É uma estratégia muito eficaz que muitas pessoas usam para fazer sofrer e se aproveitar dos outros. Estamos falando do gaslighting, também conhecido como manipulação, a forma de abuso mais sutil e corrosiva. É uma forma de abuso psicológico na qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade. Tanto os homens quanto as mulheres podem ser vítimas do gaslighting, embora os estudos indicam que quem sofre mais com esses abusos, são as mulheres.
Gaslight ou À Meia-luz (1944) foi aquele filme em que o maquiavélico Charles Boyer fez sua esposa, Ingrid Bergman, acreditar que estava enlouquecendo.
Essa angústia, a dúvida permanente da personagem feminina questionando-se quase à beira da loucura, nos mostrou o quão longe pode ir a arte do abuso psicológico. Mais de 7o anos depois, a Dra. Stephanie Sarkis publicou um artigo que viralizou falando sobre os sinais do gaslighting, uma prática que aparece em quase todos os vínculos humanos.
Algumas frases de gaslighting que nos fazem questionar a realidade
As pesquisas realizadas na Universidade de Harvard nos lembram que o gaslighting é uma forma de abuso de poder. É praticado por aquelas figuras que procuram, acima de tudo, subjugar os outros. Para isso, projetam, aplicam e evocam um tipo de abuso para minar a identidade do outro, invalidá-lo emocionalmente e alimentá-lo de inseguranças.
“Eu sei o que você está pensando, transparece no seu rosto.”
O manipulador psicológico e arquiteto do gaslighting é um suposto especialista em mentalidade. Ou seja, nos fará acreditar que pode adivinhar o que pensamos, que somos um livro aberto e que tudo é mostrado nas nossas expressões.
Além disso, o simples fato de nos dizerem “que sabem o que estamos pensando” é uma tentativa de dominação. Porque, na verdade, o que temos em mente não importa. Não importa a sua realidade interna, importa apenas o que o outro acredita, por mais absurdo que pareça.
“O que acontece é que você é muito sensível.”
Entre as frases típicas do gaslighting, não pode faltar “você é muito sensível”. Com ela, tentam minimizar as nossas necessidades fazendo-nos acreditar que recorremos ao exagero ou que somos como reis do drama.
“Tudo o que acontece comigo é culpa sua.”
Projetar a culpa nos ombros dos outros é um recurso tão sofisticado quanto recorrente em todo manipulador. No entanto, por mais clássico que seja, sempre faz novas vítimas.
Com a projeção da culpa, a autoestima alheia é boicotada e a outra pessoa se sente cada vez mais insegura em seu comportamento.
“Já falamos sobre isso, não lembra?”
Negar algo que você sabe que é óbvio é outro recurso do especialista em gaslighting. Dizer-nos, por exemplo, que já tivemos certas conversas, que chegamos a certos acordos ou, ainda mais, que dissemos algo em particular (quando não é verdade) são estratégias nocivas muito comuns nestes casos.
“Você está me oprimindo com as suas obsessões!”
Entre as frases de gaslighting de um abusador psicológico, não podem faltar expressões como “você é louco, você me oprime com suas tolices sem sentido e você é um neurótico”. Com essas palavras, consegue-se mais uma vez que a outra pessoa não apenas duvide de si mesma, mas também acredite que seu comportamento ou modo de ser é prejudicial ao outro.
“Você está estressado, não está pensando com clareza.”
Outro objetivo do gaslighter é derrubar as forças mentais do outro. Ele fará o outro acreditar que não está bem, que se preocupa à toa, que age fora de controle, que tudo que diz e faz não tem sentido. Se você exige respeito ou se exige algo de que precisa, eles vão te dizer que você está estressado, que você não está pensando com clareza.
“Você precisa aprender a se comunicar melhor.”
As frases de gaslighting traçam aquele tipo de manipulação que mina qualquer área pessoal. Fazer você duvidar das suas habilidades sociais, dos seus pontos fortes e até mesmo dos seus conhecimentos é comum. Eles dirão que você se comunica mal, que eles não conseguem entender e que é cada vez mais difícil conversar com você.
“Você não aguenta uma piada?”
As piadas do manipulador psicológico, longe de serem engraçadas, causam feridas profundas. Eles vão aproveitar a ironia que magoa, o sarcasmo que machuca e aqueles comentários que, longe de despertarem sorrisos, afundam a autoestima.
“Você é a única pessoa com quem tenho esses problemas.”
“É claro que está acontecendo alguma coisa com você, porque o que eu passo com você não acontece com mais ninguém… ”. Se alguém tem esse tipo de raciocínio, devemos ser claros: eles estão fazendo gaslighting. O que eles buscam com isso é demolir todas as nossas temperanças e nos fazer acreditar que temos um problema do qual não temos consciência.
Confie na sua intuição
É difícil sair de uma situação como esta? Claro que sim, assim como de todas aquelas onde existe uma pessoa disposta a manipular. No entanto, não é impossível. Por isso é importante considerar certas dicas que nos permitam abrir os olhos e sair de uma situação como a que descrevemos, caso em algum momento alguém esteja tentando nos aplicar o gaslighting.
A primeira destas dicas é confiar na própria intuição. Quando sentimos que existe alguma coisa esquisita, alguma coisa que não encaixa, não podemos dar toda a razão ao outro. Nosso instinto está falando e é preciso ouvi-lo. Ele costuma ter pelo menos tanta “razão” quanto a que a outra pessoa possa ter.
A segunda dica é não procurar a aprovação do outro. Isto é uma coisa que muitas vezes fazemos por causa de uma baixa autoestima ou porque dependemos dessa aceitação. Mas, se o nosso próprio instinto já está dizendo que alguma coisa cheira mal, não devemos dar tanta importância a quem nos diz que certa conversa nunca aconteceu.
A terceira dica é se manter firme dentro dos próprios limites. Se a outra pessoa grita, se usa palavras ofensivas conosco ou notamos que procura nos usar para fazermos o que ela deseja, devemos manifestar isso e não deixar de lado. Não devemos permitir que alguém ultrapasse nossos limites, pois esses são intransponíveis. Uma vez que você cede, fica difícil voltar atrás, e uma pessoa que maltrata psicologicamente aproveitará essa oportunidade.
O gaslighting quase nunca exige o uso da violência explícita.
Afastar-se da pessoa que está fazendo você se sentir tão mal é importante para criar distância e analisar a situação a partir de uma perspectiva onde a manipulação não possa intervir. Dar a razão ao outro, quando este nos faz duvidar de nós mesmos, lhe dará todo o poder para nos destruir.
Texto tirado de diversas fontes - Psicologias do Brasil, A mente é Maravilhosa, StephanieSarkis.com
Minhas Considerações: Na verdade, nesse tipo de relações operam mecanismos complexos de projeção e introjeção. Para não cair neste tipo de relações tóxicas, é fundamental ter em mente algumas recomendações. A primeira é que você deve permanecer alerta a qualquer manifestação que questione as suas crenças e que desequilibre a sua autoconfiança. Não entre em discussões estéreis, ou seja, a troca de pontos de vista subjetivos que não levam a lugar nenhum. O gaslighting pode destruir a autoestima, fazer a pessoa perder completamente a confiança em si, pode causar transtornos de ansiedade e, inclusive, levar a um estado de depressão.
Para quem quiser aprofundar-se nesse assunto, leia o livro “O Fenômeno Gaslighting”, escrito pela Ph.D. em Comportamento e Saúde Mental Stephanie Moulton Sarkis. Esqueci de mencionar, o Gaslighting pode estar inserido nos mais diversos tipos de relacionamentos e não só entre casais, como: chefe e funcionários, entre amigos, colegas de trabalho, pais e filhos, etc.
Alguém pode querer saber qual a diferença do gaslighting e do moonwalking? Os dois são formas de abusos psicológicos. O moonwalking, seria dar dois passos para frente e três para trás, lembram do Michael Jackson, com seus passos de dança? Pois é, o moonwalking, foi inspirado nele, a psicóloga e escritora Viky Stark, uma especialista em relacionamentos, cunhou esse termo, em um artigo na Psychology Today. Ela definiu esse tipo de comportamento dentro dos relacionamentos, e é um tipo de abuso. São aqueles relacionamentos que não evoluem, vivem de discussões e críticas constantes. De certa forma, os agressores psicológicos praticam isso emocionalmente.
Os abusos em si, têm várias nuances, formas, linguagens, mecanismos e estratégias. Frequentemente, pessoas abusivas recorrem ao desprezo camuflado de sarcasmo (que é o caso do moonwalking) e que enfraquecem as relações afetivas. Tanto o gaslighting quanto o moonwalking, são nocivos. Cabe aquele que está sofrendo tomar uma decisão. Nesses casos, é fundamental procurar ajuda psicológica ou reavaliar o relacionamento e posicionar-se nessas situações, impondo limites. Não permita que os outros coloquem em cheque a sua forma de pensar ou de sentir. Tenha em mente que este é o terreno ideal para quem pretende manipulá-lo.
Por favor, se for compartilhar respeite os direitos autorais. Plágio é Crime!