''Naquele tempo eu ainda não sabia que certezas às vezes se desmancham como nuvens no céu da nossa mente. Que aquele que é tão bacana pode também se comportar com rudeza ao se sentir inseguro. Que nem sempre as pessoas serão sensatas como esperamos. Que a gente chama de amor um monte de coisas que não são amor.
Eu ainda não sabia que quando a gente mais precisa de auxílio, tem gente querida que não consegue ajudar, não pelo o que é nosso, mas pelo o que é delas. Eu ainda não sabia que a gente não sabe de nada. Que a dor, invariavelmente, está na jornada da alma. Que a borboleta fala também de um aperto que sorriu. Que a gente não imagina, enquanto não precisa, a própria força que tem.
Eu ainda não sabia que amadurecer pode ser tão bom. Que viver é simples, mas não é fácil não. Que, não importa o que acontecer, tem gente que fica mesmo do nosso lado. Que Deus nos protege das maneiras mais inimagináveis e carinhosas. Que existe, sim, gente bem maldosa. Que julgar alguém é ainda mais inadequado do que a gente já dizia saber.
Eu ainda não sabia que companheirismo amoroso é dádiva. Que a amizade é tão importante, por mais que eu já chamasse algumas pessoas de amigas. Que família nos acompanha pra sempre, mesmo longe. Que doença, é verdade, pode acontecer pra todo mundo. Que velhice, é verdade, mais do que eu já havia visto, alcança mesmo o nosso corpo.
Eu ainda não sabia que os anjos existem de verdade. Que o Universo tem tantos segredinhos. Que parte dos nossos olhos é magia. Que uma luz, no escuro, reconhece logo a outra. Que o que nos salva todo dia é a poesia que existe em tudo. Eu ainda não sabia que grande parte das mudanças acontecem de repente.
Eu não sabia. A vida conta pra gente.''
Naquele Tempo, por Ana Jácomo