Temos que aceitar que algumas coisas não têm reparo, não tem restauro, não vão ter conserto nunca mesmo. Mas é preciso investir, até que a certeza de que não vale a pena seja plena.
Hoje em dia, quando uma coisa quebra ninguém mais quer consertar. Ninguém pensa se ainda tem ou não tem conserto. Querem trocar. Substituir. Silenciar. Jogar fora. Quando algo quebra, o destino mais provável é o lixo, o abandono. Quando algo dá trabalho, o melhor é esquecer. E por mais triste que pareça, muitos querem impor esse comportamento, também, a suas relações de vida: Amizades, amores, namoros, trabalho, etc. Ninguém quer mais perder tempo: Quebrou? Joga fora. Deu trabalho? Não me serve.
É certo que ninguém é obrigado a suportar aquilo que não deseja. Todos têm o direito de ficar em dúvida quando não se sabe o que fazer em algumas situações. Por outro lado, uma das maiores características do ser humano é se acostumar a qualquer coisa. A gente se acostuma com o bom. A gente se acostuma com o ruim. A gente se acostuma a ser bom. A gente também se acostuma a ser ruim. Nos acostumamos a tanta coisa, a tanto sentimento vago, a tanta emoção vazia, que se desapegar tornou uma tarefa difícil, na maioria das vezes, até impossível.
Sendo assim, devemos ter muito cuidado para não transformar essa rotina de descartar tudo que incomoda ou aceitar e permanecer com o que não gostamos por medo da mudança e hábito, em monstros que devoram nossos dias, nossos sonhos e o valioso pouco tempo que ainda nos resta.
Sair da zona de conforto não é nada fácil. Se habituar com o que é pouco ou com os excessos acaba sendo uma cruel consequência. Resta jogar tudo para o alto e cair fora conforme a regra? Ou tentar consertar e arriscando repetir o erro?
De tanto parar para pensar, a gente acaba aceitando algumas coisas, só por não saber como consertar. Só por não ter coragem de agir. Por não saber sequer por onde, nem como dar início ao que se pretende. Só por não querer jogar o que não serve mais no lixo. Por não ter coragem o suficiente ao menos para abrir a porta e deixar ir.
Temos que aceitar que algumas coisas não têm reparo, não tem restauro, não vão ter conserto nunca mesmo. Mas é preciso investir, até que a certeza de que não vale a pena seja plena. Daí não tem mais volta, o melhor é abrir a gaiola e voar ou abrir a gaiola e deixar sair. Ninguém precisa brigar por felicidade. Precisa simplesmente ter autoestima e muito amor-próprio.
Concordo que alguns sentimentos precisam de conserto, precisam de quem os ajude a fluir, precisam de alguém que não meça esforços e renúncias para fazê-lo surgir. Alguns sentimentos valem todo o custo para mantê-los vivos. Algumas pessoas valem todo o custo para mantê-las por perto. Se ser feliz é a meta, então não meça energias para conseguir, para conquistar. Elimine o orgulho que existe dentro de você. Às vezes é difícil, a gente falha, mas não ligue para o que vão dizer, siga em frente, porque a gente deve confiar e ser otimista, sabendo que o importante é entender que os momentos difíceis, de dúvidas e fracassos, podem fazer surgir uma vida plena de belezas e alegrias, sem que haja a necessidade de se jogar nada fora ou desistir de algo ou alguém. Consertar, muitas vezes, vale a pena, vale a outra chance.
Administrar a vida é uma arte e a gente não pode se esconder para sempre atrás das portas e no escuro com os olhos fechados para o espelho. Precisamos ter uma alma grande, não uma alma mesquinha que se submete aos caprichos alheios para satisfazer outros egos, depreciando a nossa própria imagem no espelho. Só vale a luta e o apego, se sentirmos que existe o amor. Sempre é de verdade quando há reciprocidade.
Se esforce ao máximo para ficar do lado de alguém que te faz bem, mas dê maior valor as atitudes que saem do coração, às palavras que saem da boca. Não somos obrigados a aceitar tudo, a sorrir sempre, a agradar a todos e a permanecer calados.
Não adianta sonhar em consertar o mundo, se a gente não consegue arrumar nem a nossa vida. Nós não somos obrigados a ser o que não queremos ser. A ter o que não precisamos ter. A manter o que não é essencial. Não somos obrigados a consertar o que está sempre quebrando. Não somos.
Nossa única obrigação é tentar ser feliz. E quem deseja estar junto, que faça por merecer e venha com aquele sentimento que não precisa restaurar, não carece de remendos. Que venha com aquele sentimento inteiro, íntegro e verdadeiro. Que venha sabendo conjugar, perfeitamente, o verbo amar!
Cleonio Dourado