruísmo, da democracia das ideias.
Se os tivesse decifrado, descobriria que a verdade absoluta não existe na ciência, que a verdade é um fim inatingível. Sim! Se os tivesse decifrado jamais baniria da família psicanalítica amigos que contrariavam suas ideias em especial em relação à teoria da sexualidade. O grande Freud talvez suportasse as críticas de fora, mas não teve maturidade para suportar as críticas que surgiram dentro do ninho psicanalítico, não admitiu ser confrontado pelos seus íntimos.
“Quem quer o brilho do sol tem que adquirir habilidades para suportar a adversidade, tem que ser resiliente para atravessar o breu de sua noite. A vida é uma grande aventura onde dias e noites se alternam, não há milagres, só o milagre da vida”.
E o mestre dos mestres Jesus Cristo decifrou esses códigos? Ele falhou nos focos de tensão quando o mundo desabava sobre ele? Como lidou com os opositores que surgiram ao redor de sua mesa? Tentei através da análise crítica derrubar o mito Jesus, mas esse homem me assombrou. No último jantar ciente que morreria do modo mais inumano possível, no dia seguinte decifrou o código da proteção da emoção e do gerenciamento dos pensamentos, por isso, para assombro da psicologia conseguiu ter apetite em uma situação na qual qualquer um teria anorexia. Nesse jantar anunciou que alguém o trairia, mas não identificou.
Ter a proximidade da sua morte, sua tolerância e generosidade deveriam estar tragadas pelas janelas killers do medo e da angustia. Mas decifrou o código do altruísmo, da resiliência, do carisma e da capacidade de se doar sem esperar o retorno. Somente isso explica por que em vez de expor publicamente a traição de Judas Iscariotes, o protegeu e ainda por cima deu um pedaço de pão a ele. Seguro disse: “O que tendes de fazer faça depressa”. Não tinha medo de ser traído, mas de perdê-lo. Diferente de Freud, ele incluiu, abraçou e respeitou quem o decepcionou ao máximo.
“Há mais mistérios em desejos e sonhos do que imagina nossa van psicologia, desejos são intenções superficiais, sonhos são projetos de vida. Desejos não resistem ao calor das perdas, sonhos criam raízes nas dificuldades, até os psicopatas tem desejos de mudança , mas só os que sonham transformam sua realidade”.
É fácil criticar quem não decifra seus códigos da inteligência somente grandes pensadores como Einstein e Freud erraram nas relações humanas? Se voltarmos o dedo indicador para nós mesmos passaríamos ilesos? Será que não temos zonas de conflitos que nos tem levado a colocar pessoas importantes no rodapé de nossa história ainda que não admitamos? Quem não é herói em alguns momentos e vilão em outros? Quem não é maduro em determinadas funções da inteligência e infantil em outras? Que psicólogo, pedagogo, sociólogo ou filósofo não tem reações incoerentes e tolas quando atingido por determinados estresses?
Não há ser humano lúcido que não reaja com estupidez e nem outro tranquilo que não tenha seus momentos de desespero, devemos ter consciência que somos uma massa de seres humanos imperfeitos, vivendo em uma sociedade de pessoas imperfeitas. Você vai frustrar as pessoas próximas e elas irão frustrá-los. Por isso o código da tolerância não é uma opção nas relações humanas, mas uma necessidade insubstituível.
Augusto Cury in O Código da Inteligência