“Agora minha vida está tranquila, mas foram anos e anos de tortura. Bastava minha mãe sair de casa para o show começar. Soco. Chute. Mão no pescoço até ficar sem ar. Gelo que queimava a pele sem pausa para minimizar os hematomas. Eu prometi pra mim mesmo nunca contar sobre o que se passava em casa para minha mãe e meu irmão, porque tinha medo de que eles acabassem indo para o mesmo lugar que eu quase ia todo dia.

Eu tentei contar uma vez, e foi nessa época que eu vi a morte de perto. Conseguimos fugir aos gritos para a casa da vizinha e jurei pra mim mesmo que protegeria minha família (principalmente minha mãe), ainda que isso me custasse a vida. Foi o que eu fiz até quase os catorze anos.

Aí, menina, eu fui crescendo. Crescendo com o corpo dolorido, com a alma em prantos. Não era só eu que apanhava em silêncio; a cabeça da minha mãe batendo com força contra a parede me mostrava que aquilo ali não poderia ser o mundo, não o meu, não o nosso, não o que as pessoas chamavam de mundo. O mundo em que o amor habitava.

Eu tinha fome e minha mãe, depressão. Mas nunca nos faltou esperança. Eu rezava toda noite, mais forte ainda quando ouvia o molho de chaves virando a fechadura e sentia o cheiro de álcool invadindo a casa. Era questão de minutos para o show de horror começar. E nem me pergunte o motivo, porque se não houvesse um, não era difícil que fosse inventado. O importante era o “para, para, para, para, para, para” acontecer. O importante era gritarmos e ninguém nos ajudar, ninguém para nos salvar, dizendo: “A gente precisa ir embora agora. Peguem apenas algumas roupas e vamos. Agora!”.

Meus lugares favoritos dessa época eram as viaturas de polícia, porque lá, sentado no banco de trás, com as luzes girando em silêncio enquanto pessoas de roupão nos olhavam fingindo preocupação, mas tomados de curiosidade, eu sabia que, mesmo que por poucos minutos, ali eu poderia respirar tranquilo.

Depois que eu comecei a ficar mais forte, a agressão se tornou mais elaborada, porque o foco não era mais o corpo, mas o que o sustentava. Eu ouvi de tudo. Passei anos sendo convencido de que não era capaz de nada, de que minha melhor fantasia era um saco de lixo, de que aos seis anos uma criança não pode comemorar por ter aprendido a amarrar o cadarço, pois ela não fez mais que sua obrigação.

E aí, você deve estar se perguntando: Onde andava a escrita nesse processo todo?

Ela existia no meu caderno de desenho. }

Aqueles que os pais compram para as crianças no primeiro ano da escola.

E por que será que ele ama tanto falar do amor?

Porque eu sempre acreditei nele, mesmo sabendo que o que eu vivenciava em casa não era ele. Eu sempre soube, apesar de toda a minha inexperiência; eu tinha certeza de que, genuinamente, aquilo não era amor. E, então, eu passei a persegui-lo. Passei a encontrá-lo em histórias, em olhares de casais na praça enquanto eu andava de mãos dadas com a minha mãe pelo centro, na esperança que minha avó carregava mesmo estando ao lado de um homem que não parecia amá-la de verdade, nos filmes, nos pais legais das minhas colegas, no futuro que eu desejava ter, só para comprovar que tudo aquilo que eu vivi foi um engano. E hoje eu posso dizer com certeza que, sim, menino Gui, o amor realmente existe.

Eu tinha duas opções: continuar sangrando pelo resto da vida e culpar o universo por isso ou dar um jeito de curar essas feridas. E foi na tentativa de transformar dor em força que eu descobri minha melhor habilidade.

Quando faltavam alguns dias para eu completar catorze anos, resolvi contar à minha mãe, na casa de minha avó, tudo o que eu vinha passando nos últimos anos. Após juntarmos todas as peças, numa conversa em meio a muito choro que invadiu a madrugada, no dia 20 de outubro — dia do meu aniversário — fugimos de casa. E aquele foi o melhor presente de aniversário da minha vida, porque foi ali que eu conheci e senti realmente o que era a liberdade. Foram mais uns dois anos de perseguição, delegacia, mas o conhecimento foi a nossa principal arma de defesa. A ignorância nos manteve em cativeiro por muito tempo, mas a ajuda dos amigos e a vontade de retomarmos o poder das nossas vidas nos deu força para criarmos a nossa própria fortaleza pessoal.

Não foi fácil, viu? Nada fácil.

Mas eu te confesso que sou grato. Não pela experiência, jamais pelo agressor, mas pelo que consegui tirar de toda essa situação.

É por isso que eu amo falar de amor, porque, além de ele ser o sentimento mais poderoso do mundo, ele salva e transforma. E não tô falando do amor que a gente está acostumado a associar, o romântico, mas o amor por si próprio, pelo respeito às nossas cicatrizes, pelo modo como a gente conduz a vida e pelo quanto se esforça para tornar o mundo cada vez melhor.

Talvez, minha querida, se não fosse tudo isso, eu não sei se hoje teríamos este encontro.

Então, a mensagem que eu quero deixar é: não tenha medo da dor. Há sempre um jeito de encontrarmos a cura para ela. É nela que nos transformamos.

MOMENTO PAUSA
PARA RESPIRAR

Bom, agora que já sabe como cheguei até aqui, vou compartilhar contigo o que me ajudou a me reconhecer como o amor da minha vida.

Como você deve imaginar, foram anos de terapia para que eu deixasse de achar que eu não poderia ser amado. E esse processo todo foi horrível. Pois, durante anos, eu insisti em ter atitudes inconscientes nos meus namoros, tentando fazer com que o sucesso de cada uma das relações significasse que eu “estava livre da maldição da família”, a de que eu ficaria para sempre sozinho.

Nunca houve maldição, mas o modo como eu conduzia os meus relacionamentos, sempre baseado nas internalizações e crenças que acabei adotando na minha infância, fazia com que eu ficasse cada vez mais frustrado. Aquelas eram atitudes inconscientes, dificilmente os términos eram esclarecidos, e logo o ciclo recomeçava.

Eu tinha a esperança de que alguém iria me salvar. Me salvar do tédio, suprir tudo o que faltava em mim e me salvar da torre da rejeição. Só assim poderíamos protagonizar uma história como as que eu gostava tanto de ler e assistir.

Demorou para eu perceber que o amor do outro não nos salva. Nós que somos responsáveis por nossa salvação diária.

Foram inúmeros embustes. Vários caras que não tinham nada a ver comigo, pelo menos energeticamente. Demorou para eu começar a perceber que havia algo errado. E aí, como toda bomba, eu só fui aprender no grito da decepção. Doeu pra caramba, somou um mês de cama com muita Marília Mendonça, comida congelada, para, finalmente, eu nascer de novo. Agora mais pleno do que nunca.

E o processo todo foi assim…

I° PASSO: A IMERSÃO
EM SI MESMA

Vá para seu quarto ou para algum canto calmo e tranquilo, em que você não será interrompida.

Olhe para dentro de si mesma e respire fundo. O que você sente?

Mergulhe no seu interior sem julgamentos, pergunte-se quem você é realmente. Não o você da identidade, do Facebook, mas a pessoa que só você conhece e que talvez ainda não conseguiu encontrar espaço para aflorar. Busque sua identidade interior, ouça os gritos internos, as vontades que estão por baixo das camadas do anseio de seus familiares e amigos.

Quem é você?
Respire.
Você está se ouvindo?
Você está pronta para nascer de novo.
Pronta para ser o que quiser.
Sinta-se.
Você está pronta para se libertar.
Você está pronta para se curar.
Você está pronta para andar com leveza de novo.
Acenda um incenso ou algo cheiroso na sua casa.
A energia já mudou, é outra.
Você está pronta para a mudança.

2° PASSO ONDE DÓI?
VAMOS TRATAR DESSAS FERIDAS

Como você está se sentindo?
Você precisa continuar se escutando.
Mas o processo agora é diferente do anterior.
É mais ou menos como ir ao médico para ser examinado. Você precisa sentir e reconhecer as dores mais latentes.
ONDE DÓI?
O QUE MAIS DÓI?
Aquele fdp que te deixou mesmo prometendo que vocês seriam amigos até o fim da vida? O excesso de ciúmes que faz bambear seu salto? A falta de coragem de pegar a direção sozinha? Ou é sua família que te coloca mais e mais para baixo, mesmo você sabendo que existe amor em casa?
Depois que você descobrir o que é preciso tratar, é importante procurar ajuda.
Eu, primeiramente, busquei o auxílio de um psicólogo.
Foi um ano de sessões em que eu buscava entender a mim mesmo e toda a relação que eu tinha com as pessoas mais próximas de mim.
Depois conheci um inscrito, em um dos cafés, terapeuta holístico, e consegui me libertar de tudo o que tinha vontade.
O ThetaHealing, a cura energética, foi meu presente do universo.
Quebrei crenças.
Me despedi das culpas.
Ganhei a oportunidade de experimentar a verdadeira sensação de ser amado pela visão do criador.
Gratidão, Thiago Fonseca.
Você pode fazer suas escolhas dentre as inúmeras possibilidades de ajuda. Essas foram as minhas.
Independentemente de como for e com quem for, é fundamental dividir o fardo e pedir socorro.
Nem sempre a gente consegue passar por tudo sozinhos. E não tem problema nenhum nisso...”

Extraído do Livro: ''Seja O Amor  da Sua Vida'', de Guilherme Pinto