O dia amanheceu um tanto diferente. A paisagem bucólica sorria timidamente, típico de uma manhã de outono. As árvores perdiam suas primeiras folhas, que coloriam o chão, secando ao tempo. Aos olhos de uns, a beleza estava enfeando. Para outros, renovando-se. O vento fazia-se notar.
Particularmente, gosto do outono. Uma das poucas definições mornas, relacionadas a meio-termo, que me agradam: nem tão quente como o escaldante verão, nem tão frio quanto o impiedoso inverno. Tecendo uma analogia, o outono é, quem sabe, a estação que mais desperta sentimentos até outrora adormecidos. Drummond também pensava assim ao alertar: “Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza”.
Talvez seja o outono, entre todas as estações, a que nos oferta mais introspecção. Ao formarem-se os primeiros tapetes coloridos, pelas ruas que passamos distraídos, somos tomados pela sensação de transformação e renascimento.
Marco Paschoal anunciou e seu prelúdio repercutiu em mim como uma prece: “É hora de cortar os excessos, cortar aquele galho que pesa, deixar só os galhos úteis expostos, nenhuma folha. Quanto menos atrito com o vento frio e forte, melhor! É hora de deixar bonita e forte, a terra, lá na raiz, onde ninguém vê, para então, quando chegar a primavera, logo nas primeiras chuvas, tudo novo rebrotar mais lindo, colorido intenso, forte, imponente, radiante. Quero outono não outrora, quero o novo, quero agora”.
O Segredo