Mentiram para nós quando disseram que o relacionamento a dois seria uma história com começo, meio e fim bem definidos. Como se houvesse um roteiro universal, desses que se compra pronto, onde basta seguir as instruções para tudo dar certo. Com o tempo, percebemos que não existe mapa: o amor se escreve no improviso, entre o que planejamos e o que acontece apesar de nós. E é justamente aí que mora a graça, no território onde a vida desarruma nossos planos e revela versões nossas que nem sabíamos existir.
Mentiram também quando pintaram o amor como refúgio constante. Ele é abrigo, sim, mas também é espelho. E nenhum espelho mostra só aquilo que gostaríamos de ver. A convivência a dois expõe pequenas rachaduras, hábitos antigos que tentamos esconder, zonas de silêncio que só aparecem quando alguém chega perto demais. E, ainda assim, é nesse encontro desconfortável, que nasce algo precioso: a chance de nos tornarmos pessoas mais amplas, mais nítidas, mais vulneráveis para o outro e mais verdadeiras.
Disseram que o amor exigia concordância, mas a verdade é que ele floresce justamente quando aprendemos a discordar sem destruir ou ofender. Quando o debate vira ponte, e não muros intransponíveis. Quando o coração entende que a divergência não é ameaça, mas convite para compreender um argumento novo e que não é o nosso. E assim, vamos descobrindo, que um relacionamento sobrevive da capacidade de duas pessoas coexistirem com suas diferenças.
Mentiram ainda, quando prometeram que um grande amor basta para nos fazer felizes. A felicidade não vem pronta, é construída como cerâmica: moldada, re-moldada, queimada, às vezes rachada, às vezes refeita. E cada gesto simples e sincero do cotidiano, contribui para isso. São esses fragmentos que sustentam o “nós”, e não grandes gestos cinematográficos.
E talvez, a maior mentira de todas tenha sido aquela ideia romântica de que amar é fácil para quem encontra “a pessoa certa”. A verdade é menos glamourosa e mais humana: ninguém é totalmente certo para ninguém. O que existe é alguém disposto… disposto a aprender, a ceder quando for preciso, a defender a própria essência quando não for, e a caminhar lado a lado mesmo nos trechos em que a estrada parece perder o desenho. É essa disposição, que transforma um encontro comum em algo extraordinário.
E sobre o sexo, depois do casamento? Mentiram para nós que ele diminui. Alguns casais podem vivenciar isso, mas outros, não. Tudo vai depender da química e da vontade da entrega de cada um. Porque há casais que ainda mantém essa faísca acesa. E aqui está a parte que quase nunca dizem: para muitos casais, o sexo depois do casamento se torna melhor, mais profundo, intenso, honesto, menos preocupante com performance ou corpo e mais conectado com sensações, gostos, confiança e entrega. Porque os corpos já se conhecem muito bem, já tem mapa próprio, e isso abre espaço para ousar, rir, experimentar, comunicar-se sem tanta rigidez, pudor ou timidez. O desejo não morre com o casamento; ele morre com o descuido. E renasce com presença. Com os dois criando pequenos rituais que não deixam a relação se apagar. A chama está sempre lá, basta os dois ousarem.
Por fim, entre tantas mentiras bem-intencionadas, descobrimos uma verdade simples: relacionamento é escolha diária. Não uma escolha pesada, mas uma escolha que se renova como quem abre a porta todas as manhãs e diz “estou aqui, vamos tentar de novo?”. E assim seguimos, construindo um relacionamento que não promete perfeição, mas oferece presença, sentido e um lugar onde o coração pode descansar sem deixar de crescer.
Todas essas “mentiras” que fizeram a gente acreditar são apenas algumas das crenças limitantes que enfiaram nas nossas cabeças. A vida não precisa ser dessa maneira. Tudo pode ser transformado… basta querer.
Bjs, vou ficando por aqui. ❣️
