João ama Maria, que ama Frederico, que ama churrasco. Luiza ama Pedro, que ama Suzana, que não ama ninguém. Essa logística complicada dos amores modernos tem mudado os moldes dos relacionamentos e tornado os envolvidos carentes, egoístas e medrosos.
Sou “acusada” de
destruir o estereótipo de “amor açucarado” desde 2012 quando comecei a
escrever e, confesso, que isso nunca me incomodou, já que acredito que
amar é muito mais simples do que julgam os apaixonados de plantão.
Cada um de nós tem um jeito de amar, mas, nenhuma delas é viver em um conto de fadas com príncipes e princesas encantadas. Amor bom é amor real! Desses que discutem a relação, que são provados na rotina e que superam desafios diários. Se não for assim, não é amor. Simples!
Gikovate afirmava que “amor é paz e é interpessoal” e
o psiquiatra estava certíssimo. Amor é uma oportunidade de relação
entre pessoas dispostas a fazerem dar certo e não uma luta de egos
fúteis e instáveis.
Amor tem que trazer paz, despertar saudade,
desenvolver cumplicidade. Essa história de “é o jeito dele amar”, “ele
me maltrata, mas me ama” ou “ela é ciumenta, mas cuida de mim” é
desculpa de quem não tem coragem de terminar uma relação abusiva.
Deveria ser lei: amor que não traz paz não deveria existir.
Mas, infelizmente, não é assim que acontece. As pessoas acostumaram-se
com as desculpas esfarrapadas, com os cancelamentos nos finais de semana
e com os turbilhões de sentimentos que está quase impossível distinguir
um verdadeiro amor de um sentimento descartável.
Amor não é paixão. Paixão não garante relacionamento e carência não comprova sentimento.
Precisamos entender que há uma imensa diferença entre relacionamentos
abusivos de relacionamentos sadios e, não saber diferenciá-los, custa um
alto preço emocional.
Geralmente, depois de uma grande desilusão
amorosa o medo em relacionar-se torna-se comum. As pessoas procuram
desculpas, inventam histórias e até encenam situações apenas para não
darem uma nova chance ao amor. Nesses casos, os medos emocionais são
escondidos pelas desculpas “não consigo confiar”, “ninguém ama ninguém”
ou “não estou pronto para me relacionar”. Além de anular toda a
possibilidade de felicidade com desculpas como a falta de tempo, falta
de interesse e falta de disposição.
A verdade é que somos incoerentes e extremos. Se por um lado temos medo de amar, por outro temos medo de ficarmos sozinhos.
É como diz aquele famoso ditado “um boi para entrar numa briga e uma
boiada para não sair dela”. Em outras palavras: temos um estoque de
desculpas para não começar uma relação e uma tonelada delas para não
sair.
Queremos que o outro se encaixe nos nossos moldes egoístas de
perfeição, mas não estamos dispostos a ceder em prol do relacionamento.
Queremos que alguém quebre nossas barreiras, mas não damos condições
para isso. Queremos um companheiro de vida, mas não criamos laços fortes
para que isso se efetive. A verdade é que queremos amar, mas temos medo
de sofrer.
Sabe de uma coisa? Permita-se! Nem todo relacionamento
sadio irá durar. Nem todo fim de semana divertido virará namoro. Nem
toda saudade será recíproca. E tudo bem! O que não dá é condenar toda
relação ao fracasso porque uma não deu certo.
Permita-se amar
novamente, a encerrar relações abusivas e a recomeçar sempre que for
necessário. Entenda que amor bom é amor calmo e, até que me provem o
contrário, amor que não traz paz, não há razão para existir.
Pamela Camocardi
Pamela Camocardi