“Em um certo ponto da minha vida, em que a maioria das coisas estavam dando errado, acabei me acostumando com o caos e as decepções. Por bastante tempo perdi a minha capacidade de me surpreender com as coisas ruins que aconteciam. Meu coração esfriou, simplesmente ficou duro e insensível. Claro que minha essência não mudou, no fundo eu continuava doce, carinhoso, caloroso, positivo, mas vesti uma certa capa que me impedia de acessar todas as coisas bonitas que fazem parte da minha alma e do meu coração.
Se a gente não levanta e tenta quebrar o iceberg que nos rodeia depois de tantas frustrações, a tendência é que ele cresça e cresça e cresça e torne cada dia mais difícil de sair de dentro dessa energia fria. Ou tomamos o controle, ou as decepções nos controlarão. Triste caminho.
Tive a sorte de levantar e quebrar o gelo que tentava me fazer acreditar que a vida é fria e sem graça. Foi um processo lento, e talvez ele nem tenha acabado, a verdade, é que eu ainda me assusto um pouco quando as coisas estão dando muito certo. Deveria ser o contrário, sabe? Eu estar acostumado com as coisas boas e me surpreender negativamente com as coisas ruins. É que por um longo período as coisas foram um tanto difíceis e cinzas.
Mas as cores voltaram e tenho entendido que este é o normal: cores, luzes, sorrisos, conquistas, momentos para comemorar e agradecer.
As coisas ruins fazem parte, as fases ruins vão continuar acontecendo, mas agora eu entendo que elas são exceção e não a regra. Deixo de me assustar quando as coisas estão dando muito certo, porque simplesmente entendi que tô plantando todas elas, tô na frequência certa, jogando pro Universo a energia boa, e quando a gente age assim, Deus sempre nos abençoa.
Que a gente se ache merecedor de tudo de bom que acontece. Nós merecemos, sim. Plantamos coisas boas e vamos colhê-las.”
Do Livro: Pra Você que Sente Demais, de Victor Fernandes
Está fazendo nove anos que eu tive um dos maiores traumas da minha vida e só depois desse tempo todo que estou voltando a respirar… foi em setembro de 2016, quando a minha mãe me ligou em prantos dizendo que tinha descoberto um câncer de mama e que eu era a única pessoa que ela queria dar essa notícia. Ficamos as duas chorando sem parar no telefone. Para quem conhece o tarô, vai entender o que eu vou dizer agora: foi uma baita de uma Torre chegando, para desconstruir tudo! Aqueles anos seguintes, nunca mais foram os mesmos para mim… a tristeza me assombrava dia a dia, as quimioterapias, o seu sofrimento velado e disfarçado, o medo de perder a minha mãe a qualquer momento, suas lágrimas e inseguranças… ela sempre desabafava comigo. Minha mãe lutou incansavelmente, mas não conseguiu vencer o câncer, e junto também veio o Alzheimer, nos últimos meses minha mãe não sabia mais quem eu era, essa dor é dilacerante; você amar uma pessoa e ela não te reconhecer e te tratar como uma mera estranha, e em 2023 ela faleceu… e por mais que ela não esteja mais aqui… eu lembro de tudo que passamos juntas. Nossas conversas, nossas risadas, nossos passeios e viagens, seus anseios, sua fé inabalável, suas expectativas e esperanças… tudo o mais ainda pulsa dentro de mim… passou? Em partes. E o pior dia da minha vida nem foi a morte da minha mãe, foi quando ela me disse chorando e apavorada que estava com metástases, naquele dia perdi todas as minhas esperanças, apesar de esconder isso dela, é claro, e dar todo o meu apoio. Sei lá, ainda ficaram muitos resquícios dessa fase difícil, dessas memórias que terapia nenhuma cura… ajuda, ameniza, mas não cura. Eu e minha mãe tínhamos uma ligação muito forte, eu pensava nela e o telefone tocava e era ela; ou, vice-versa. Hoje eu entendo que o que ela sentia, eu também sentia, por mais longe que pudesse estar… Almas muito amigas têm dessas coisas, de outras vidas… que espaço-tempo nenhum separa ou pode apagar. Almas afins. Outro dia, chorei horrores, senti muito forte o perfume dela ao lado da minha cama, mas esse assunto vai ficar para outro dia…
Por isso, quando as coisas estão dando certo, vem o medo e eu preciso respirar fundo e pausar a minha mente, pois a sensação é que a qualquer momento algo de muito ruim está prestes a acontecer de novo, porque foram sete anos, vivendo em estado de alerta! 🚨 Por isso, que esse texto acima, bateu forte aqui, dentro! ❣️😘 E também, a minha incessante necessidade de não perder a conexão, a minha fé… com a minha espiritualidade… sempre! Os acontecimentos tristes da vida, nos ensinam a ser fortes como o bambu, que enverga, mas não cai. Deus nos ajuda, sempre! E nos lapida, também.