Como dizia Carl Jung, "ninguém é puramente extrovertido ou puramente introvertido, ou estaria confinado em algum manicômio".
Há pessoas, porém, que tendem a se localizar em uma zona intermediária da escala, como explicam os psicólogos, e podem ter características de ambos os lados dessa faixa. São os chamados "ambivertidos" e "têm o melhor de dois mundos", já que "podem tirar proveito dos pontos fortes de introvertidos e extrovertidos de acordo com a necessidade", diz o Quiet Revolution, popular site que diz ter como missão "desbloquear o poder dos introvertidos para o benefício de todos".
"Os ambivertidos são pessoas fascinantes, que podem ser excelentes conversadores e excelentes ouvintes ao mesmo tempo", diz a comunidade da web Introvert, Dear, criada por Jennifer Granneman, autora do livro A vida secreta dos introvertidos.
Mas existe realmente uma explicação científica para a ambiversão ou ela é apenas um jeito popular de se referir a uma pessoa "comum"?
Para entender melhor o que significa, é preciso saber o que são a introversão e a extroversão.
Os introvertidos "obtêm energia de seu mundo interior", segundo a conhecida classificação Myers-Briggs, baseada nos ensinamentos do psiquiatra suíço Carl Jung, e tendem a preferir ficar sozinhos ou fazer coisas que envolvem estar sozinhos, como ler ou pintar, por exemplo.
Mas isso não significa que eles sejam "antissociais". Eles gostam de socializar e fazem isso de uma maneira diferente dos extrovertidos.
Estes últimos geralmente obtêm energia das interações sociais.
Os psicólogos contemporâneos, por sua vez, não usam a ideia de "energia" e definem as duas dimensões da personalidade simplesmente como "a tendência a ser sociável versus a tendência a preferir estar só", diz John Mayer, professor de psicologia na Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos.
Origem
O primeiro a usar o termo "ambivertido" foi o psicólogo americano Edmund S. Conklin, em 1923, diz Ian Davidson, professor de Psicologia da Universidade de York, no Canadá.
Davidson detalha que um psicólogo da época dizia que Conklin "inventou a palavra" para descrever aqueles que estão localizados entre introvertidos (que vivem dentro da própria cabeça) e extrovertidos (que vivem fora dela).
"Como eles não se encaixam na classe extrovertida ou introvertida... para mim, os ambivertidos são, de longe, os mais normais e saudáveis", afirmou Conklin.
Davidson explica que as principais características dos ambivertidos, para Conklin, eram seres "normais, saudáveis, adaptáveis, flexíveis e eficazes".
Desde então, o termo passou despercebido por psicólogos e psiquiatras porque "eles simplesmente não viam a utilidade de uma categoria para pessoas normais ou comuns", diz Davidson
Mas nos últimos 10 ou 20 anos a situação mudou.
Equilíbrio
O significado de "ambivertido" continua basicamente o mesmo, mas ganhou definições mais detalhadas dos psicólogos modernos.
"Às vezes, os ambivertidos agem de forma um tanto extrovertida, e outras vezes, de uma maneira mais auto-reflexiva, mas sem se identificar mais com um lado do que com o outro", diz Mark Leary, professor de psicologia e neurologia da Universidade de Duke, na Carolina do Norte (EUA).
"Eles mostram uma mistura de características. São um pouco dos dois", acrescenta.
Ronald Riggio, professor de Liderança e Psicologia Organizacional do Claremont McKenna College, na Califórnia, os descreve como pessoas que "não são muito faladoras nem egocêntricas demais".
"Eles não têm uma forte necessidade de interagir com outras pessoas (como fazem os extrovertidos), nem de buscar a solidão com frequência (introvertidos)", acrescenta.
Os ambivertidos são "pessoas flexíveis que podem ser introvertidas ou extrovertidas, dependendo das condições sociais", observa o professor Mayer, de New Hampshire.
Eles também podem ser comparados a pessoas bilíngues, que podem falar o "idioma" tanto dos introvertidos quanto dos extrovertidos.
O Professor Riggio afirma que "a maioria das pessoas é ambivertida, talvez dois terços da população".
Então é provável que você seja um deles ou que conheça muitos.