Olá, meus amores, bom dia!
Ontem à noite, assisti uma comédia romântica que gostei bastante. E fez eu refletir sobre alguns pontos importantes. O filme French Lover (2025), protagonizado por Omar Sy e Sara Giraudeau, sob uma aparência leve e encantadora, revela um retrato sensível sobre identidade, autenticidade e o impacto das diferenças sociais no amor. Ambientada em Paris, a narrativa acompanha o encontro entre um ator famoso e desencantado com a vida e uma garçonete simples, cuja humanidade o atrai. A história, embora pareça simples, abre espaço para uma análise psicológica rica dos personagens, que enfrentam dilemas internos sobre quem são e o que buscam de fato nas relações afetivas.
O protagonista masculino, Abel, representa o arquétipo do homem de sucesso que perdeu o sentido de sua própria trajetória. A fama lhe concedeu prestígio e reconhecimento, mas o distanciou da autenticidade. Psicologicamente, Abel é um personagem marcado pela desconexão emocional e pelo vazio existencial. Acostumado a representar papéis, ele vive também um “personagem” fora das telas, incapaz de demonstrar vulnerabilidade. Seu encontro com Marion, desperta nele a necessidade de reencontrar o “eu” esquecido, o homem por trás do artista. O amor, nesse contexto, aparece não como um refúgio romântico, mas como uma oportunidade de reconciliação interna, de autoconhecimento e de humanização.
Marion, por outro lado, simboliza o polo oposto da fama: a vida comum, a rotina, o anonimato. a autenticidade e a maturidade. No entanto, sob sua aparência simples, esconde-se uma mulher em busca de autoestima e propósito. Ela vive entre o desejo de ascender socialmente e o medo de perder a própria identidade. Ao conhecer Abel, é confrontada com um mundo que sempre lhe pareceu distante. Psicologicamente, sua jornada é de afirmação e autonomia: ela precisa descobrir se pode viver um amor verdadeiro sem se anular diante do brilho alheio. Marion é, portanto, o espelho que reflete as fragilidades de Abel, mas também o exemplo, de que o valor de uma pessoa não depende do olhar externo, e sim do reconhecimento interno.
A relação entre os dois protagonistas funciona como metáfora do encontro entre dois mundos antagônicos: o da fama e o da simplicidade, o da visibilidade e o da invisibilidade social. Sob a ótica psicológica, o relacionamento representa o confronto entre máscara e essência. Enquanto Abel tenta despir-se das aparências para reencontrar o sentido de ser amado sem o peso da celebridade, Marion tenta vestir a confiança necessária para ser vista não como alguém inferior, mas como igual. O amor que surge entre eles é, na verdade, um exercício de equilíbrio emocional e de autoconhecimento, em que ambos aprendem a se enxergar através do outro. Abel é mais ego, Marion é mais alma e essência. Enquanto Abel busca fama, sucesso e dinheiro. Marion quer apenas ser amada e ter seu food truck. Mundos e vontades completamente opostos, será que esse relacionamento tem futuro?
O filme ainda apresenta personagens secundários que servem como espelhos e contrapontos, questionando as escolhas dos protagonistas. O amigo e empresário de Abel, por exemplo, personifica a voz da razão e, ao mesmo tempo, o medo do fracasso. Ele simboliza o apego à imagem pública e ao sucesso, lembrando Abel dos riscos de se entregar ao amor. Essa figura representa, psicologicamente, o superego social, que tenta impor limites e proteger a reputação, mas que, paradoxalmente, impede o verdadeiro crescimento emocional. Já a empresária de Abel, alerta Marion que ela precisa arriscar e não deixar esse amor escapar pelo medo, insegurança ou autossabotagem, pois ela um dia também se apaixonou por alguém famoso, e deixou o amor de sua vida ir embora e nunca mais se perdoou por isso. A sua vida hoje é preenchida somente pelo trabalho incessante, pois sem ele, não há mais nada, que daria um sentido à sua vida. Foi o único amor que restou. Gostei do diálogo das duas.
Em suma, French Lover vai além de uma simples comédia romântica. Ao unir dois personagens de universos opostos, revela que a verdadeira transformação nasce do encontro com o outro, especialmente quando esse encontro nos obriga a olhar para dentro. Assim, o amor, mais do que um sentimento, surge como um processo de cura: a cura da solidão, da superficialidade e da falta de sentido, que tantas vezes acompanha a vida moderna. French Lover convida o espectador a compreender que o maior gesto de amor talvez seja aceitar-se e permitir-se ser amado, como realmente se é. A verdadeira alegria é aquela que vem da alma, e não da aprovação, das pessoas.
Assistam. Eu achei um filme muito sensível e interessante. Amei o jeito da Marion, enquanto ela é prática, madura e sagaz, Abel já é mais complicado e não tem muito jeito com a relação, querendo dificultar as coisas, entre eles, no dia a dia. Um ótimo filme para reflexão.



