Eu prefiro os loucos. Sempre foi assim. Não que eu faça muitas loucuras e coisa e tal, mas gosto dessa sensação sublime de dançar de pés descalços no escuro quando a vida lá fora parece ter desaprendido o passo.
A minha dança é outra. Não tem ritmo nem coreografia pronta. Não tem dois pra lá dois pra cá. Você faz o que quiser e eu faço o que quiser, sem melindres. Eu danço sozinho, você dança sozinho, cada um com seus calos. E quando for pra dançar junto, a gente dança. E descabela. Só não pisa no meu pé, por favor. O resto pode. Pode tudo.
Eu gosto é dos loucos. Porque gente louca não tem medo do ridículo nem do rótulo. Gente louca não tá nem aí para o que não interessa. Gente louca é leve. E intensa. Com essa gente não tem frescura, não tem censura, não tem não-me-toques. Os loucos te tocam fundo, lá na alma, e te fazem acreditar que o impossível nem sempre é tão impossível assim.
Os loucos arriscam. Largam tudo. Mudam de ideia. De gosto. De direção. Eles voltam quando acham que têm que voltar. Eles seguem quando acham que o melhor é seguir. E eles também param de vez em quando, porque às vezes é preciso parar.
Gente louca tem uma capacidade incrível de acreditar nas pessoas e em si mesmo. Com eles não tem meio-termo nem mais ou menos. Os loucos não gostam do que é morno ou razoável demais. E quando eles gostam, é de uma maneira tão profundamente verdadeira que não tem como a gente não gostar.
Os loucos nos tiram do eixo, da zona de conforto, daquele lugar seguro que quase nunca nos deixa chegar a lugar algum. Gente louca não tem medo de ter medo.
E eles sentem medo, claro, quem não sente, mas o medo do louco é um medo que nunca paralisa, jamais paralisa, porque gente louca não deixa de ir quando a vida grita “vai”. Eles vão. Eles sempre vão. E, quando aparece o medo, eles vão com medo mesmo.
Eu prefiro os loucos com todas as suas ideias sem pé nem cabeça, que exatamente por serem sem pé nem cabeça fazem todo o sentido do mundo. E dispensam as expectativas. Se der, deu. Pronto. Não tem problema. A gente tenta de novo, faz de outro jeito, segue outro caminho, volta atrás, dá cambalhota e faz o que tiver que fazer. Porque a vida pede “coragem, covarde!”. E o louco dispensa a covardia. Aqui não, meu bem. Sai pra lá.
Eu gosto é da loucura suave dos loucos e do espírito leve e jovem que eles sempre fazem questão de conservar. Gente louca não tem idade nem liga para idade. Gente louca vive. E pronto. Para o louco não importa nem um pouco de onde você veio ou quanto você tem no bolso. Ele gosta é do lado de dentro e jamais se venderia por dinheiro nenhum neste mundo. Por nada. O louco não se vende. E também não tá nem aí para o que pode ser comprado.
Gente louca sobe no palco e dá show. Manda um foda-se do tamanho do universo para tudo o que faz mal. Escuta o coração. Deixa pulsar. Deixa ser. E é.
Gente louca não cabe em definições ou frases prontas. Porque o louco tem um brilho nos olhos diferente de tudo o que a gente já viu brilhar por aí.
Gente louca é artista. Da vida. De si mesmo. E sabe disso. Porque a loucura também é uma forma de sabedoria. Às vezes triste, às vezes divina. Mas sempre sábia. Sempre.
Gente louca sabe das coisas. Até que a gente não sabe de quase nada.
Por: Ana Paula Ramos – Publicado Originalmente em: cookiesandwords