Ser antissocial não é a mesma coisa que ser associal, assim como ser antissocial não é o mesmo que ter um transtorno de personalidade antissocial. O que está escondido por trás desses conceitos? Qual é a diferença entre eles?
Você já deve ter ouvido a expressão: “Não seja tão antissocial!” Curiosamente, é uma expressão que muitas vezes utilizamos de maneira incorreta, pois usamos o termo antissocial para nos referirmos a alguém associal (com dificuldade ou desinteresse em se relacionar). Este termo (antissocial) é (mal) utilizado, por exemplo, para se referir a amigos que de repente não querem sair ou que são mais “eremitas” do que o normal. No entanto, as diferenças entre ser associal e antissocial são notórias e, neste artigo, falaremos sobre elas para distinguir entre esses dois conceitos.
Na verdade, são dois termos que compartilham apenas o sufixo (-social). Embora ambos os conceitos tenham a ver com a maneira de ser de alguém, eles não têm nada a ver entre si.
O que é ser antissocial?
Quando falamos de alguém antissocial, referimo-nos a uma pessoa que se dedica a quebrar as regras estabelecidas a nível legal e social, que vai contra a ordem social. Ou seja, alguém rebelde, que, embora integrado à sociedade, mostra essa tendência para alterar a paz social.
Além disso, é frequente que realizem esse tipo de comportamento através da violência. Devemos diferenciar aqui uma pessoa antissocial (ou com tendência a mostrar traços de personalidade antissocial) de uma pessoa com transtorno de personalidade antissocial (TP).
Transtorno de personalidade antissocial
Neste último caso, estamos falando de um transtorno tipificado como tal no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). É caracterizado por um padrão dominante com pouco respeito pelos direitos dos outros, e só pode ser diagnosticado a partir dos 18 anos. Antes dessa idade, se encaixa no Transtorno de Conduta e Transtorno de Oposição Desafiante.
O TP antissocial se manifesta por meio de uma série de sintomas (critérios), como tendência a mentir, impulsividade, irresponsabilidade, não cumprir normas sociais, irritabilidade e agressividade, falta de remorso, etc. Em outras palavras, um TP antissocial é muito mais sério do que simplesmente ser antissocial.
E associal?
Por outro lado, quando falamos de alguém associal, referimo-nos a uma pessoa que tem dificuldade de se integrar e se relacionar com a sociedade (ou que não tem interesse em fazê-lo). Ou seja, eles não burlam regras como os antissociais, mas têm dificuldade (ou não têm interesse) em se integrar, participar de grupos, se relacionar, etc. São pessoas que preferem a solidão.
Como dissemos, em muitos casos, ser associal não é uma dificuldade, mas sim uma falta de motivação por parte da pessoa, que prefere exercer as atividades sozinha e que não tem interesse nas relações sociais. Se levarmos esse jeito de ser ao extremo, encontraremos transtornos do espectro do autista (TEA) ou até mesmo o transtorno de personalidade esquizoide.
Transtorno de personalidade esquizoide
Neste último caso, as pessoas com TP esquizoide, também classificadas como tal no DSM-5, apresentam um padrão dominante de distanciamento nas relações sociais, bem como pouca variedade de expressão de emoções em contextos interpessoais.
Em outras palavras, no TP esquizoide, não falamos apenas em ser “associal” em um grau extremo, mas também incluímos outros tipos de sintomas. Alguns deles são os seguintes: desfrutar de pouca ou nenhuma atividade, mostrar pouco interesse em ter experiências sexuais com alguém, não querer ou não desfrutar de relacionamentos íntimos, quase sempre optar por atividades solitárias, ser indiferente a elogios ou críticas dos outros, etc.
Como podemos ver, as diferenças entre ser associal e antissocial são óbvias. São duas maneiras muito diferentes de ser. Enquanto o associal apresenta desmotivação para participar das interações sociais, bem como uma preferência por atividades solitárias, o antissocial atua violando as normas sociais, muitas vezes de forma violenta.
Neste segundo caso, às vezes falamos de pessoas que até cometem crimes, como roubos (nos casos mais extremos, alguém com TP antissocial pode matar). Assim, para ilustrar esses dois conceitos, pensemos de forma gráfica e muito simplificada no antissocial como o clássico delinquente ou vândalo e no associal como o eremita que prefere viver na solidão.
No entanto, uma pessoa antissocial também pode ser associal, embora esta não seja uma regra. Ou seja, são fenômenos que não precisam aparecer juntos. O que devemos ter claro é que o antissocial pode ser alguém muito sociável (longe da associalidade) e, no entanto, violar os direitos dos outros ou as normas sociais, o que também pode dificultar a sua inserção na sociedade (como aconteceria com a pessoa associal, embora por razões claramente diferentes).
Fonte: A Mente é maravilhosa