Pessoas que têm o hábito de causar lesões físicas a si mesmas certamente estão vivenciando momentos muito difíceis. A automutilação é vista como uma válvula de escape nada saudável para indivíduos lidando com situações em que a dor psicológica e emocional necessita ser aliviada de alguma forma.
Mas nem sempre é possível identificar previamente o potencial risco ou atitudes recorrentes desse comportamento. Algumas estratégias são utilizadas para esconder as marcas das feridas e, por isso, é importante ter bastante atenção a outros sinais comportamentais.
O que é a automutilação?
A automutilação é definida por lesões provocadas nos próprios tecidos do corpo de forma deliberada, ou seja, propositalmente. A prática é mais comum entre pré adolescentes e adolescentes, e geralmente se manifesta na puberdade.
Idosos também podem apresentar episódios de autoagressão, mas, de modo geral, eles estão relacionados a quadros de demência. Autistas, por sua vez, podem praticar ações automáticas de automutilação como um dos sintomas da doença.
Automutilação é doença?
NÃO! Automutilação não é uma doença, mas pode ser sintoma de diversos transtornos mentais. É preciso ajudar a pessoa a obter auxilio profissional com psicólogo e/ou psiquiatra o mais rápido possível, pois é um sinal que a pessoa está passando por um conflito emocional e precisa de auxílio.
Alguns estudos indicam que os cortes liberariam mais endorfina em algumas pessoas do que em outras. Quando a substância age no cérebro, provoca sensação de bem-estar que diminui a ansiedade e a tristeza. É dessa maneira que a mutilação acaba se tornando um vício.
Existem dois tipos de comportamento: automutilação com pretensão final de suicídio e automutilação sem ideação suicida.
Automutilação com intenção suicida
Quando o objetivo final é o suicídio, esse cenário acontece em menor frequência considerando o histórico individual. Nesse caso, os meios utilizados para autolesão têm maior potencial de causar morte e são mais destrutivos.
Automutilação sem ideação suicida
As autoagressões mais comuns acontecem por meio de cortes em partes do corpo, queimaduras e arranhões severos na pele. Cortar ou perfurar a pele com um objeto pontiagudo, por exemplo, uma faca, lâmina de barbear ou agulha, e queimar a pele são os mais comuns. Além disso, algumas pessoas têm o hábito de bater a cabeça na parede ou esmurrar a si mesmas. Isso não significa, entretanto, que o comportamento não levará ao suicídio. Um corte mais profundo pode acabar levando o adolescente a óbito, mesmo que essa não seja a sua intenção.
A demora para buscar ajuda pode desencadear um Transtorno Depressivo maior, o Transtorno Obsessivo Compulsivo, mais conhecido como TOC, o Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtornos Alimentares (bulimia e anorexia) e, em alguns casos, o suicídio.
O que o estudos apontam
Estudos apontam várias causas, dentre as quais estão:
- Conflitos emocionais,
- Baixa autoestima,
- Dificuldade no enfrentamento de problemas familiares,
- Lidar com questões de identidade de gênero,
- Perdas significativas,
- Abusos sexuais e emocionais,
- Bullying e Cyberbullying
- Abuso de drogas lícitas e ilícitas
- Entre outros.
Os sintomas para identificar a automutilação são:
- Cortes, queimaduras e cicatrizes recorrentes;
- Manchas de sangue pelas roupas ou pela casa (lençóis, pia, carpete, entre outros locais);
- Recorrente uso de roupas largas e compridas para esconder ferimentos (mesmo no calor);
- Recorrente uso de desculpas como “acidente em casa”, “ando atrapalhado”, entre outras);
Isolamento, em casos de muita dor emocional, leva a pessoa a se afastar e sensibilizar suas emoções provocando irritabilidade, choro, culpa, autocrítica exagerada, entre outros fatores reforçadores do afastamento.
6 perguntas imprescindíveis que auxiliam durante a investigação.
- Alguma vez você cortou ou fez vários pequenos cortes na sua pele?
- Alguma vez você se feriu de alguma forma e desejou esse ferimento?
- Quando fez alguns dos atos, você estava tentando se matar?
- Você sente algum tipo de alívio quando provoca esses ferimentos?
- Você costuma ter esse tipo de comportamento diante das pessoas com quem convive?
- Quanto tempo você gasta pensando em fazer esse ato antes de realmente executá-lo?
Como ajudar a pessoa que passa por uma fase de automutilação?
A primeira conduta a ser seguida é criar um ambiente acolhedor, considerando a individualidade de cada um, sem negligenciar suas dores psicológicas.
A partir daí, é essencial analisar e estabelecer uma relação de confiança e afetividade, buscando dialogar continuamente. É importante, também, tentar mostrar que existem outros meios de solucionar os problemas que não sejam por automutilação.
Uma grande aliada do tratamento é a terapia, que permite identificar e tratar os motivos que levam a essa prática. Desse modo, o apoio profissional auxilia a pessoa a ser capaz de descobrir alternativas saudáveis para resolver suas perturbações.
Dependendo do caso, medicamentos também podem ajudar a diminuir ou cessar os episódios de autolesão — o uso adequado deve ser acompanhado de um psiquiatra e associado à psicoterapia.
Na escola:
- Educadores, acolham seus alunos, eles não estão chamando a atenção, pelo contrário, eles têm o medo de serem descobertos; escutem o que eles têm a dizer! Falem sobre a automutilação na escola. Proponham debates, soluções, caso estejam com algum aluno com comportamentos que possam ser suspeitos. Respeitem, eles estão em sofrimento;
- Promovam jogos, dinâmicas e rodas de conversas mediadas por um psicólogo ou professor capacitado para abordar os temas pertinentes aos jovens;
- Encaminhem os alunos para ajuda terapêutica, falem com os pais e ofereçam apoio, compreensão e carinho, sem punição e julgamento;
- Encaminhem para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) mais próximo de seu bairro;
- Fale abertamente com seu professor, ele saberá como te ajudar;
- Se é seu amigo ou amiga que sofre por uma ansiedade intensa e que está se automutilando, tenha um diálogo com ela(e). Ofereça um abraço e diga que ela não está só. Pare para escutá-la, mesmo que isso te choque. Diga sempre que você estará disponível para conversar.
Para os pais:
- Observe as roupas que seu filho escolhe. Fique atento às mudanças de comportamento que ele apresenta. Eles podem expressar seus desconfortos com agressividade;
- Avalie a importância de estarem mais juntos, pergunte sempre ao seu filho: “como você está?”, “com quem você vai sair?”, “precisa de alguma coisa?”, “como posso te ajudar?”;
- Permita que eles falem o que sentem, não interrompa. Não se desespere, sempre há tempo para resgatá-los;
- Não sinta culpa. Acolha-os e estejam abertos para um diálogo amoroso e sem julgamentos, eles precisam do seu olhar.
Texto extraído de várias fontes: Scielo; Manual MSD;
Algumas pessoas não acreditam que o fato de elas praticarem a automutilação é um problema e, por isso, tendem a não procurar ou aceitar terapia. A automutilação traduz um grande sofrimento das pessoas que a praticam e, à medida que elas são acolhidas, ouvidas e orientadas a externar suas preocupações e conflitos, conseguem se enxergar mais seguras e autoconfiantes. A família tem papel fundamental nesse processo e também deve buscar apoio psicológico, quando necessário. Grupos de apoio também podem ajudar, nesses casos.