“Um café e um amor quentes por favor!” Já dizia Caio F. Abreu, e é verdade. Certas coisas não nasceram para serem mornas. Um café morno, um livro com final enfadonho, um filme que provoca tédio, uma viagem maçante, um amor em banho maria.
Amor em banho maria nunca foi meu forte. Ou vibra, pulsa e borbulha junto comigo ou desliga logo esse fogo brando que nem ferve nem resfria de vez. Estagnação, indecisão e hesitação são atitudes de quem faz dieta emocional, de quem prefere um caldo morno e ralo a uma afeição quente e consistente.
O amor mingua por falta de cuidado. Carece que lhe dê sustento para que não morra de fome de afeto. Não se sacia de gestos contidos e economia de palavras, mas transborda quando sobra coragem, intensidade, desejo e vontade. Sem culpa, sem medo, sem vergonha e sem juízo.
Se é para ser um “tanto faz” na vida de alguém, melhor não ser nada. Amor tipo “tanto faz” não se move, não se desacomoda, não deseja nem busca respostas. Amor tipo “tanto faz” é indiferente, morno, monossilábico. Só corresponde quando convém, só aparece pra te fazer de refém.
Em “As vantagens de ser invisível”, livro do roteirista norte-americano Stephen Chbosky, há uma passagem que diz: “Nós aceitamos o amor que achamos que merecemos”. E há um tanto de verdade nessa frase. Quantas vezes não recusamos amores inteiros e dispostos a atravessar a vida conosco, e nos fixamos em amores de migalhas, pontos diminutos de luz no infinito, na esperança de que aquela faísca se torne uma estrela brilhante em nossa vida? O porquê disso acontecer eu não sei, mas talvez haja conexão com nossos primeiros afetos, com a forma como aprendemos a aceitar ou recusar atenção e cuidado.
Para aquecer um café e um amor, é preciso fogo, energia empenho e vontade. Sem esses ingredientes, a bebida e o afeto esfriam, perdem o gosto e a graça, só servem para matar a fome de quem não se importa mais com o sabor das coisas e da vida.
Que a gente aprenda a aceitar o que aquece a alma e recusar o que congela o coração. Que não nos falte café nem amor, mas que sejam quentes, por favor!
Fabíola Simões